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2006-04-22

LIXO 1973

1-1-73-04-22-ie> = ideia ecológica - quinta-feira, 5 de Dezembro de 2002-scan

UM PROBLEMA DE LIXO(*)

(*) Este texto de Afonso Cautela, a que não retiro hoje uma vírgula, foi publicado no livro edição do autor, «Contributo à Revolução Ecológica», Paço de Arcos, 1976

22-Abril-1973 - Em Fevereiro de 1972 o Exército Americano tinha nos seus depósitos 9000 toneladas de herbicidas. Desde 1965 lançou sobre as florestas do Vietname 50 000 toneladas destes produtos químicos para arrasar toda a vegetação e mato que pudesse servir de esconderijos aos guerrilheiros.
Mas que fazer com esse resto de desfolhantes (ou desfoliantes), inservíveis para a agricultura e perigosos em tempo de paz? Onde encontrar uma lixeira adequada? A destruição química era demasiado cara. Queimá-los então num forno especial perto de Huston? O governador do Texas opôs-se por temor à contaminação do ar. Lançá-lo na boca de um vulcão... foi outra "solução" proposta.
Este problema de retrete teve um antecedente naquele barco que transportava gases venenosos do arsenal de Okinawa e que foi naufragado pelos americanos nas águas do oceano para enterrar no fundo o seu conteúdo mortal.
Hoje lançam-se também, encerrados em túneis de betão, os dejectos radioactivos provenientes da fabricação de bombas atómicas e das centrais de energia atómica.
Com o tempo, porém, os recipientes irão partir-se e os produtos radioactivos - que têm milhares de anos de "vida" - filtrar-se-ão para as algas e a fauna dos fundos marinhos. Diga-se para quem saiba que a radioactividade costuma ser mortal.
A solução proposta pela Aerospace Corporation dos Estados Unidos consistiria em depositar os dejectos radioactivos em depósitos especiais que seriam lançados ao espaço por meio de potentes foguetes atlas. Ali, desintegrados, iriam, no decurso da sua trajectória hiperbólica, depositar-se no Sol...
Destacar, de vez em quando, por amor à sensação, apenas uma parcela é injusto para as restantes. Sem noção de conjunto, os problemas de Ambiente tornam-se numa maneira assaz desportiva de brincar aos problemas.

Numa hierarquia de gravidade, evidentemente que antes da poluição biológica das Tágides, muitas outras (químicas) deverão colocar-se. O insólito não reside, pois, em ter lembrado esta, mas em se continuar esquecendo todas as outras, do Tejo ao Guadiana, do Vouga ao Sado, do ar às margarinas, dos pesticidas aos ácidos sulfúricos, do mercú rio ao cádmio, dos detergentes ao monóxido de carbono, dos plásticos aos óleos comestíveis, dos vinhos ao leite, do tráfego aos acidentes de tráfego, das endemias às epidemias, do stress citadino às piscinas com cloro, dos antibióticos no gado às hormonas nos frangos, dos arboricidas da Amadora aos fratricidas de Cascais, os rios mortos aos oceanos moribundos.
Qual a esquerda que dá importância à opressão praticada hoje pela indústria química para corrosão da resistência individual?
Aditivos, tóxicos, refinados, desmineralizantes, adubos, pesticidas, herbicidas, corantes, enfim, a química contra o corpo humano, que melhor programa, que melhor arma, que melhor mecanismo, que melhor pata repressora?
E da radioactividade quem fala?
E do óxido de carbono?
E do chumbo?
E do mercúrio?
E dos produtos farmacêuticos?
E da inaudita violência das vacinas e da cirurgia?
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(*) Este texto de Afonso Cautela, a que não retiro hoje uma vírgula, foi publicado no livro edição do autor, «Contributo à Revolução Ecológica», Paço de Arcos, 1976
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