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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-02-15

IDEOLOGIA 1986

ciência-3-cc> = contra a ciência = crítica da ciência - os dossiês do silêncio

FUNDAMENTOS DA UNIDEOLOGIA - CIÊNCIAS HUMANAS ANDAM NA LUA -II(*)

(* ) A I parte deste artigo de Afonso Cautela foi publicada em 15/2/1986 n'«A Capital»,Crónica do Planeta Terra


Manifesto contra a Ciência ordinária
A perversão da «Engenharia humana»
Ciência anda à procura de um novo paradigma?

A TESE DESTE ENSAIO

Aquilo que hoje se designa de ciência - e que melhor se chamaria sofistica ou Sofismologia - é no fim de contas a Fraude e a Mentira institucionalizada.
O que seria o menos, se essa Fraude e essa Mentira, para continuar a impor-se, não tivesse começado a matar dizendo que salva, a adoecer dizendo que cura, a destruir dizendo que progride .
Mudar qualitativamente a "ciência" que vem sendo praticada - e que de ciência nada tem – é portanto condição sine qua non à sobrevivência humana e planetária.
Qualquer banha da cobra, hoje, publicitada pelos mass media, invoca a ciência para fundamentar as suas virtudes e qualidades.
A ciência, hoje, serve para fundamentar apenas as mais diversas banhas da cobra com que o imperialismo industrial manipula populações.

OS CIENTISTAS DE CANUDO

Quando alguns "cientistas de canudo" assumem posição da maior arrogância, considerando-se eles os verdadeiros ecologistas só porque repetem a lição aprendida em universidades estrangeiras ; quando alguns grupos de jovens, alunos daqueles "cientistas de canudo", se consideram os únicos ecologistas porque vão para o campo fotografar borboletas, é a altura de pôr os pontos nos iis e lembrar que essa ciência "vomitada" nada tem de ciência porque é mero psitacismo.
Como pouco tem a ver com ciência, a pesquisa de laboratório, com lupa e microscópio, provinciana e mesquinha, analista e rasteira, sectorial e sectária.
Há hoje pensadores que, aparentemente desligados dessa ciência académica, na poesia, na neo-arqueologia, na meditação ou na sabedoria oriental, estão muito mais próximo da vanguarda científica do que essas pretensas e rigorosas análises ou observações de laboratório.
A polémica suscitada em 1962 com o livro "Le Matin das Magiciens" entre um
conceito conformista de ciência e um conceito vanguardista de sabedoria, parece bem longe de estar terminada.
Os cientistas e professores universitários como Henri Lefèbvre e Herbert Marcuse que apoiaram as manifestações estudantis de Maio de 1968, provam de que o baluarte da ciência académica cedeu às investidas da vanguarda revolucionária e da nova geração.
Apesar de todos os equívocos a que deu e ainda dá lugar, "revolução cultural" permanece um debate aberto que continua a extremar os campos.
A vanguarda da investigação científica está hoje muito mais próxima das intuições e profecias dos poetas, místicos e precursores, do que da linha tradicional dos gnósticos materialistas e positivistas.
A rutura maior verifica-se entre os próprios cientistas - como provam os gnósticos de Princeton e os sábios de Pungwash.
Os diálogos de Khrisnamurti com sábios da mais alta craveira internacional, provam que a face oculta da realidade é que explica a face revelada e não o inverso, como a ciência oficial tem pretendido. E ainda teima em pretender.
Casos como o de Jacques Monod, biólogo e prémio Nobel, Konrad Lorenz, etólogo e também prémio Nobel, Edgar Morin, Einstein e mesmo Schumacher, são outros tantos exemplos de que a ciência apenas vem confirmar as intuições e profecias de uma certa sabedoria perene e tradicional.
Teilhard de Chardin provou de que, ao nível das suas máximas consequências teóricas, a ciência está muito mais próxima da religião e da reflexão mística do que os contributos parciais e medianos de uma aparente ortodoxia.
Livros como "Auto-Critique de la Science" (1973) deram apoio aos cientistas inconformistas que se encontravam respaldados por um grupo manifesto de colegas, deixando a luta isolada de outsiders para se integrar, de certo modo, num Movimento mais vasto de contestação interna da ciência.
Em Portugal , as pesquisas de Delgado Domingos no campo da análise energética e da termodinâmica, provam igualmente de que a ciência vem confirmar as teses mais radicais dos ecologistas.
Por todo o mundo, sábios inteiramente integrados no sistema, alguns mesmo galardoados com o prémio Nobel, advogam hoje teses que os ecologistas foram os primeiros, durante anos, a sustentar.
Os que decidem, dentro da ciência, assumir posições inconformistas por imperativo de consciência, nem sempre tiveram, no entanto, coragem de as revelar e manter.
O sindicato dos cientistas lincha os dissidentes. Os que estão instalados no "poder científico" receiam perder o controle dos negócios e não cedem a qualquer contestação interna do sistema, ameaçando de chantagem, boicote, desemprego ou perseguição (e "fogueira") os críticos e recalcitrantes.

A MACROCENSURA

O imperialismo industrial é totalitário à escala planetária. O alargamento do mercado implica uma procura exasperada de oportunidades "tecnológicas" para continuar a colonizar e a pilhar todos os continentes.
Chamam-se "cientistas" aos funcionários-de-aparelho encarregados de preparar as melhores soluções para que as multinacionais se instalem em territórios ecologicamente mais interessantes, onde a rapina, a pilhagem e a devassidão possam prosseguir ao ritmo necessário e que a concorrência feroz entre elas implica.
O célebre "investigador" científico, hoje, tem que andar depressa, abrindo caminho para a cambada passar,
Vendidos os "eminentes" cientistas aos traficantes internacionais da Indústria, chama-se então Ecologista (como um anátema) ao que pretende ver mais de cima esta estrumeira toda.
Vendidos os "cientistas" , a ciência da verdade e a verdade da ciência só poderá começar com uma nega total aos "cientistas", investigadores, peritos, técnicos & etc, cavernícolas adoradores de uma barbárie a que chamam progresso.

A DIALÉCTICA


Uma prática dialéctica (filosófica) tem que ser anterior, hoje, a qualquer esforço no domínio da investigação. A "má fé" é fundamental, condição sine qua non na investigação científica de vanguarda. "Má fé" significa dialéctica e suficiente distanciamento crítico em relação ao chafurdo chamado ciência moderna. Desconfiar é a grande regra agnóstica de hoje. Curiosamente, os agnósticos dos últimos séculos, que deram à luz os sofistas de hoje, começaram por se basear na dúvida sistemática para chegar à situação actual de sistemática burla, quer dizer, crença idolátrica absoluta dos "dogmas de fé" a que chamam “ciência”. Os sofistas conseguiram, de facto, transformar a ciência, que algum dia terá sido honrada – e séria, mesmo no erro - numa teologia da Falsidade e da Mentira. A "ciência" mercenária de hoje mente, inclusivamente, quando se reclama herdeira do cepticismo e do agnosticismo clássicos.

A VISÃO COSNPIRATIVA

Aos que me censuram a "visão conspirativa da História", pergunto que Ecologia - quer
dizer, que Verdade - será possível e ainda viável sem essa prévia "visão conspirativa" de que num dia inspirado o José Carlos Marques me acusou.
Se estamos efectivamente rodeados da mais absoluta e totalitária intoxicação com o rótulo de científica, por onde pode começar uma desintoxicação que não seja por uma desconfiança crítica sistemática?
Se lermos os verdadeiros e decisivos pensadores do nosso tempo - os que efectivamente fundamentam a mutação- Khrisnamurti, Ivan Illich, Michio Kushi, Teilhard de Chardin, Lanza del Vasto, Gandhi - que outra "arma" encontramos se não a dúvida e a desconfiança crítica em relação ao Sistema em geral e ao sub-sistema dito "científico" em particular?
Se é fundamentalmente aos "cientistas" que se deve a responsabilidade no massacre dos ecossistemas vivos, que raio de Ecologista será aquele que comece por perdoar ao seu carrasco ou que finge ignorá-lo ?

OS TEMAS-TABU

Anterior a qualquer passo verdadeiramente científico, há que restabelecer a Verdade por um violento esforço crítico e de contestação ao sistema totalitário envolvente. É a este nível que se exerce a Macro-Censura e a sua primeira vítima - a predilecta - será! é claro, a vanguarda ecologista. Para esta vanguarda os temas tabus, proibidos ou censurados pelos aparelhos da "ciência oficial" são os verdadeiros temas científicos. O resto, burla e mau cheiro. Quantos ecologistas, porém não vemos nós aí rendidos à sedução dos ilustres cientistas e dos eminentes peritos? Quantos ecologistas não vemos por aí correndo constantemente aos escritórios da Sofística para se consultar nos sofistas que aí dão aulas ou consultas?
Para reforço deste sistema totalitário onde a verdade asfixia, contribui ainda o carácter cataclísmico do tempo o actual. O próprio subconsciente colectivo pratica, por medo e defesa biológica, um instintivo encobrimento dos factos. Uma verdadeira censura prévia, este instinto e este subconsciente. É de Morte, Merda, Medo e Mentira o Mundo que os Chacais preparam à Humanidade: mas a Humanidade, instintivamente, pressentindo-se horrorizada e afastando-se do horror, fecha olhos, ouvidos, portas e janelas ao Mundo que os Chacais lhe preparam.
Teremos os Chacais que Merecemos?

OS LEITORES DE «MEIN KAMPF»

Nunca citam Augusto Comte mas a Lei dos Três Estados impregna todos os seus discursos; não se confessam filhos de Maquiavel, mas a "moral" dos fins que justificam os meios está presente em todas as suas acções; não se confessam herdeiras de Darwin, mas a mitologia evolucionista é o caldo onde mergulha toda a sua sofistica a que chamam ciência; de Malthus raramente invocam o nome mas o crescimento demográfico e o "perigo demográfico" aparece implícito nos seus discursos, como dado adquirido indiscutível; não invocam Descartes, mas os seus discursos são uma "pastiche" de cartesianismo e ordinário positivismo lógico;
não vão com certeza dizer que obedecem à teoria de Pavlov mas todos os dias o praticam na grande manipulação de cérebros na lavagem aos espíritos que todo o filho de Hitler e neto de Maquiavel tem que perpetrar para poder oprimir os povos.
Todos estes são os "adoradores do progresso", os que falam, com arrogância, como defensores (por vezes denodados) da ciência, os que se dizem realistas por servilmente se subordinarem à ditadura da tecnologia e da sua intrínseca escalada até às tecnologias estruturalmente fascistas e destruidoras.
E usam os mesmos lugares-comuns: as epidemias da Idade Média, por exemplo, servem de contraste para justificar as grandes obras de saneamento básico que o imperialismo quer, por força, instalar nos países cuja pilhagem dos recursos naturais o mesmo imperialismo planifica.
Os místicos do "crescimento" parecem todos feitos no mesmo molde, e repetem todos os mesmos slogans da mesma ideologia.
Pina Manique está como inspirador e mestre oculto destes mal escondidos tecnocratas. Porque um dos seus ardis principais é não se confessarem discípulos dos mestres que têm. A sua influência, o respeito que incutem ao povo é proporcional ao segredo em que mantiverem as fontes onde vão beber. Leitores diários do "Mein Kampf" não vão revelar, evidentemente, a seu autor de cabeceira.

OS "BODES EXPIATÓRIOS" DA CIÊNCIA

Em que é que se distingue, fundamentalmente, um teósofo do que o não é? Um homem religioso de um profano? Um iogui de um político?
Talvez o nível de causalidade em que um e outro se movem.
Um satisfaz-se com as explicações ao nível da história, o outro aponta para uma meta-história.
A grande diferença será entre causalidade imanente e causalidade transcendente.
Aqueles a quem a causalidade imanente satisfaz e esgota dirão: o acidente de trabalho foi por falta de segurança; a autocarro com 30 crianças esmagado pela locomotiva foi por falhas humanas ou técnicas; os 100 mortos num avião da Alitália foi porque o aeroporto de Palermo não oferece condições; os 600 mortos do parque de campismo de Los Alfaques foi devido ao calor e à excessiva dilatação do gás na cisterna do camião: de facto, estas causas são reais, existem, dão um determinado tipo de explicação a um acontecimento. É a causalidade imanente. É uma dimensão do mundo.
Mas o teósofo dirá que, sem contrariar essa causalidade imanente há outra, de ordem transcendente, que se torna tanto mais visível quanto menos evidentes e aparentes são as causas imanentes.
Muitos acontecimentos deixam-nos perplexos, confusos, inquietos porque somos frustrados na nossa busca de causas humanas, históricas, factuais e elas nos escapam.
Procuramos nervosamente que o Mal tenha uma causa humana, seja explicável e, em corolário, evitável. De contrária, entramos em pânico. O absurdo - quer dizer, o que não tem uma explicação plausível - aterroriza-nos. Tudo quanto se suspeite estar para além do humano, do evitável, do imanente, do histórico e factualmente causal, evita-se, ignora-se. Não suportamos que haja acontecimentos inevitáveis, fatais. Voltamos a cara, desviamos os olhos, mudamos a conversa...
São esses, no entanto, pela margem ou percentagem de transcendente que trazem, os acontecimentos privilegiados, os factos-chave, os que - inexplicáveis em termos humanos - nos trazem claramente uma mensagem divina.
Desde que para uma tragédia haja explicação de ordem social, a consciência do homem político fica apaziguada.
A mãe que lança o filho de três meses no Oceano, pois a que poderá ser senão um caso de patologia mental?
Vem uma epidemia de gripe e a ciência tranquiliza os homens: é um vírus. A causa, embora ninguém a veja, existe...
Mas para as doenças incuráveis, é o pânico. A ciência ignora as causas... Ou , melhor: conhece algumas mas ignora outras. Algo fica fora do controle. Algo escapa à racionalização do Mal, ao enquadramento e domesticação do Mistério.
O maior complexo do homem moderno - e tomo o político revolucionário de esquerda como seu paradigma - é que a ciência não possa controlar tudo e não tenha já descoberto de tudo (principalmente do Mal...) as causas científicas...
Onde quer que os acontecimentos escapem ao seu controlo, a ciência cala-se, finge que não nota, muda de conversa... A maior parte das vezes, insulta. E ceva a sua impotência nas vítimas que tenha ao alcance. Tenras e doces vítimas, tem por exemplo a Medicina, sobre as quais ceva suas históricas impotências.
Em alguns casos, a ciência passa à ofensiva: aplica-se então a engendrar causas humanas ou imanentes para factos que cheiram demasiado a inexplicável, misterioso, sobrenatural, absurdo, insólito, oculto, transcendente, etc
Os centros da ciência ordinária - americanos, soviéticos, alemães - mantém silêncio sobre o Triângulo das Bermudas, alvo apenas das especulações jornalísticas do costume.
De repente, Cuba diz que já explicou tudo. E vem a versão oficial da ciência sobre o Triângulo das Bermudas. Curvem-se os homens, porque a Igreja falou.
A Natureza como bode expiatório do que escapa à causalidade científica é uma táctica que se situa a meio caminho.
A invasão de grandes áreas de África por nuvens de gafanhotos que comem em culturas o equivalente ao seu peso, as secas na zona do Sahel, em 1963, que fizeram milhões de mortos, nessas e noutras é que a ciência se vinga: a malvada Natureza (assim como o fatalismo genético ou hereditário, em outros casos) tem as costas bastante largas para levar as culpas todas.
Vendavais, enxurradas, terremotos, tufões, não são nada de sobrenatural (são a natureza) e também não são culpa humana: o bode expiatório ideal. Nem fatalismo, nem asneira de cientistas. Tão pouco tem aqui cabimento a dúvida subtil que se aplica num caso, por exemplo, de desastre ferroviário: até à eternidade, ficará sempre a pergunta: causa humana ou causa técnica?
Se é possível - e é quase sempre possível - fazer da falha humana de um funcionário o bode expiatório, então o inquérito apresenta conclusões meses depois; se não, nunca haverá conclusões para tal inquérito. A tecnologia fica sempre a salvo.
Para fugir à responsabilidade, o sistema tem, portanto, três hipóteses:
- ou inventa o "bode expiatório" da causa humana;
- ou inventa o "bode expiatório" da causa natural ( a malvada Natureza...);
- ou cala-se e finge que não nota, que esqueceu.
A ciência só explica o que a não compromete.
Quando ela própria é a causa do Mal (no caso das maldades da Natureza, por exemplo...), ou não consegue explicar a causa do Mal, - foge.
Ignora.
Ignorância é o terceiro bode expiatório

CALÃO TÉCNICO, ARMA DE OPRESSÃO

O jargão técnico de financeiros e economistas, a linguagem super-secreta dos especialistas e engenheiros, a barreira intransponível entre os macrosistemas e a vida vulgar, quotidiana, banal da gente banal, funciona como um factor acelerante do Caos actual.
As vítimas não dominam os macro-processos onde se inserem: e dominam tanto menos quanto mais técnico for o discurso empregado.
O trabalhador não sabe para que serve e a quem serve o que produz, o cidadão não sabe quem decide por ele as leis que ele, cidadão, virá um dia a pagar se não as cumprir; aumento de preços ou de impostos, sabe disso quando a conta lhe aparece maior do que esperava: na melhor das hipóteses soube quando a decisão era já um facto consumado.
Cultivar a cifra técnica e a nomenclatura arrevesada é, portanto, uma necessidade intrínseca à complexidade dos macro-sistemas.
É a melhor maneira de os rebanhos, incapazes(impotentes) de compreender a linguagem dos senhores, patrões, governantes, engenheiros, cientistas, tecnocratas s torcionários em geral, melhor serem controlados e manipulados.
Ainda que soubessem e pudessem falar claro, não o fariam. O calão técnico guarda a vinha...
A tecnicidade funciona, também, como um dos melhores mecanismos de opressão, manipulação e exploração do homem pelo homem. Função esta que minimiza bastante aquela outra: a importância que a tecnicidade tem na medida em que lisonjeia a vaidade dos que a cultivam e dos que, todas as noites, se masturbam no canudo das suas diplomaturas.
Adoptar a linguagem de robot, em vez da linguagem de gente, é uma forma de exploração do homem pelo homem que os marxistas clássicos não incluem nos seus discursos.
Se o discurso e a terminologia trai a ideologia, trai também e por consequência a ética que lhe preside. No caso vertente, a ética da mais requintada e sofisticada corrupção mental.

MAIS, MAIS, SEMPRE MAIS E NOVAS DOENÇAS!

A preocupação do "novo" está muito ligada à mitologia do progresso científico, que legitima a sua própria existência dizendo que está sempre a descobrir "coisas novas". Esta pretensão ou presunção do "novo" está - como todos os mitos do progresso - tão enraizada no subconsciente do consumidor, que nela se baseia, com êxito, toda a ofensiva publicitária do produto a impor.
"Novo" é a palavra-chave dos anúncios que palpitam no meio de néons, ora na TV, ora nos magazines ilustrados. Abandonar o velho e comprar o novo: eis todo um programa de técnica de vendas, eis um dos motores da sociedade de consumo, tão estreitamente ligado à moda. Moda e novo são os motores do lucro. Moda é o que muda, não esqueçamos...
Não admira, portanto, que a monomania do novo ataque em todos os campos. Até nas doenças, a ciência médica aspira sempre a ter na mesa novidades. Quando encontra uma nova doença, a ciência médica rejubila: de um lado, porque oculta assim, mais uma vez, a sua sublime ignorância rotulando de estranha, enigmática, misteriosa e ainda não "descoberta" nem estudada a "nova" doença; depois porque o "novo" significa progresso e quanto mais doenças, mais progresso.
Jamais a ciência médica, no entanto, faz cientificamente a única coisa científica a fazer que é ligar o efeito à causa. Procurar a causa para determinado afeito. Por exemplo: ligar o consumo de contraceptivos às anemias graves e leucemias.
Porque rejubila, no entanto, a ciência médica com uma nova doença?
É que, segundo a mesma ciência médica, apoiada numa teoria há muito já podre, tem que haver sempre um novo vírus que se pode descobrir para cada nova doença e para cada novo vírus há sempre uma esperança de poder vir a comercializar uma nova vacina, ou um novo medicamento anti-vírus.
Assim funciona a grande ciência médica, totalmente a soldo dos fabricantes de vacinas. É este o princípio do alargamento de mercados, em economia capitalista. Como é que as economias planificadas continuam alimentando o mesmo tipo de ciência mercenária que rejubila com novas doenças, novos vírus, noves vacinas e portanto novas lucros, eis o que já percebo menos.
Quando me dizem que nas economias planificadas a qualidade de vida é muito protegida, eu pergunto se a protecção consiste em ter, para cada nova doença produzida pelo sistema um novo produto que contra-ataque essa doença, fabricando de seguida mais sete para combater os novos efeitos desse novo produto.

ATLANTA (Jórjia) 24 - Um novo tipo de pneumonia, causada por uma nova bactéria, «Pneumococus", oito vezes mais resistente à penicilina, apareceu nos Estados Unidos, afectando uma criança de cinco anos - anunciou o Instituto de Enfermidades Contagiosas de Atlanta. Os médicos foram obrigados, aliás com êxito, a servir-se de um antibiótico mais perigoso.
Entretanto, o Centra Sanitário Federal de Atlanta advertiu que as bactérias e germes produtores de afecções pulmonares aumentaram perigosamente a sua resistência ao tratamento tradicional pela penicilina
Este caso sucede-se a outro registado na África do Sul, em que foi detectado uma bactéria pulmonar, que resiste a todos os antibióticos conhecidos. – 24/10/1977 (Anop).

Se houver nesta notícia algo de chocante para o vulgar dos humanos, de certeza que a culpa é do jornalista que fez a notícia. No resto, as honras vão para os que descobriram a nova bactéria resistente a todos os antibióticos.

A TÁCTICA DO REMENDO: MAIS, MAIS, SEMPRE MAIS ASNEIRA(COM ALGUNS RETOQUES NA FACHADA)

Onde a ciência requinta a sua capacidade imaginativa de multiplicar a asneira, ao serviço do sistema, é quando se trata de introduzir melhorias anti-poluição num objecto por si anti-ecológico.
O automóvel, por exemplo: a ciência inventa aparelhos para economizar gasolina, reduzir poluição, mover os carros a pilhas ou electricidade, enfim, o que é preciso, custe o que custar, é que o gadget seja cada vez mais escorreito e perfeito enquanto objecto de morte ou doença. Por isso a técnica do remendo.
A política ou táctica do remendo, em que a ciência é exímia, significa outro mecanismo reprodutor do sistema exponencial.
Alguns chamam-lhe a ciência remendona. Sem ofensa...
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(* )A I parte deste artigo de Afonso Cautela foi publicada em 15/2/1986 n'«A Capital»,Crónica do Planeta Terra
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