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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-04-20

POLUIÇÕES 1978

1-3- 78-04-20-ie-bd> = bibliografia doméstica- scan- domingo, 17 de Novembro de 2002-no rescaldo do gonçalvismo

ÀS POLUIÇÕES DO ANALFABETISMO(*)

[20-Abril-1978] - Finalmente - diz-se! - a nossa Imprensa progressista fala de Ecologia, com direito a manchete de 1ª página. Mas qual Ecologia?
E de que maneira? Com que fim e com que sofismas? Representando que rábula? A partir de que pressupostos? Com que jogo(partidário) escondido na manga do «à la page» e do «demier cri»? Em obediência a que vozes e palavras de ordem?
O truque usado normalmente é a retórica da poluição e a (consequente) demagogia da antipoluição. Excelente truque que dá cama para os trusts das indústrias de antipoluentes confortavelmente se deitarem.
Não têm conta os discursos contra a poluição produzidos pelos arautos dessas super-indústrias, multinacionais superpoluidoras que se infiltram nos mass media, hipertrofiando até ao ridículo o sintoma, unicamente o sintoma, meramente o sintoma do fumo, do lixo, do escape, do derrame, sempre o acidental do desastre («mais uma maré negra!» - exclamam), sempre o superficial da poluição, do esgoto, do efluente.
Esta retórica da poluição seguida da demagogia antipoluição, vê-se, assim, protegida pelas Shell e pelas Mobil ainda que a prosa «muito preocupada com a defesa do ambiento» surja em semanários ditos socialistas e nem só. Progressistas, tout court.

A ECOLOGIA SERVE PARA TUDO

Se até há pouco tempo a Imprensa bem pensante e pluralista da nossa terra mantinha sistemático e prudente silêncio sobre os temas ecológico, não significa que o actual deboche de alguns semanários, tenha modificado algo no fundo da questão
Se Ecologia serve para tudo - como dizia André Breton da Literatura - basta colar o rótulo e meter no frasco toda a berundanga, desde antipoluição até gráficos do senhor Odun, desde museologia da Natureza, inspirada no senhor Jean Dorst até ao ecoreformismo de Barbara Ward, Michel de Rosnay, Dubos, Dumont e ao ecorevisionismo dos senhores Biolat.
Cada um tem a sua ecologia de estimação e eu sustenho a minha. É dela que posso falar.
A minha Ecologia não tem nada a ver com a daqueles senhores (e outros) universitários todos, ondenadores do território, tecnocratas competentes, funcionários ao serviço do sistema.
Também aqui a confusão reina.
Fernanda Lopes Cardoso escrevia no «Extra», há dias, um artigo sobre Ecologia e Sistema, dando a esta última palavra uma das suas possíveis conotações, a de sistema capitalista
Para. uma Ecologia Radical de Esquerda (ERE) o sistema capitalista é, evidentemente, réu neste tribunal da Natureza, dada a esplêndida razia a que tem procedido com o amen de toda a canzoada tecnocrática. Mas esta canzoada insere a sua estratégia em fontes ideológicas que vão fundo, à Raiz.
O sistema ao qual se opõe o Ecossistema, inclui capitalismo e sua pilhagem desenfreada, vampiresca, truculenta e sangrenta mas a Ecologia vai mais além de uma luta anti-capitalista, antimonopolista e anti-imperialista. Os ecologistas têm que ser o Terceiro Mundo de todo o Imperialismo Cultural.
Esta minha Ecologia de estimação, insere-se numa linha de revolta total em que até podem ser pontos de referência Camus e alguns existencialistas, Artaud e alguns surrealistas, Samuel Beckett e alguns niilistas, Stirner e alguns anarquistas, Lanza del Vasto, Gandhi e alguns não-violentos, mas também a linha ininterrupta das tradições populares e da ciência iniciática (feiticeiras, alquimia, cabala, yoga, tao, zen) assassinada pelo imperialismo ideológico, de que é hoje vanguarda a Universidade de Vincennes e as cá do burgo.
Definir Ecologia com raízes na Ciência Original - esmagada pela Ciência Ordinária, hoje imperialmente dominante - é necessário para rechaçar os que nos acusam de regresso às cavernas. Nas cavernas estamos nós e foi o troglodita do tecnocrata (incluindo o tecnocrata do Ambiente) que cá nos meteu.
A poluição e outros maus cheiros tiveram esse único mérito: acordar-nos para a consciência de que temos vivido numa caverna com o nome pomposo de civilização ocidental; teve o mérito de tornar sensível aos mais insensíveis aquilo que já era, para os hiper-sensíveis, óbvio desde há séculos, o canibalismo estrutural desta civilização cancerosa que se arroga a liderança de todas as outras (agora também quer mandar nas extraterrestres), mas que apenas se tem destacado das outras pela inequívoca vocação etnocida, matando tudo o que seja CIVILIZAÇÃO, tudo o que seja vida, tudo o que mexe, como os bombardeiros americanos no Vietname.
Como não suporta a vida, esta civilização mata, destroi, assassina. A matança da Natureza, claro, insere-se neste alegre ritual que não é de agora.
Portanto, esta minha Ecologia é Radical e de Esquerda

O CRIME NUCLEAR É MAIS UM

Numa perspectiva Radical de Esquerda, a frente antinuclear é das mais perigosas e equívocas. Primeiro porque o antinuclear não tem que ser necessariamente de Esquerda. Há monárquicos, amigos da Natureza (e da pândega), amigos da medicina e dos diabéticos pobres, amigos da Tecnocracia e dos Países de Leste, incluídos nessa frente.
Há tecnocratas competentes e anarcas. Há campistas e meninos de Deus: há socialistas, comunistas, CDS e PSD. Há Deus e o Diabo. Há cristãos, budistas, hinduístas, testemunhas de Jeová.
Que bela salada a frente anti-nuclear! Que bom para a conferência de Helsínquia! No campo da ciência neutra e branca como um copo de leite envenenado, abatem-se todas as diferenças.
Mas o que têm a ver estas flores com uma Ecologia Radical de Esquerda?
Para esta, o crime nuclear é mais um... Portanto só interessa como sintoma bombástico e paroxístico de um processo acelerado de autocorrosão, de uma «lógica» (do absurdo) que produz, com o mesmo desplante e carinho, antibióticos, carros de luxo, vacinas, talidomidas, cianeto de vinil, pesticidas, adubos, chumbo na gasolina, raios X.
As radiações que diariamente chovem sobre o cidadão comum, por exemplo (e para não sair da obsessão atómica) e a respectiva percentagem de cancros (dois por cada três cidadãos) é um dos milhares de assuntos diferidos que a frente anti-nuclear fez esquecer.
Já se pensou, por exemplo, quantos trabalhadores estão sujeitos a radiações, sem falar dos que, nas minas de urânio, contraem cancros pulmonares directos?
Não é do nuclear que temos de falar: ele é uma das mil causas do cancro epidémico. É do cancro, como pólo da convergência de mil e um crimes iguais ao nuclear, que teremos metodologicamente de partir para não fazer o jogo do sistema, que se pela por frentismos anti-.
Uma Ecologia Radical de Esquerda quer saber as raízes de uma desordem cultural (ideológica) que produz como suprema floração de tanta ciência, tanta energia, tanta indústria, tanta química, tanta universidade, tanto crescimento, tanta economia, tanto gadget, tanto pro-gresso lunar, tanto estruturalismo, esta tão bem planeada sociedade de dois cancerosos em cada três.
Tecnologia neutral? Ciência neutral? Energia neutral? A quantos mitos deu essa neutralidade origem e com que mitos nos continuam matando?
É esta civilização cancerosa que está em causa, de raiz. Não se trata de remendos, rolhas no escape, vacinas contra o vírus (inventado), bombas de cobalto (enquanto se protesta contra a de neutrões), maravilhas da técnica
Uma Ecologia Radical de Esquerda (ERE) não tem que demonstrar porque são as vacinas um crime Ou a energia nuclear. Ou os pesticidas Ou o eucalipto. Tudo isso decorre dedutivamente dos princípios em que se funda uma ERE e indutivamente de uma observação atenta e apaixonada do País em que vivemos.
É bem simples o que uma Ecologia de Esquerda quer: que a vida viva. Trata-se - só... - de remover os obstáculos que o impedem. A verdade vencerá. E a revolução também Mas convém dar uma ajuda.
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(*) Este texto de Afonso Cautela, com este título, foi publicado no semanário «Extra» (Lisboa), em 20-Abril-1978,numa página - «Meio Ambiente» - onde era também publicado o testemunho de Gonçalo Ribeiro Teles às questões colocadas pelo jornal. Afonso Cautela preferiu responder com um texto corrido.
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