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2006-09-04

CÓLERA 1974

colera-1> 1974 - o livro negro da medicina - ecodiagnóstico

5-8-1974

ONDE A VACINA REFORÇA A EXPLORAÇÃO DO HOMEM PELO HOMEM - ECOLOGIA DA CÓLERA:
UMA DOENÇA TÍPICA DO AMBIENTE SANITÁRIO

PALAVRAS-CHAVE:
Água dos poços
Ciclo da água
Fotosensibilidade
Insalubridade
Promiscuidade de habitações
Recolha de lixos
Sulfamida Fanazil
Tétano
Tosse convulsa
Varíola
Vitiligo

5/8/1974 +- Doença típica do meio ambiente e ,ao mesmo tempo, aquela em que a exploração do homem pelo homem se torna directamente palpável, sensível e até espectacular (quando irrompe o surto endémico), a cólera tem feito, há anos, em Portugal, algumas vítimas entre as classes exploradas e tem sido, entre a burguesia, motivo de colóquios, orações, artigos, simpósios, supositórios, caridade. E vacinas.
Embora a medicina saiba os perigosos efeitos da sulfamida Fanazil - além da sua inoperância enquanto preventivo da cólera - não deixou a Direcção Geral de Saúde de aplicar, em larga escala, antes e depois do 25 de Abril, sobre o povo essa sulfamida, ainda por cima para dar uma demagógica justificação de que estava fazendo alguma coisa, de que estava agindo, de que estava a intervir.
Durante décadas, porém, a Direcção Geral de Saúde deixou que a situação sanitária se degradasse até permitir o fácil desenvolvimento da cólera. É a mesma Direcção geral de Saúde que vai injectar Fanazil ou fazer ingerir comprimidos e supositórios, ou receitar pinguinhos de lixívia.
Entretanto, o povo irá sendo injectado em massa com essa sulfamida com efeitos secundários perigosos conhecidos: de excreção lenta, pois a sua circulação no sangue vai até 15 dias, o fanazil é contra-indicado devido aos efeitos de fotosensibilidade que provoca e, de um modo geral, aos efeitos de hipersensibilidade. Entre os efeitos de fotosensibilidade, contam-se doenças de pele extremamente graves.
Data de então, um fenómeno visível em Portugal, principalmente nos praias onde os corpos se exibem sem vestuário: manchas claras cor de café com leite são frequentes de ver em pessoas de todas as idades, possivelmente injectadas da sulfamida Fanazil ou de outro medicamento igualmente com efeitos de fotosensibilidade.
Num artigo publicado no jornal «O Século» , em 5 de Agosto de 1974, assinalava-se o carácter sócio-ambiental (quer dizer, ecológico) que tem a cólera.
É desse artigo que transcrevemos algumas passagens:
«Enquanto esgotos e lixos estiverem em promiscuidade com habitações, enquanto nos bairros da lata as barracas não tiverem água canalizada, nem os esgotos ligação ao colector central, nem recolha de lixos, e a água dos poços, que porventura existam, estiver inquinada - o surto de cólera será muito difícil de erradicar. Diremos que continua a existir, latente ou expresso, mas existe.
«Enquanto a água escassear por imprevidência dos serviços público, que a isso deviam ter providenciado a seu tempo, e for duvidosa ou impossível a higiene primária das mãos e dos objectos utilizados para confeccionar alimentos, não tenhamos ilusões de que a cólera (e nem só a cólera) continuará a grassar.
«E se o Inverno ou qualquer outro factor, vier atenuá-la, não tenhamos ilusões porque voltará a recrudescer, quando o tempo quente regressar e o mínimo foco surgir.
« Por isso se diz e com razão que o melhor ataque à cólera é de ordem sócio-económica. E que uma democracia que sirva o povo, os interesses do povo, deverá preparar as condições mínimas para que nem a cólera, nem outras endemias proliferem. O resto são tentativas de remédio(remedeio), caríssimas em gente e em dinheiro mas que pouco ou nada resolvem porque não solucionam de raiz o problema.
« Evitar, talvez, alguns mortos, eis o que a profilaxia química da cólera pode conseguir, ou talvez nem isso.
«No presente surto, já é tarde para o uso da vacina. De uma maneira geral, aliás, a vacina anticólera raramente se justifica, pois, ao contrário da varíola, do tétano ou da tosse convulsa, só cerca de 40% dos vacinados ficam imunes; com as agravantes de uma campanha de vacinação: primeiro, gerar o pânico, perfeitamente escusado; segundo, a pessoa vacinada fica tranquila, comendo de tudo e sem as precauções que de outra forma talvez tomasse; terceiro, em caso de epidemia, em que o surto se vai arrastar por tempo indefinido, teria de se vacinar de 4 em 4 meses o que, atendendo à falta de pessoal e a outras restrições conhecidas, é impraticável.
«A vacinação, de facto, não resulta: excepto em grupos especiais, onde seja indispensável manter mobilizados indivíduos que actuem no meio da cólera - bombeiros, pessoal hospitalar, exército - as vantagens não compensam os custos.»