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2006-08-24

OZONO 1987

1-2 domingo, 19 de Janeiro de 2003 - ozono-1-ie>

LA PALICE E O PROFESSOR PANGLOSS:UMA HISTÓRIA DO APOCALIPSE (*)

30/8/1987 - Quando a actualidade noticiosa, nomeadamente a informação televisiva, retoma técnicas de manipulação ideo1ógica que se julgavam mortas e que foram, várias vezes, crismadas de "alarmistas", o observador imparcial fica apreensivo: quando, há 10, 15 ou 20 anos, certos fenómenos de amplitude planetária começaram a ser denunciados por franco-atiradores mais angustiados com o próximo futuro da Terra e das espécies, incluindo a espécie humana, logo um clamor se levantou para os calar, considerando-os perigosos e desnecessariamente apocalípticos. Eles inseriam-se mesmo, segundo porta-vozes da Panglosseria, na onda de obscurantismo que persegue a humanidade em luta desesperada para sair das trevas e da caverna.
Recuperado pelo sistema o "ecológico" como especialidade científica sectorial, como uma das ciências biológicas, recuperados os movimentos independentes, nucleares e alternativos por partidos ao serviço das grandes potências nucleares, esperava-se que os temas incómodos do tal Apocalipse desaparecessem do mapa para deixar todo o palco aos Panglosses e usufruidores do Festim.
Assim não foi, assim não tem sido. Os temas de há 10, 15 ou 20 anos são retomados pelo sistema estabelecido, que já não os considera obscurantistas nem apocalípticos nem alarmistas.
De tal modo que até o Tele-jornal de domingo (30 de Agosto de 1987) sai com uma apocalíptica notícia sobre a destruição do Ozono na alta camada da atmosfera.
Investigadores norte-americanos estariam já na Antárctida para averiguarem se a percentagem de ozono destruído se mantém nos 2/3 ou se já vai a caminho do total.
A imparcialidade tranquila - o neutralismo olímpico - com que estas notícias são transmitidas, anda de par com o optimismo da personalidade convidada a depor naquele telejornal de domingo, Eurico da Fonseca, que chamou então as atenções para os gases utilizados em instalações frigoríficas e também para os atomizadores ou aerossois ou sprays. Mas dos aviões a jacto, nada.
Eurico da Fonseca deve concordar com a tese da Organização Meteorológica Mundial (OMM) que, em Novembro (dia 25) de 1978, proclamava publicamente, urbi et orbi, em Genebra, que "os aerossois são mais perigosos para a camada de ozono da estratosfera do que os aviões super-sónicos" (sic).
Tudo é relativo, como diria La Palice, primo irmão do Dr. Pangloss, mestre espiritual de quase todos estes cronistas do Planeta Terra, para os quais o futuro, mesmo com dois terços do ozono a menos, continua risonho e franco.

Segundo notícia publicada no jornal «A Capital» (25/11/1978), a OMM garantia assim que os aerossóis são mais perigosos para a camada de ozono do que os superjactos:

«Os aerossóis são mais perigosos para a camada de ozono da estratosfera do que os aviões supersónicos, segundo acaba de revelar a organização Meteorológica Mundial, em declaração publicada em Genebra.
Situada na estratosfera, entre 10 e 45 quilómetros de altitude, a camada de ozono tem grande importância para a vida na Terra, por filtrar parte da radiação ultravioleta solar.
A Organização Meteorológica Mundial lançou um alerta contra os perigos da utilização de certos gases nos atomizadores e nos sistemas de refrigeração, principalmente no que respeita aos clorofluorometanos, cujo lançamento na atmosfera destrói a camada de ozono.
Determinou-se que esta última sofrerá uma rarefacção global de 5 a 15 por cento dentro de 20 anos, caso os referidos gases continuem a ser utilizados ao ritmo actual.
Em contrapartida, os aviões supersónicos não apresentam praticamente quaisquer riscos para a camada de ozono, ao contrário do que habitualmente se afirma.
Efectivamente, segundo a Organização Meteorológica Mundial, .uma frota importante de aeronaves supersónicas, voando a altitude inferior a 25 quilómetros, não terá efeitos significativos sobre a quantidade global de ozono da estratosfera.»

Assunto encerrado, pois, e vamos pôr os clorofluorometanos no banco dos réus, já que as indústrias de frigoríficos é que têm de ser reconvertidas e não, obviamente, as indústrias que fabricam aviões supersónicos.
(*) Texto provavelmente inédito