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2006-07-16

REFORMISMO 1972

1-2- 72-07-16-ie> = ideia ecológica - quinta-feira, 5 de Dezembro de 2002-scan

O ESCAPE DO REFORMISMO(*)

16/Julho/1972 - Qualquer sistema do Sistema, por muito opressivo que se considere e deseje, por muito autoritário, já aprendeu que durará muito mais tempo se recorrer ao reformismo.
O reformismo foi a derradeira solução e saída que os regimes de Opressão encontraram para prolongar o mais tempo possível uma situação que de outra forma se veria em breve a braços com a revolta e a revolução
Daí que os Ralph Nader, na aparência indesejáveis (efectivamente o são para as empresas directamente alvejadas) sejam personalidades bastante desejáveis de um ângulo macropolítico, já que constituem polarizadores de massas e escapes por onde o descontentamento encontra oportunidade de se atenuar, abrandando uma pressão que se poderia tornar explosiva e politicamente perigosa.
Como tubo de escape, aliás, funcionam também as greves e manifestações de cartazes, assim como todas as medidas e diligências empreendidas pelos serviços no sentido de "melhorar o Mal.”
Qualquer mayor de qualquer cidade norte-americana já aprendeu que tem tudo a ganhar, se consentir em dar livre curso (escape) às platónicas manifestações de protesto ou aos Ralph Nader que pretendem denunciar abusos da industriocracia - continuando evidentemente a industriocracia a vigorar como pilar do Sistema. Como um sistema do Sistema.

VANTAGENS DO REFORMISMO

Em outros lugares, parece ainda não se ter aprendido as vantagens do reformismo. Quem quer que apele, apela em vão. O insuportável faz-se cada vez mais insuportável. Nada nem ninguém vem em socorro do munícipe, do cidadão, do utente, do eleitor, do consumidor, do homem da rua, do transeunte - sempre que, numa situação intolerável, ele tente, evidentemente, safar-se dela.
Ainda não se aprendeu, entre alguns distraídos, a melhorar o Mal. Motivo porque se deve responsabilizar a negligência de certos serviços por todas as revoltas e revoluções que, em outros países, deixaram de existir, porque se lhes deu tubo de escape nas medidas reformistas.
Pedras de toque para análise do reformismo: Asilos; Hospitais; Cirurgia das transplantações; Campanhas vacinatórias; Revoluções verdes; Ajudas ao Terceiro Mundo; Cooperação americano-soviético na técnica cirúrgica, espacial, nuclear, etc; Exames; Coexistência pacífica.

OUTROS LUGARES-COMUNS DO REFORMISMO

Arma imoral e desumana
Nova técnica estudada por cientista americano
Vacina revolucionária contra a gripe
Complicado processo com aparelho delicadíssimo
Acrescentou o eminente sábio
Graças à energia nuclear
Dinamizar a burocracia
Humanizar a forca
Melhorar a polícia
Melhorar a guerra
Melhorar a cadeira eléctrica
Melhorar a pena de morte Melhorar a tortura
Melhorar a prisão
Melhorar a prostituição
Melhorar a cegueira
Melhorar a censura

A terminologia denuncia a ideologia. Sempre. E no caso dos lugares-comuns reformistas, com abundância de provas.
A terminologia dos telegramas oriundos de agências é muito adequada. Vejamos exemplos:

"Bombardeamentos criminosos nos diques do Vietna
Pergunta: Mas haverá bombardeamentos que não são criminosos?

"Desumanas sevicias infligidas à vítima".
Pergunta: Mas haverá sevicias que não sejam desu manas?

"Morte súbita do motorista".
Pergunta: Mas haverá morte que não seja súbita? Haverá morte a prazo? (por acaso até há: as mortes por enxerto-transplantação são a prazo: logo o adjectivo "súbita" começa a ser adequado quando aplicado à morte de rotina, de que há cada vez mais e mais lentas).

"Senhorio desumano".
Pergunta: Mas haverá senhorios humanos?
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(*) Este texto de Afonso Cautela, a que não retiro hoje uma vírgula, foi publicado no livro edição do autor, «Contributo à Revolução Ecológica», Paço de Arcos, 1976
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