UNIVERSO 1981
crise-2> - os dossiês do silêncio – ligações a : karma, dialéctica yin-yang, a parte maldita, tema da culpa, ecorealismo, yoga, contra a ciência ordinária
TOCANDO O CÉU(*)
Tudo está escrito
Tudo se liga a tudo
Todo o verso tem um reverso
12/9/1981 - A frenética destruição que se verifica e se torna, dia a dia, palpável , mesmo aos mais distraídos e hedonistas;
a crise que fecha cada vez mais o futuro das pessoas num beco sem saída, sem oxigénio, sem clorofila, sem água, sem vida, sem esperança, sem futuro;
a desolação de "terra queimada" - em sentido estrito e em sentido lato ;
a avassaladora mediocridade dos plásticos e dos sintéticos, das nitreiras e dos rios-canos de esgoto a céu descoberto;
o abandono e o desprezo implícito, o endurecimento nas relações entre as pessoas;
a hipocrisia das palavras "fraternais" em boca de gente que sabemos só conhecer o ódio, a vingança, o terror, a confusão, o caos, a escalada de morte, o ciclo vicioso da destruição, o beco sem saída de um auto-fagismo canibalesco;
enfim, tudo o que compõe a crise ou angústia do nosso tempo, tudo isso talvez só tenha um sentido dramático para quem esteja muito apegado à matéria.
Tudo isso se deveria transmutar em motivo de júbilo, se não tivéssemos perdido o sentido religioso da vida. Se a nossa concepção do Mundo não fosse - como se costuma dizer - materialista.
Se a nossa fé se tivesse situado num mundo não corruptível, não nos daria tristeza verificar a generalizada corrupção que o mina.
Se as nossas fés num mundo de coisas relativas, fosse a Fé, só poderíamos entender o grande rio de morte, medo, merda, miséria, violência, terror, o grande caos, a grande catástrofe como a sólida prova de um Mundo que forçosamente se move em outras ondas e noutros níveis de matéria não corruptíveis.
Se pudéssemos ver a catástrofe ecológica como a reconfirmação da Ordem transcendente que violámos, como a reafirmação de uma Fé que está para lá da Natureza, do Mundo, do Ciclo das Reincarnações, do Bem e do Mal, da Morte e da Vida, do Dualismo e do Sofrimento, então a catástrofe ecológica, a crise ecológica, os becos sem saída, os cercos irreversíveis, a escalada, a apoteose de morte e mentira, teriam o supremo sentido da suprema lição que nos é dada no Grande Livro do universo para sabermos, in extremis, o Norte da Bússola.
A crise, no fundo, é apenas porque estamos desorientados. Sem bússola. Sem Norte. Sem Fé.
A DIALÉTICA DAS ALTERNATIVAS - UMA DINÂMICA PARA SAIR DO ATOLEIRO
Em termos profanos, a lei de causa e efeito é o que as tradições de todos os tempos sempre consideraram o karma ou implícita relação de causalidade entre tudo o que existe no universo.
"Tudo se liga a tudo" - proclamam modernamente os ecologistas.
Em termos de filosofia europeia, esse reconhecimento da trama ou rede universal recebeu, em certos momentos históricos, a designação de dialéctica. Mas o budismo Zen vulgarizou a dialéctica yin-yang em tempos muito remotos, e muito antes que a Europa descobrisse "ambos os lados da realidade".
Não há verso, sem reverso - sabia-se já no I King, e em todos os textos sagrados da antiguidade oriental.
Mas hoje, em 1981, saber-se-á que todo o verso tem um reverso?
Quando a poluição surge e todos se espantam, não será um primeiro sinal de que nunca se ignorou de maneira tão primária, como hoje, esse princípio universal e eterno de que "todo o verso tem um reverso"?
A tragédia do homem moderno, dito civilizado, é afinal a teimosia de ignorar a mais elementar das leis físicas: todo o efeito tem uma causa, todo o verso tem um reverso, tudo se liga a tudo.
Ecologista, neste sentido, será apenas o que aplica em todas as circunstâncias da realidade, a dialéctica yin-yang. Quer dizer, a dinâmica da realidade na sua totalidade.
Qualquer triunfalismo ou optimismo denuncia essa "ignorância" da dialéctica.
E todo o triunfalismo, optimismo ou moralismo só podem conduzir a um dogmatismo feroz.
A elasticidade do principio único - Yin - yang - é o contrário do rigidez dogmática.
Não ver que todo o processo de decadência é a outra face do que se designa por prosperidade, e que todos os retrocessos verificados nesta sociedade são o outro lado do Progresso, eis a cegueira mental mais trágica e penosa do nosso tempo. Cegueira que é total no tecnocrata de todas as tendências políticas, no tecno-burocrata ainda mais cerrada.
Ver claro é ver ambos os lados da realidade.
E saber que todo o vinho tem borras e que a ganância do consumo, motor das economias de mercado, tem o seu reverso em todas as doenças do consumo, e no espectáculo de morte e degradação que essas sociedades apresentam.
Nada acontece por acaso - é outra forma de traduzir o aforismo básico da dialéctica.
Mas toda a classe cientifica, técnica e política actua como se "tudo acontecesse por acaso" e como se o Mundo fosse um Caos de onde caíssem permanentemente do céu surpresas e mistérios, cuja causalidade o homem ignoraria. O homem tornou-se exactamente o senhor do Universo, quando religou ( o efeito à causa) , quando pensou, quando raciocinou, quando recusou a fatalidade. Quando deixou de atribuir a Deus o que era exactamente de sua culpa e responsabilidade. De sua causa.
Uma sociedade que hoje tudo atribui a falsas causas ou culpas, é a imagem da Decadência e do Obscurantismo.
Uma gripe atribuída a um vírus - é grotesco.
E a prostituição atribuída à malvadez ou imoralidade de certas mulheres é o supremo grotesco.
Mas toda a "ciência" hoje se manifesta nesta inversão de termos. Jamais indica a verdadeira causa , que é o verdadeiro culpado. A ciência vendeu-se. A ciência, essa sim, prostituiu-se. E, com ela, toda uma sociedade que se diz fundada na ciência.
Yoga ou religião significa este entendimento total da inter-relação de tudo a tudo.
Ecologismo que não faça o processo radical desta corrupção de base nos conceitos originais da verdade, só pode efectivamente concorrer para afundar na miséria, na morte, na merda e
na mentira um mundo que apenas quis ouvir e conhecer um dos lados da multiforme realidade. Quem apenas proclamou o principio do prazer, teria, tarde ou cedo, que saber (e pagar duro) que o reverso do prazer é a dor e o sofrimento. E vice-versa.
Compreender a dor e o prazer, com a mesma neutralidade e a mesma objectividade científica, é tudo o que se necessita para uma revolução cultural. Da qual o ecologismo é a chave.
A PONTE ENTRE O CAOS E A ORDEM (DO UNIVERSO)
Tal como os profetas o disseram, este é o tempo de Kali Yuga, a idade da confusão e do caos.
A tarefa do que chamamos ecologista seria, em grande parte, uma leitura possível desse caos e dessa confusão para tentar obter as possíveis saídas para ele.
Ecologismo seria, neste sentido, um diagnóstico, implicando um prognóstico e uma terapêutica, as quais no entanto não serão possíveis (como o provam as terapêuticas exlusivamente políticas ou económicas) sem um diagnóstico correcto e exacto.
O ecologismo reclama-se exactamente como o único diagnóstico correcto entre todos os que dizem "analisar a crise".
Se para muitos ecologistas, o yoga é a única prática viável e possível num mundo em derrocada, nesta Idade de Kali-Yuga, outros pensam que, enquanto estiverem no mundo, na rua, na cidade, enfim, na confusão e dentro do caos, podem acelerar o processo de evolução cósmica analisando a situação e desmontando os mecanismos de violência que impedem muitas pessoas, hoje, de chegar ao limiar da verdade. Quer dizer: o Yoga Total, a Tradição, a Ordem do Universo, a Dialéctica yin-yang.
O ecologismo é para esses que ainda estão com um pé no Caos, tentando fazer a ponte paraa ordem do Universo.
- - - - -
(*) Não tenho a certeza mas deve ter sido publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 13/2/1982
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TOCANDO O CÉU(*)
Tudo está escrito
Tudo se liga a tudo
Todo o verso tem um reverso
12/9/1981 - A frenética destruição que se verifica e se torna, dia a dia, palpável , mesmo aos mais distraídos e hedonistas;
a crise que fecha cada vez mais o futuro das pessoas num beco sem saída, sem oxigénio, sem clorofila, sem água, sem vida, sem esperança, sem futuro;
a desolação de "terra queimada" - em sentido estrito e em sentido lato ;
a avassaladora mediocridade dos plásticos e dos sintéticos, das nitreiras e dos rios-canos de esgoto a céu descoberto;
o abandono e o desprezo implícito, o endurecimento nas relações entre as pessoas;
a hipocrisia das palavras "fraternais" em boca de gente que sabemos só conhecer o ódio, a vingança, o terror, a confusão, o caos, a escalada de morte, o ciclo vicioso da destruição, o beco sem saída de um auto-fagismo canibalesco;
enfim, tudo o que compõe a crise ou angústia do nosso tempo, tudo isso talvez só tenha um sentido dramático para quem esteja muito apegado à matéria.
Tudo isso se deveria transmutar em motivo de júbilo, se não tivéssemos perdido o sentido religioso da vida. Se a nossa concepção do Mundo não fosse - como se costuma dizer - materialista.
Se a nossa fé se tivesse situado num mundo não corruptível, não nos daria tristeza verificar a generalizada corrupção que o mina.
Se as nossas fés num mundo de coisas relativas, fosse a Fé, só poderíamos entender o grande rio de morte, medo, merda, miséria, violência, terror, o grande caos, a grande catástrofe como a sólida prova de um Mundo que forçosamente se move em outras ondas e noutros níveis de matéria não corruptíveis.
Se pudéssemos ver a catástrofe ecológica como a reconfirmação da Ordem transcendente que violámos, como a reafirmação de uma Fé que está para lá da Natureza, do Mundo, do Ciclo das Reincarnações, do Bem e do Mal, da Morte e da Vida, do Dualismo e do Sofrimento, então a catástrofe ecológica, a crise ecológica, os becos sem saída, os cercos irreversíveis, a escalada, a apoteose de morte e mentira, teriam o supremo sentido da suprema lição que nos é dada no Grande Livro do universo para sabermos, in extremis, o Norte da Bússola.
A crise, no fundo, é apenas porque estamos desorientados. Sem bússola. Sem Norte. Sem Fé.
A DIALÉTICA DAS ALTERNATIVAS - UMA DINÂMICA PARA SAIR DO ATOLEIRO
Em termos profanos, a lei de causa e efeito é o que as tradições de todos os tempos sempre consideraram o karma ou implícita relação de causalidade entre tudo o que existe no universo.
"Tudo se liga a tudo" - proclamam modernamente os ecologistas.
Em termos de filosofia europeia, esse reconhecimento da trama ou rede universal recebeu, em certos momentos históricos, a designação de dialéctica. Mas o budismo Zen vulgarizou a dialéctica yin-yang em tempos muito remotos, e muito antes que a Europa descobrisse "ambos os lados da realidade".
Não há verso, sem reverso - sabia-se já no I King, e em todos os textos sagrados da antiguidade oriental.
Mas hoje, em 1981, saber-se-á que todo o verso tem um reverso?
Quando a poluição surge e todos se espantam, não será um primeiro sinal de que nunca se ignorou de maneira tão primária, como hoje, esse princípio universal e eterno de que "todo o verso tem um reverso"?
A tragédia do homem moderno, dito civilizado, é afinal a teimosia de ignorar a mais elementar das leis físicas: todo o efeito tem uma causa, todo o verso tem um reverso, tudo se liga a tudo.
Ecologista, neste sentido, será apenas o que aplica em todas as circunstâncias da realidade, a dialéctica yin-yang. Quer dizer, a dinâmica da realidade na sua totalidade.
Qualquer triunfalismo ou optimismo denuncia essa "ignorância" da dialéctica.
E todo o triunfalismo, optimismo ou moralismo só podem conduzir a um dogmatismo feroz.
A elasticidade do principio único - Yin - yang - é o contrário do rigidez dogmática.
Não ver que todo o processo de decadência é a outra face do que se designa por prosperidade, e que todos os retrocessos verificados nesta sociedade são o outro lado do Progresso, eis a cegueira mental mais trágica e penosa do nosso tempo. Cegueira que é total no tecnocrata de todas as tendências políticas, no tecno-burocrata ainda mais cerrada.
Ver claro é ver ambos os lados da realidade.
E saber que todo o vinho tem borras e que a ganância do consumo, motor das economias de mercado, tem o seu reverso em todas as doenças do consumo, e no espectáculo de morte e degradação que essas sociedades apresentam.
Nada acontece por acaso - é outra forma de traduzir o aforismo básico da dialéctica.
Mas toda a classe cientifica, técnica e política actua como se "tudo acontecesse por acaso" e como se o Mundo fosse um Caos de onde caíssem permanentemente do céu surpresas e mistérios, cuja causalidade o homem ignoraria. O homem tornou-se exactamente o senhor do Universo, quando religou ( o efeito à causa) , quando pensou, quando raciocinou, quando recusou a fatalidade. Quando deixou de atribuir a Deus o que era exactamente de sua culpa e responsabilidade. De sua causa.
Uma sociedade que hoje tudo atribui a falsas causas ou culpas, é a imagem da Decadência e do Obscurantismo.
Uma gripe atribuída a um vírus - é grotesco.
E a prostituição atribuída à malvadez ou imoralidade de certas mulheres é o supremo grotesco.
Mas toda a "ciência" hoje se manifesta nesta inversão de termos. Jamais indica a verdadeira causa , que é o verdadeiro culpado. A ciência vendeu-se. A ciência, essa sim, prostituiu-se. E, com ela, toda uma sociedade que se diz fundada na ciência.
Yoga ou religião significa este entendimento total da inter-relação de tudo a tudo.
Ecologismo que não faça o processo radical desta corrupção de base nos conceitos originais da verdade, só pode efectivamente concorrer para afundar na miséria, na morte, na merda e
na mentira um mundo que apenas quis ouvir e conhecer um dos lados da multiforme realidade. Quem apenas proclamou o principio do prazer, teria, tarde ou cedo, que saber (e pagar duro) que o reverso do prazer é a dor e o sofrimento. E vice-versa.
Compreender a dor e o prazer, com a mesma neutralidade e a mesma objectividade científica, é tudo o que se necessita para uma revolução cultural. Da qual o ecologismo é a chave.
A PONTE ENTRE O CAOS E A ORDEM (DO UNIVERSO)
Tal como os profetas o disseram, este é o tempo de Kali Yuga, a idade da confusão e do caos.
A tarefa do que chamamos ecologista seria, em grande parte, uma leitura possível desse caos e dessa confusão para tentar obter as possíveis saídas para ele.
Ecologismo seria, neste sentido, um diagnóstico, implicando um prognóstico e uma terapêutica, as quais no entanto não serão possíveis (como o provam as terapêuticas exlusivamente políticas ou económicas) sem um diagnóstico correcto e exacto.
O ecologismo reclama-se exactamente como o único diagnóstico correcto entre todos os que dizem "analisar a crise".
Se para muitos ecologistas, o yoga é a única prática viável e possível num mundo em derrocada, nesta Idade de Kali-Yuga, outros pensam que, enquanto estiverem no mundo, na rua, na cidade, enfim, na confusão e dentro do caos, podem acelerar o processo de evolução cósmica analisando a situação e desmontando os mecanismos de violência que impedem muitas pessoas, hoje, de chegar ao limiar da verdade. Quer dizer: o Yoga Total, a Tradição, a Ordem do Universo, a Dialéctica yin-yang.
O ecologismo é para esses que ainda estão com um pé no Caos, tentando fazer a ponte paraa ordem do Universo.
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(*) Não tenho a certeza mas deve ter sido publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 13/2/1982
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