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2006-09-11

TABACO 1979

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Publicado in «Portugal Hoje» (11/9/1979)

TABACAR OU NÃO TABACAR:HAMLÉTICO DILEMA DA VIDA PORTUGUESA


OS MALEFÍCIOS DA OMS

11/9/1979 - A Organização Mundial de Saúde insiste em avisar a humanidade contra os perigos do tabaco. Desdobra-se em revistas, folhetos, autocolantes, cartazes, em todos os idiomas do mundo, incluindo o tabaquês.
Nunca ninguém a ouviu avisar a humanidade do perigo iatrogénico, por exemplo, sobre os efeitos iatrogénicos dos medicamentos, nomeadamente cortisona, pílula-cor-de-rosa, antibióticos, soro e tantos outros que, como se sabe (sem precisar de ir a Genebra) provocam doenças piores do que aquelas que dizem curar.
Mas contra os perigos e malefícios do tabaco, bode expiatório para todo o serviço, todos os dias nos avisa. Maternalmente. Desinteresseiramente. Para bem do nosso corpo e da nossa alma.

VIVA O TABACO!

A Unidade Colectiva de Produção «12 de Maio», próximo de Montargil, no Alto Alentejo, está a dedicar-se à cultura do tabaco.
Segundo um dos seus dirigentes declarou à agência ANOP, «tendo em vista o alargamento desta cultura, que a direcção da UCP considera até agora positiva e promissora, foram há pouco tempo concluídos seis secadores para tabaco e um armazém de grandes dimensões para a sua recolha.»
Segundo o «Jornal Novo» que publicou a notícia (11/9/1979), «o custo destes melhoramentos agora concluídos atingiu vários milhares de contos.»

ABAIXO O TABACO!

«O Tabaco ou a Saúde» foi o tema proposto à reflexão dos homens pela Organização Mundial de Saúde (O.M.S.) para o dia 7 de Abril de 1980.
Nesse sentido e secundando um pedido do director da mesma organização mundial de caridade, foi criada, em Portugal, uma comissão nacional para estudar a melhor forma de dar corpo a um plano nacional de luta contra o tabaco.
O presidente da referida comissão e director do Gabinete de Estudos e Planeamento da Secretaria de Estado da Saúde, Prof. Cayolla da Mota, expôs as linhas gerais do programa que se pretende realizar.
O tabagismo está a revestir aspectos preocupantes pois, como afirmou o Prof. Cayolla da Mota, julga-se que seja esta a principal causa de incidência dos cancros do pulmão.
Segundo dados fornecidos pelo Prof. Cayolla da Mota, no ano de 1960 consumiram-se, em Portugal, 7.104 toneladas de tabaco e, em 1975, 12.482 (Jornais do dia 22/11/1979).

CANCRO E TABACO: AUMENTO DA PRODUÇÃO

Apesar de todos os esforços até agora feitos para reduzir o consumo do tabaco, de 1970 a 1976, a produção mundial do tabaco aumentou 20%, segundo a mensagem da O.M.S., veiculada pela Agência noticiosa ANOP ( 29/11/1979).
Em alguns países, a produção e venda do tabaco é um monopólio do Estado, que retira daí chorudos lucros mas, segundo os técnicos de saúde, esses lucros são apenas aparentes.
Se o Estado contabilizar todo o dinheiro que gasta no tratamento de doenças provocadas pelo tabaco bem como os prejuízos causados à economia pelo absentismo dos trabalhadores afectados, o balanço será altamente negativo.
As estatísticas da OMS mostram que 90 por cento das mortes devidas a cancro do pulmão, 25 por cento dos óbitos por deficiência cardio-vascular e 75 por cento das mortes atribuídas à bronquite crónica estão estão directamente ligadas ao consumo do tabaco. Isso significa que pelo menos um milhão de pessoas morre em cada ano por causa do fumo.»

CANCRO OU TABACO

A contradição ainda não tem vacina nem está catalogada entre as doenças infecto-contagiosas, mas não deixa de continuar a proliferar, como um vírus, no discurso oficial sobre doença e saúde.
Por um lado, no copioso noticiário de imprensa e sempre com a ajuda da O.M.S. «tabaco ser pior do que o Khomeiny».
Por outro lado e acompanhado de fotos ilustrativas, vamos começar a produzir tabaco em Portugal (nas unidades colectivas de produção) e em breve poderemos ser autosuficientes nesta fabricazinha caseira de cancros (segundo os peritos da mesma O.M.S.) .
Por outro lado ainda, estamos, por toda a parte, suficientemente avisados pela Comissão Nacional do Ambiente para não fumar nos recintos desportivos fechados.
Por outro lado ainda, o tabaco é o fim da macacada como agente cancerígeno, logo a seguir à hóstia mas, por outro, o tabaco é a nossa safa para o Mercado Comum, se nos quisermos apresentar com uma produção que se veja e os europeus desejem.
Consta que o plano do Mercado Comum, logo apoiado pelas UCP's, é importarmos totalmente trigo e milho para totalmente produzirmos tabaco, e beterraba para açucarar o chá dos europeus que se viciaram nisso por causa da senhora Thatcher.

Eu, fumador inveterado leitor de jornais, fico pior do que o Hamlet suspenso deste dilema hamlético, sem saber se hei-de debulhar a tia ou se hei-de malhar no pai: fumar ou não fumar, tabacar ou não tabacar, it is the question. Neste balanço e balancé entre ser e não ser, entre cancro e tabaco, quem nos ajuda a escolher?
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