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2006-09-12

COEXISTÊNCIA 1987

crise-5> os dossiês do silêncio – publicado ac 5 estrelas – inventários – listas negras

MISTÉRIOS DA COEXISTÊNCIA (*)

12/9/1987 - Serão as constantes declarações de hostilidade entre superpotências atómicas a fachada de uma íntima e estreita amizade de fundo entre blocos hegemónicos que no essencial se entendem e só no acessório se fingem desentendidos?
Um notável artigo intitulado " Droga S.A.R.L.." , da autoria de Vítor Cunha Rego, no jornal "O Semanário" ( 29 de Agosto de 1987) vem levantar hipóteses que um ou dois franco-atiradores timidamente têm ousado propor em todos estes vinte e tal anos de guerra mundial contra a espécie humana e o Planeta Terra, guerra chamada "coexistência pacífica".
Puxam-se a seguir algumas pontas da mesma meada que Vítor Cunha Rego, no seu artigo , coligiu para os investigadores do futuro averiguarem. Caso haja futuro... e bons apreciadores, como nós, de romances de mistério e "politic-fiction".

CRISE PLANETÁRIA FABRICADA

Camuflada pelas guerras sectoriais e parciais - as que aparecem nas primeiras páginas e são filmadas pela "Eurovisão" - a guerra total continua a processar-se a bom ritmo nas várias frentes da guerra ecológica, essa desconhecida: destruição de climas, destruição dos últimos pulmões verdes como a Amazónia, destruição da camada de ozono da alta atmosfera, destruição de populações por sismos produzidos com rebentamentos subterrâneos de bombas termonucleares, destruição da vida oceânica por naufrágio propositado de cargueiros com produtos tóxicos, radioactivos, plutónio, destruição da cobertura vegetal pelas chuvas ácidas, destruição de fauna e flora por empobrecimento genético de sementes, destruição do ciclo hídrico (ou desertificação provocada por eucaliptações, por exemplo), destruição e ruptura do equilíbrio térmico pelo aumento de gás carbónico(CO2) na atmosfera e pela delapidação da biosfera vegetal somada ao incremento da poluição industrial, destruição do indivíduo pela droga e todas as alienações psico-tóxicas ou psicotrópicas, etc, etc.
Em todas estas proezas contra o Planeta e contra a Humanidade inocente (palavra usada por Vítor Cunha Rego, no seu artigo) que o habita , e que de guerras ecológicas nada percebe, é evidente como as duas grandes superpotências não só colaboram (fingindo que se esgatanham) como estreitam as mãos enquanto as esfregam de contentes.

CENAS CHOCANTES

A conivência propiciada por uma proclamada, já lá vai o tempo, "coexistência pacífica" entre o Bloco de Leste e o Bloco capitalista, quase nunca surge explícita e de contornos suficientemente nítidos para se demarcar da conveniência.
Os pontos ou projectos em que americanos e soviéticos se encontram e confraternizam (quase todos com raiz na indústria nuclear dita pacífica) têm uma especial tendência para escapar aos observadores que produzem a actualidade noticiosa.
Esporádica e desenfastiada, de modo a poder passar como rotina sem importância, a notícia do bom entendimento entre as duas superpotências surge quase sempre em pé de página, disfarçada no meio dos grandes, negros e pesados títulos que – esses sim! – enfatizam a hostilidade e incendeiam as ditas relações Leste-Oeste.
Há mesmo quem diga para os seus botões: se não houvesse esta hostilidade, ela tinha que se inventar, tanto jeito faz a ambas as partes...
Embora narcotizado por uma rotina noticiosa assim engendrada e pré-estabelecida, o observador imparcial, que não vai em histórias da Carochinha, não pode no entanto deixar de notar que a contradição é permanente e que algumas coisas chocam entre si, de maneira estrondosa, produzindo o que, por definição, se chamam as cenas eventualmente chocantes da actualidade planetária.

COOPERAÇÃO TECNOLÓGICA

Americanos e soviéticos cooperam, por exemplo, na corrida espacial, umas vezes por competição outras vezes por cooperação, nas mega-engenharias megalómanas de mudar rios, correntes, chuvas, tufões, climas e etc, no "laboratório" das experiências sísmico-nucleares (bombas subterrâneas que rebentam para gastar o plutónio excedentário e produzir um bom excedente de sismos além daqueles a que a humanidade já tinha direito), etc.
Cooperação científica e tecnológica é o eufemismo normalmente usado para designar aquilo que outrora se chamou "coexistência pacífica".
O facto de se ter varrido da actualidade noticiosa a expressão "coexistência pacífica" não significa que tivesse acabado ou que entrasse em declínio: significa que os serviços secretos de ambos os lados terão concordado em que era melhor fazê-la pela calada.
Se lermos bem nas entrelinhas do actual noticiário sobre a crise no Golfo, não sei se não ouviremos, nítido, este entrechocar de posições: ao mesmo tempo que, em primeiro plano, se acicata a psicose do medo relativamente à eventualidade de uma "generalização do conflito", pode perceber-se, num plano mais diluído que as duas grandes potências apenas se estão servindo de um louco para acertarem entre si agulhas e estratégias bem sizudas.

ESPERANÇA E DESESPERO

Se, por um lado, a crise planetária não faz propriamente prever futuros cor-de-rosa-e-que-cantam, a foto-montagem que aqui acabamos de esboçar abre, no entanto e por seu turno, uma esperança ainda que ténue: a não ser por um erro de computador, as duas superpotências não estão nada resolvidas a premir o botão de um afrontamento nuclear, em que as radiações, nada selectivas e sem espírito patriótico, atingiriam vítimas e carrascos por igual, beligerantes de um lado e de outro, mesmo ao nível das cúpulas das hierarquias.
Quer dizer, na grande pátria das radiações, não há vencidos nem vencedores, patrões nem empregados, desaparece a luta de classes e apanham todos por igual, reis e súbditos.
A coexistência disfarçada de cooperação tecnológica permite acreditar que o holocausto nuclear se encontra relativamente adiado, ainda que haja interesse em alimentar, pela mentira noticiosa, uma autêntica guerra de nervos, "guerra fria" chamada em tempos, "guerra psicológica como outros preferem chamar-lhe.
Mas com que intenção?- perguntarão os ingénuos.
A intenção , de facto, nunca foi clara mas há a suspeita de que, quando se lançam ondas gigantescas de alarmismo (vide sida) sobre a humanidade, é para fazer vender qualquer mercadoria.
Ainda que não fique clara desde logo a intenção da guerra fria (ou não convenha aclarar, por agora, não vão outra vez considerar esta crónica inimiga dos preservativos e liberalização da venda) é de prever que algum mercado lucra com ela.

AINDA A DROGA, SARL

Os temas hipotéticos levantados pelo importante artigo de Vítor Cunha Rego que começámos por citar, poderiam ser, parcialmente, uma resposta àquela pergunta que um ou dois franco-atiradores tem vindo a formular, há mais de quinze anos, ao abrigo de uma fachada - os movimentos ecologistas - e que levanta questões à partida tabu, proibidas ou censuradas .
Documentos datados e publicados em várias imprensas, avulsas, comprovam que a questão "guerra total" por trás das guerras sectoriais, já preocupava certos espíritos há bastantes anos.
Sob a aparência da "politic-fiction", o artigo "Droga S.A.R.L." levanta a questão de saber quem beneficia, em última instância, com a guerra de nervos, a guerra fria e a guerra em que a droga é um dos tentáculos, enquanto a guerra ecológica é um dos outros.
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(*) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 12/9/1987