ECOLOGIA HUMANA 1997
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DA HIGIENE CLÁSSICA À ECOLOGIA HUMANA: UMA LONGA JORNADA DE TRABALHO
3/3/1997 - 1 - Regra de ouro em Ecologia Humana é a observação.
Se há doenças, elas significam, com certeza, que alguma coisa no ambiente vai de molde a provocá- las, visto que não há efeito sem causa, como diria La Palice.
À luz da Ecologia Humana, a Higiene não pode acreditar em doenças sem causa ou de causa apenas desencadeante ou superficial.
A doença remete de imediato e necessariamente para uma análise ou observação do Ambiente, para um inventário das possíveis e prováveis causas.
É assim que a higiene se afasta cada vez mais de um realismo ecológico, na medida em que os factores causantes da doença, cada vez mais subtis, insidiosos e em maior número, são cada vez mais difíceis de captar e de identificar.
Basta citar as carpetes, o amianto de uso doméstico, o alumínio dos tachos, os detergentes, os medicamentos, os resíduos químicos nos produtos hortícolas e agrícolas, os conservantes e corantes químicos nos alimentos embalados, os refinados, para indicar alguns factores que passam tanto mas despercebidos quanto mais familiares e quotidianos são.
2 - O inventário de factores ou causas da doença torna-se hoje quase impossível de realizar e muito mais ainda de evocar a cada doença ou caso verificado.
Os desodorizantes químicos do ar provocam anemias.
Mas o chumbo da água dos canos também.
E o ar que se respira com óxido de carbono (mais chumbo) igualmente.
Há igualmente os medicamentos que podem determinar anemias ou leucemias; os contraceptivos femininos já foram acusados disso.
Difícil se torna, entre tantos factores causais possíveis, qual foi o determinante ; ou se foram alguns; ou mesmo se foram todos somados.
A roupa de fibra sintética, o sapato sem sola de cabedal ou o colchão de espuma, podem igualmente ser responsáveis domésticos por algumas alergias e alterações graves, quer específicas quer do estado geral.
Como inseri-las no diagnóstico?
Será possível um diagnóstico ecológico, mesmo de mera aproximação?
3 - Antecedentes históricos da perspectiva ecológica são, sem dúvida, a higiene, a profilaxia, a epidemiologia e a toxicologia.
A grande diferença reside na maneira «filosófica» de entender as relações do ser humano com o meio.
Já no princípio do século se faziam estudos epidemiológicos, afirmando, por exemplo, o dr. Buchanan (de Inglaterra) e o dr. Bowditch (Boston) que a tísica (como se dizia...) estava relacionada com a excessiva humidade do solo.
No seu manual de «Hygiene para as escolas», Arthur Newsholme recomendava:
«O nível da água do solo ou do subsolo tem de ser escrupulosamente verificado(...) «O pavimento inferior deve ser, pelo menos, de três pés acima do mais alto nível da água do solo».
Porque - advertia Arthur Newshole - «um solo em que esta for usualmente baixa, mas sujeita a súbitas variações de nível, é menos saudável(...).
Saudável era, no entanto, uma noção vaga. Tanto como hoje, são as noções de salubridade, sanidade e até de higiene.
A formulação unitária das várias perspectivas hoje dispersas por essas disciplinas - toxicologia, epidemiologia, profilaxia, higiene doméstica, escolar, do trabalho, da habitação, etc, etc - é talvez o que distingue uma visão ecológica das restantes visões parciais obtidas até à data.
4 - DA HIGIENE INDIVIDUAL À HIGIENE PLANETÁRIA.
De 1900 até hoje, 1978, os manuais de higiene dão-nos a impressão de inocência.
Mesmo os de hoje, parecem ignorar o mundo tal como está; e de que a Higiene, para ter algum sentido, deverá começar nesse corpo, nessa casa, nessa rua, nesse bairro, nessa terra comum que se chama planeta Terra.
Ginástica respiratória (num ar poluído), yoga respiratório, alimentação racional (na base de agricultura de adubos químicos e pesticidas), edifícios (de betão) virados ao sol, as virtudes da natação (nas praias com colibacilos), as 8 horas de sono reparador (na cloaca de ruído que é a cidade) , a escova de crina para lavar os dentes (que restaram do açúcar desmineralizante número 1), a ventilação do quarto (numa de 3 assoalhadas ) posição correcta do aluno na carteira (em uma escola errada de alto a baixo), tudo isso são recomendações que, de tão sensatas, se tornaram clássicas. E vivem já no subconsciente das gerações embora aos bairros da lata essa higiene pequeno-burguesa tenha dificuldade em chegar...
Porque é esse o problema: estabelece-se uma higiene para espaços e habitantes de um extracto sócio-económico, de um país, de um bairro determinados, prescrevendo-se que deve ser assim urbi et orbi o que, desde logo, é contrariado pelo que, de facto e na realidade, não é assim.
A regra higiénica universal, é hoje, portanto: como viver nos ambientes cada vez mais degradados e nos habitats cada vez mais inabitáveis, ora por miséria ora por abundância.
Haverá uma higiene individual que passou aos hábitos de quem os possa cultivar.
Mas existe uma higiene social e política - que às vezes dá pelo nome vago e pouco convincente de Saúde Pública - que consiste em perceber como nos ambientes reais existentes é possível subsistir vivo. Sobreviver.
Com esses ambientes reais duas atitudes se podem tomar:
- resignação a eles, pois o «homem adapta-se a tudo» (regra de ouro de uma moral fascista do quotidiano)
- Ou, através deles, uma ecopolitização geral das novas gerações.
Porque não se pode ensinar às novas gerações apenas o meio ambiente que usufruem a média ou alta burguesia ou bairro residencial onde está o menino: tem que se mostrar às novas gerações o ambiente ou habitat em que estão, na acepção unitária e planetária que lhe dá a a ecologia: rua, bairro, escritório, oficina, fábrica, vila, cidade, país ou planeta.
A atenção ao meio é uma prerrogativa da higiene enquanto ciência que se desenvolveu na primeira metade do século XX: mas foi precisamente essa noção de meio e de ambiente que mudou. Que tornou o Planeta um todo indissociável.
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DA HIGIENE CLÁSSICA À ECOLOGIA HUMANA: UMA LONGA JORNADA DE TRABALHO
3/3/1997 - 1 - Regra de ouro em Ecologia Humana é a observação.
Se há doenças, elas significam, com certeza, que alguma coisa no ambiente vai de molde a provocá- las, visto que não há efeito sem causa, como diria La Palice.
À luz da Ecologia Humana, a Higiene não pode acreditar em doenças sem causa ou de causa apenas desencadeante ou superficial.
A doença remete de imediato e necessariamente para uma análise ou observação do Ambiente, para um inventário das possíveis e prováveis causas.
É assim que a higiene se afasta cada vez mais de um realismo ecológico, na medida em que os factores causantes da doença, cada vez mais subtis, insidiosos e em maior número, são cada vez mais difíceis de captar e de identificar.
Basta citar as carpetes, o amianto de uso doméstico, o alumínio dos tachos, os detergentes, os medicamentos, os resíduos químicos nos produtos hortícolas e agrícolas, os conservantes e corantes químicos nos alimentos embalados, os refinados, para indicar alguns factores que passam tanto mas despercebidos quanto mais familiares e quotidianos são.
2 - O inventário de factores ou causas da doença torna-se hoje quase impossível de realizar e muito mais ainda de evocar a cada doença ou caso verificado.
Os desodorizantes químicos do ar provocam anemias.
Mas o chumbo da água dos canos também.
E o ar que se respira com óxido de carbono (mais chumbo) igualmente.
Há igualmente os medicamentos que podem determinar anemias ou leucemias; os contraceptivos femininos já foram acusados disso.
Difícil se torna, entre tantos factores causais possíveis, qual foi o determinante ; ou se foram alguns; ou mesmo se foram todos somados.
A roupa de fibra sintética, o sapato sem sola de cabedal ou o colchão de espuma, podem igualmente ser responsáveis domésticos por algumas alergias e alterações graves, quer específicas quer do estado geral.
Como inseri-las no diagnóstico?
Será possível um diagnóstico ecológico, mesmo de mera aproximação?
3 - Antecedentes históricos da perspectiva ecológica são, sem dúvida, a higiene, a profilaxia, a epidemiologia e a toxicologia.
A grande diferença reside na maneira «filosófica» de entender as relações do ser humano com o meio.
Já no princípio do século se faziam estudos epidemiológicos, afirmando, por exemplo, o dr. Buchanan (de Inglaterra) e o dr. Bowditch (Boston) que a tísica (como se dizia...) estava relacionada com a excessiva humidade do solo.
No seu manual de «Hygiene para as escolas», Arthur Newsholme recomendava:
«O nível da água do solo ou do subsolo tem de ser escrupulosamente verificado(...) «O pavimento inferior deve ser, pelo menos, de três pés acima do mais alto nível da água do solo».
Porque - advertia Arthur Newshole - «um solo em que esta for usualmente baixa, mas sujeita a súbitas variações de nível, é menos saudável(...).
Saudável era, no entanto, uma noção vaga. Tanto como hoje, são as noções de salubridade, sanidade e até de higiene.
A formulação unitária das várias perspectivas hoje dispersas por essas disciplinas - toxicologia, epidemiologia, profilaxia, higiene doméstica, escolar, do trabalho, da habitação, etc, etc - é talvez o que distingue uma visão ecológica das restantes visões parciais obtidas até à data.
4 - DA HIGIENE INDIVIDUAL À HIGIENE PLANETÁRIA.
De 1900 até hoje, 1978, os manuais de higiene dão-nos a impressão de inocência.
Mesmo os de hoje, parecem ignorar o mundo tal como está; e de que a Higiene, para ter algum sentido, deverá começar nesse corpo, nessa casa, nessa rua, nesse bairro, nessa terra comum que se chama planeta Terra.
Ginástica respiratória (num ar poluído), yoga respiratório, alimentação racional (na base de agricultura de adubos químicos e pesticidas), edifícios (de betão) virados ao sol, as virtudes da natação (nas praias com colibacilos), as 8 horas de sono reparador (na cloaca de ruído que é a cidade) , a escova de crina para lavar os dentes (que restaram do açúcar desmineralizante número 1), a ventilação do quarto (numa de 3 assoalhadas ) posição correcta do aluno na carteira (em uma escola errada de alto a baixo), tudo isso são recomendações que, de tão sensatas, se tornaram clássicas. E vivem já no subconsciente das gerações embora aos bairros da lata essa higiene pequeno-burguesa tenha dificuldade em chegar...
Porque é esse o problema: estabelece-se uma higiene para espaços e habitantes de um extracto sócio-económico, de um país, de um bairro determinados, prescrevendo-se que deve ser assim urbi et orbi o que, desde logo, é contrariado pelo que, de facto e na realidade, não é assim.
A regra higiénica universal, é hoje, portanto: como viver nos ambientes cada vez mais degradados e nos habitats cada vez mais inabitáveis, ora por miséria ora por abundância.
Haverá uma higiene individual que passou aos hábitos de quem os possa cultivar.
Mas existe uma higiene social e política - que às vezes dá pelo nome vago e pouco convincente de Saúde Pública - que consiste em perceber como nos ambientes reais existentes é possível subsistir vivo. Sobreviver.
Com esses ambientes reais duas atitudes se podem tomar:
- resignação a eles, pois o «homem adapta-se a tudo» (regra de ouro de uma moral fascista do quotidiano)
- Ou, através deles, uma ecopolitização geral das novas gerações.
Porque não se pode ensinar às novas gerações apenas o meio ambiente que usufruem a média ou alta burguesia ou bairro residencial onde está o menino: tem que se mostrar às novas gerações o ambiente ou habitat em que estão, na acepção unitária e planetária que lhe dá a a ecologia: rua, bairro, escritório, oficina, fábrica, vila, cidade, país ou planeta.
A atenção ao meio é uma prerrogativa da higiene enquanto ciência que se desenvolveu na primeira metade do século XX: mas foi precisamente essa noção de meio e de ambiente que mudou. Que tornou o Planeta um todo indissociável.
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