BIOCÍDIO 1989
moda-> = diário de ideias
CAUSAS "NOBRES" OU "PERDIDAS"
9/Maio/1989 - Certas ideias, certas causas "nobres" ou "perdidas", não valem por si mas pela notoriedade das figuras que as defendem.
O cantor Sting, ao adoptar a defesa da causa amazónica, tornou-se matéria obrigatória, em reportagens a cores, dos magazines semanais.
Enquanto a causa do povo amazónico, vítima de Biocídio, foi perfilhada por anónimos ecologistas franco-atiradores, nunca conseguiu vencer a barreira dos 100 exemplares de tiragem, a que normalmente se reduzem os “fanzines'' subversivos, das lutas "underground" pela verdade.
A Medicina homeopática só deixou de ser uma forma empírica ou charlatanesca de curar (na acepção dos doutores alopáticos), quando se soube que Madre Teresa de Calcutá, Prémio Nobel da Paz, frequentou os remédios homeopáticos (pois se ela anda na Índia, onde a medicina ayurvédica nasceu), e que o Príncipe Carlos, marido da Lady Di, era adepto da homeopatia desde há muitos anos, embora na semi-clandestinidade, não fossem os diários sensacionalistas irem surpreendê-lo, um dia, com a boca na botija (quer dizer, com as gotas homeopáticas na algibeira do fraque).
Os produtos naturais deixam de ser uma mania de atrasados mentais, como o autor destas crónicas, só quando um semanário de grande circulação e credibilidade como o "Tal & Qual" lhe dedica sete páginas, sete, "sem gorduras, corantes e conservantes", em estilo descontraído de "blue-jeans", com o charme de um manequim de 20 anos, a Elisabete Bengo, a abençoar o discurso sobre macrobiótica, preferências alimentares mais naturais, formas vegetarianas de emagrecer e combater a celulite, etc
Os que, sempre com o ar de quem tem sempre razão, costumam troçar dos roedores de cenouras, só agora verificam, pela reportagem do “Tal & Qual" , como são "in" os hábitos até agora atribuídos a fanáticos dementes, atrasados mentais e maníacos praticantes da vida sã.
Brigitte Bardot deu um élan diferente à campanha conservacionista, em defesa das focas-bébé e dos ursos brancos, um crime Biocídio que, a seco e antes dos cabelos louros da Bardot, não colhia a indignação de grandes maiorias, nem sequer, quase, de minorias activistas.
A "má fama" da Macrobiótica é atenuada quando revistas ''up to date" como a "Cláudia" (Brasileira) anunciam que grandes artistas da telenovela se aguentam em forma, mediante uma prática que se "assemelha" àquele sistema alimentar, outrora condenado pela "Time" porque... provoca graves anemias, e anomalias no feto.
Quando se soube que Boy George "virava" budista da corrente tibetana, a juventude passou a olhar o "misticismo oriental" com olhos menos trocistas, aceitando, com menos desconfiança, certas caturrices do pai, que nos anos sessenta e setenta, no auge do rock duro, se convertera às altitudes geladas do Himalaia.
Jane Fonda prestigiou as "causas perdidas" em duas frentes: quando protagonizou o filme "O Síndroma da China" na sequência de posições públicas já assumidas de comprometimento no movimento antinuclear, e quando criou um método de exercício ginástico para manter a forma fisica.
Menos sorte teve a campanha sobre o método de emagrecimento Demy Roussos, que apanhou o cantor já no declive da decadência e sem jamais ter ficado provado, à opinião pública, como se emagrece daquela maneira... Nem sequer ficou provado se se tratava, neste caso, de uma "causa nobre".
AS MINORIAS EM MINORIA
Em teoria, as "minorias" têm os seus defensores nos humanitarismos religiosos: só alguns fanáticos estão sempre a ver "seitas" em tudo o que mexe.
Mas, na realidade, as "minorias" são sempre e à partida, suspeitas, para as instituições que temem a concorrência.
Na realidade e abstraindo as proclamações teóricas feitas em momentos solenes, as minorias étnicas, religiosas ou ideológicas, não têm uma vida pacífica e sempre que as instituições podem lançar sobre essas "minorias" o labéu ou anátema de "seita", fazem-no com peculiar ferocidade.
A obsequiosa atenção ao "natural" no semanário "Tal & Qual" ( ) , compreende-se melhor quando sabemos, pelo artigo publicado, que as lojas tipo "Nature" ou "Boticário" já conquistaram não só as Amoreiras (cúmulo do chiquérrimo), o que as promove ao nível de consideração que devem merecer-nos, mas clientes famosos como : Leonor Beleza, Nuno Abecassis Raul Solnado, Maria de Lurdes Pintasilgo, Ana Bola (nomes citados pelo "Tal & Qual").
Questão de moda, a causa das eco-alternativas é perfeitamente aceitável, desde que liofilizada do seu carácter subversivo da sociedade de consumo.
Mas mais nada do que uma moda para gente da moda! A sério e como ideologia, nunca! O edifício das Amoreiras vinha abaixo.
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CAUSAS "NOBRES" OU "PERDIDAS"
9/Maio/1989 - Certas ideias, certas causas "nobres" ou "perdidas", não valem por si mas pela notoriedade das figuras que as defendem.
O cantor Sting, ao adoptar a defesa da causa amazónica, tornou-se matéria obrigatória, em reportagens a cores, dos magazines semanais.
Enquanto a causa do povo amazónico, vítima de Biocídio, foi perfilhada por anónimos ecologistas franco-atiradores, nunca conseguiu vencer a barreira dos 100 exemplares de tiragem, a que normalmente se reduzem os “fanzines'' subversivos, das lutas "underground" pela verdade.
A Medicina homeopática só deixou de ser uma forma empírica ou charlatanesca de curar (na acepção dos doutores alopáticos), quando se soube que Madre Teresa de Calcutá, Prémio Nobel da Paz, frequentou os remédios homeopáticos (pois se ela anda na Índia, onde a medicina ayurvédica nasceu), e que o Príncipe Carlos, marido da Lady Di, era adepto da homeopatia desde há muitos anos, embora na semi-clandestinidade, não fossem os diários sensacionalistas irem surpreendê-lo, um dia, com a boca na botija (quer dizer, com as gotas homeopáticas na algibeira do fraque).
Os produtos naturais deixam de ser uma mania de atrasados mentais, como o autor destas crónicas, só quando um semanário de grande circulação e credibilidade como o "Tal & Qual" lhe dedica sete páginas, sete, "sem gorduras, corantes e conservantes", em estilo descontraído de "blue-jeans", com o charme de um manequim de 20 anos, a Elisabete Bengo, a abençoar o discurso sobre macrobiótica, preferências alimentares mais naturais, formas vegetarianas de emagrecer e combater a celulite, etc
Os que, sempre com o ar de quem tem sempre razão, costumam troçar dos roedores de cenouras, só agora verificam, pela reportagem do “Tal & Qual" , como são "in" os hábitos até agora atribuídos a fanáticos dementes, atrasados mentais e maníacos praticantes da vida sã.
Brigitte Bardot deu um élan diferente à campanha conservacionista, em defesa das focas-bébé e dos ursos brancos, um crime Biocídio que, a seco e antes dos cabelos louros da Bardot, não colhia a indignação de grandes maiorias, nem sequer, quase, de minorias activistas.
A "má fama" da Macrobiótica é atenuada quando revistas ''up to date" como a "Cláudia" (Brasileira) anunciam que grandes artistas da telenovela se aguentam em forma, mediante uma prática que se "assemelha" àquele sistema alimentar, outrora condenado pela "Time" porque... provoca graves anemias, e anomalias no feto.
Quando se soube que Boy George "virava" budista da corrente tibetana, a juventude passou a olhar o "misticismo oriental" com olhos menos trocistas, aceitando, com menos desconfiança, certas caturrices do pai, que nos anos sessenta e setenta, no auge do rock duro, se convertera às altitudes geladas do Himalaia.
Jane Fonda prestigiou as "causas perdidas" em duas frentes: quando protagonizou o filme "O Síndroma da China" na sequência de posições públicas já assumidas de comprometimento no movimento antinuclear, e quando criou um método de exercício ginástico para manter a forma fisica.
Menos sorte teve a campanha sobre o método de emagrecimento Demy Roussos, que apanhou o cantor já no declive da decadência e sem jamais ter ficado provado, à opinião pública, como se emagrece daquela maneira... Nem sequer ficou provado se se tratava, neste caso, de uma "causa nobre".
AS MINORIAS EM MINORIA
Em teoria, as "minorias" têm os seus defensores nos humanitarismos religiosos: só alguns fanáticos estão sempre a ver "seitas" em tudo o que mexe.
Mas, na realidade, as "minorias" são sempre e à partida, suspeitas, para as instituições que temem a concorrência.
Na realidade e abstraindo as proclamações teóricas feitas em momentos solenes, as minorias étnicas, religiosas ou ideológicas, não têm uma vida pacífica e sempre que as instituições podem lançar sobre essas "minorias" o labéu ou anátema de "seita", fazem-no com peculiar ferocidade.
A obsequiosa atenção ao "natural" no semanário "Tal & Qual" ( ) , compreende-se melhor quando sabemos, pelo artigo publicado, que as lojas tipo "Nature" ou "Boticário" já conquistaram não só as Amoreiras (cúmulo do chiquérrimo), o que as promove ao nível de consideração que devem merecer-nos, mas clientes famosos como : Leonor Beleza, Nuno Abecassis Raul Solnado, Maria de Lurdes Pintasilgo, Ana Bola (nomes citados pelo "Tal & Qual").
Questão de moda, a causa das eco-alternativas é perfeitamente aceitável, desde que liofilizada do seu carácter subversivo da sociedade de consumo.
Mas mais nada do que uma moda para gente da moda! A sério e como ideologia, nunca! O edifício das Amoreiras vinha abaixo.
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