PANGLOSSES 1987
sistema-13> o sistema contra os ecossistemas – inédito ac de 1987 – tese de 5 estrelas
MAIS PANGLOSSES E SOFISMAS
30/8/1987 - Quando a actualidade noticiosa, nomeadamente a informação televisiva, retoma técnicas de manipulação ideológica que se julgavam mortas e que foram, várias vezes, crismadas de "alarmistas", o observador imparcial fica apreensivo: quando há 10, 15 ou 20 anos, certos fenómenos de amplitude planetária começaram a ser denunciados por franco-atiradores mais angustiados com o próximo futuro da Terra e das espécies, incluindo a espécie humana, um clamor se levantou para os calar, considerando-os perigosos e desnecessariamente apocalípticos. Eles inseriam-se mesmo, segundo porta-vozes da Panglosseria, na onda de obscurantismo que persegue a humanidade em luta desesperada para sair das trevas e da caverna.
Recuperado pelo sistema o "ecológico", como especialidade científica sectorial, como uma das ciências biológicas, recuperados os movimentos independentes, anti-nucleares e alternativos por partidos ao serviço das grandes potências nucleares, esperava-se que os temas incómodos do tal Apocalipse desaparecessem. do mapa para deixar todo o palco aos Panglosses e usufruidores do Festim.
Assim não foi, assim não tem sido. Os temas de há 10, 15 ou 20 anos são retomados pelo sistema estabelecido, que já não os considera obscurantistas nem apocalípticos nem alarmistas.
De tal modo que até o Tele-jornal de domingo (30 de Agosto de 1987) sai com uma apocalíptica notícia sobre a destruição do Ozono na alta camada da atmosfera.
Investigadores norte-americanos estariam já na Antártida para averiguarem se a percentagem de ozono destruído se mantém nos 2/3 ou se já vai a caminho do total.
A imparcialidade tranquila - o neutralismo olímpico - com que estas notícias são transmitidas, anda de par com o optimismo da personalidade convidada a depor naquele tele-jornal de domingo: Eurico da Fonseca, que chamou então as atenções para os gases utilizados em instalações frigoríficas e também para os atomizadores ou aerossóis ou sprays; mas dos aviões a jacto, nada.
Eurico da Fonseca deve concordar com a tese da Organização Meteorológica Mundial (OMM) que, em Novembro (dia 25) de 1978, proclamava publicamente, urbi et orbi em Genebra, que "os aerossóis são mais perigosos para a camada de ozono da estratosfera do que os aviões super-sónicos".
Tudo é relativo, como diria La Palice, primo irmão do Dr. Pangloss, mestre espiritual de quase todos estes cronistas do Planeta Terra, para os quais o futuro , mesmo com dois terços do ozono a menos, continua risonho e franco.
SUBPRODUTO DO SISTEMA
Sub-produto do sistema que se desagrega sob a acção da crise planetária, os panglosses têm uma função precisa nos últimos anos que nos restam, assim explicitada:
1 - Obviar a que o alerta ecológico possa soar , com todo o realismo e com toda a sua clareza, urgência e nitidez, sem alarmismos de ocultistas e astrólogoe e sem alarmismos de tecnopalermas;
2 - Vender mais alguns gadgets anti-poluição, talvez alguns abrigos anti-atómicos, alguns preservativos anti-sida, alguns cintos de segurança para os pópós, alguns comprimidos psico-tranquilizantes, etc, etc, a lista do mercado protésico é praticamente infinita;
3 - Confundir e baralhar as mentes das pessoas, para que estas não possam lançar mão de todas as eco-tecnologias alternativas que podiam salvá-las e ao Planeta, eco-tecnologias que estão já acessíveis;
4 - Consolar os angustiados com o colapso do Planeta, pintando cenários cor-de-rosa para o futuro, a cargo das novas tecnologias que irão emendar (está-se mesmo a ver) os erros, abusos e crimes das antigas;
O "tecno-panglosse" ou optimista nato, pago para exibir optimismo, funcionário zeloso do sistema que vive de ir matando os ecossistemas, está sempre ao serviço, operacional e activo, para que nada transpire da crise profunda em que a Terra se afunda.
Crise ultrapassável pelas eco-tecnologias da Esperança mas nunca, jamais, pelas tecnologias do chafurdo e do terror e que ao chafurdo e ao terror nos levaram.
O fenómeno de cepticismo voluntário ou cego optimismo pode ser ilustrado com o caso do desequilibro térmico provocado pelo aumento de anidrido carbónico na atmosfera, que resulta, por sua vez, da desflorestação intensiva em áreas crescentes do Planeta, somada à queima de combustíveis fósseis por fábricas, caldeiras e fornos.
Uma simples variação de quatro graus - dizem eles - na temperatura média da atmosfera pode ser considerado insignificante pelos que não querem ver a realidade.
Essa variação não é, digamos, interna ao ecossistema atmosfera, correspondendo, por exemplo, às variações de temperatura entre estações ou entre latitudes diferentes, mas é uma alteração extrínseca e global de todo o ecossistema, que normalmente e enquanto mantém o equilíbrio se regula por uma determinada temperatura média.
Os cegos "panglosses" recusam-se a acreditar no efeito estufa, na fusão das calotes polares e na subida do nível dos oceanos.
O discurso panglossiano surge quando, perante o quadro apocalíptico de qualquer pilhagem aos recursos e equilíbrios da Terra, há a necessidade de impor um novo negócio no mercado protésico ou de preservativos , um novo campo de negócio para exploração de mecanismos ditos alternativos ao que já se esgotou e pilhou e delapidou. .
A cirurgia em geral, a transplantologia, a hemodiálise, inserem-se neste mercado "protésico" ou "preservativo", onde a tecnologia hiper-sofisticada vai gradualmente substituindo órgãos, atributos e recursos naturais.
Típico discurso panglossiano é assim o que aparece a promover os recursos minerais no fundo do Oceano , quando estes já escasseiam em terra firme (Ver artigo de Max Wilde, ''Jornal de Noticias").
Típico discurso panglossiano é o que preconiza a chamada "luta biológica" contra as pragas, no termo do processo vicioso e infernal da decadência agroquímica.
Típico discurso panglossiano é , pois, o que promove soluções tecnológicas para a decadência que a própria tecnologia provocou.
Sofisma largamente difundido pelo discurso tecno-burrocrata oficial e pela utopia tecnológica é o de que "o excessivo alarmismo dos eco-radicais conduz à inacção e ao desespero."
Sofisma, de facto, porque são os eco-radicais a preconizar, há mais tempo, a vida da vida e da esperança mais viável, mais democrática, mais adequada que é a das tecnologias leves alternativas não poluentes, criadoras e não alienantes.
Sofisma é continuar ignorando fingidamente essa proposta dos ecologistas radicais - a vida das alternativas e as alternativas de vida - que até o gato já conhece.
***
MAIS PANGLOSSES E SOFISMAS
30/8/1987 - Quando a actualidade noticiosa, nomeadamente a informação televisiva, retoma técnicas de manipulação ideológica que se julgavam mortas e que foram, várias vezes, crismadas de "alarmistas", o observador imparcial fica apreensivo: quando há 10, 15 ou 20 anos, certos fenómenos de amplitude planetária começaram a ser denunciados por franco-atiradores mais angustiados com o próximo futuro da Terra e das espécies, incluindo a espécie humana, um clamor se levantou para os calar, considerando-os perigosos e desnecessariamente apocalípticos. Eles inseriam-se mesmo, segundo porta-vozes da Panglosseria, na onda de obscurantismo que persegue a humanidade em luta desesperada para sair das trevas e da caverna.
Recuperado pelo sistema o "ecológico", como especialidade científica sectorial, como uma das ciências biológicas, recuperados os movimentos independentes, anti-nucleares e alternativos por partidos ao serviço das grandes potências nucleares, esperava-se que os temas incómodos do tal Apocalipse desaparecessem. do mapa para deixar todo o palco aos Panglosses e usufruidores do Festim.
Assim não foi, assim não tem sido. Os temas de há 10, 15 ou 20 anos são retomados pelo sistema estabelecido, que já não os considera obscurantistas nem apocalípticos nem alarmistas.
De tal modo que até o Tele-jornal de domingo (30 de Agosto de 1987) sai com uma apocalíptica notícia sobre a destruição do Ozono na alta camada da atmosfera.
Investigadores norte-americanos estariam já na Antártida para averiguarem se a percentagem de ozono destruído se mantém nos 2/3 ou se já vai a caminho do total.
A imparcialidade tranquila - o neutralismo olímpico - com que estas notícias são transmitidas, anda de par com o optimismo da personalidade convidada a depor naquele tele-jornal de domingo: Eurico da Fonseca, que chamou então as atenções para os gases utilizados em instalações frigoríficas e também para os atomizadores ou aerossóis ou sprays; mas dos aviões a jacto, nada.
Eurico da Fonseca deve concordar com a tese da Organização Meteorológica Mundial (OMM) que, em Novembro (dia 25) de 1978, proclamava publicamente, urbi et orbi em Genebra, que "os aerossóis são mais perigosos para a camada de ozono da estratosfera do que os aviões super-sónicos".
Tudo é relativo, como diria La Palice, primo irmão do Dr. Pangloss, mestre espiritual de quase todos estes cronistas do Planeta Terra, para os quais o futuro , mesmo com dois terços do ozono a menos, continua risonho e franco.
SUBPRODUTO DO SISTEMA
Sub-produto do sistema que se desagrega sob a acção da crise planetária, os panglosses têm uma função precisa nos últimos anos que nos restam, assim explicitada:
1 - Obviar a que o alerta ecológico possa soar , com todo o realismo e com toda a sua clareza, urgência e nitidez, sem alarmismos de ocultistas e astrólogoe e sem alarmismos de tecnopalermas;
2 - Vender mais alguns gadgets anti-poluição, talvez alguns abrigos anti-atómicos, alguns preservativos anti-sida, alguns cintos de segurança para os pópós, alguns comprimidos psico-tranquilizantes, etc, etc, a lista do mercado protésico é praticamente infinita;
3 - Confundir e baralhar as mentes das pessoas, para que estas não possam lançar mão de todas as eco-tecnologias alternativas que podiam salvá-las e ao Planeta, eco-tecnologias que estão já acessíveis;
4 - Consolar os angustiados com o colapso do Planeta, pintando cenários cor-de-rosa para o futuro, a cargo das novas tecnologias que irão emendar (está-se mesmo a ver) os erros, abusos e crimes das antigas;
O "tecno-panglosse" ou optimista nato, pago para exibir optimismo, funcionário zeloso do sistema que vive de ir matando os ecossistemas, está sempre ao serviço, operacional e activo, para que nada transpire da crise profunda em que a Terra se afunda.
Crise ultrapassável pelas eco-tecnologias da Esperança mas nunca, jamais, pelas tecnologias do chafurdo e do terror e que ao chafurdo e ao terror nos levaram.
O fenómeno de cepticismo voluntário ou cego optimismo pode ser ilustrado com o caso do desequilibro térmico provocado pelo aumento de anidrido carbónico na atmosfera, que resulta, por sua vez, da desflorestação intensiva em áreas crescentes do Planeta, somada à queima de combustíveis fósseis por fábricas, caldeiras e fornos.
Uma simples variação de quatro graus - dizem eles - na temperatura média da atmosfera pode ser considerado insignificante pelos que não querem ver a realidade.
Essa variação não é, digamos, interna ao ecossistema atmosfera, correspondendo, por exemplo, às variações de temperatura entre estações ou entre latitudes diferentes, mas é uma alteração extrínseca e global de todo o ecossistema, que normalmente e enquanto mantém o equilíbrio se regula por uma determinada temperatura média.
Os cegos "panglosses" recusam-se a acreditar no efeito estufa, na fusão das calotes polares e na subida do nível dos oceanos.
O discurso panglossiano surge quando, perante o quadro apocalíptico de qualquer pilhagem aos recursos e equilíbrios da Terra, há a necessidade de impor um novo negócio no mercado protésico ou de preservativos , um novo campo de negócio para exploração de mecanismos ditos alternativos ao que já se esgotou e pilhou e delapidou. .
A cirurgia em geral, a transplantologia, a hemodiálise, inserem-se neste mercado "protésico" ou "preservativo", onde a tecnologia hiper-sofisticada vai gradualmente substituindo órgãos, atributos e recursos naturais.
Típico discurso panglossiano é assim o que aparece a promover os recursos minerais no fundo do Oceano , quando estes já escasseiam em terra firme (Ver artigo de Max Wilde, ''Jornal de Noticias").
Típico discurso panglossiano é o que preconiza a chamada "luta biológica" contra as pragas, no termo do processo vicioso e infernal da decadência agroquímica.
Típico discurso panglossiano é , pois, o que promove soluções tecnológicas para a decadência que a própria tecnologia provocou.
Sofisma largamente difundido pelo discurso tecno-burrocrata oficial e pela utopia tecnológica é o de que "o excessivo alarmismo dos eco-radicais conduz à inacção e ao desespero."
Sofisma, de facto, porque são os eco-radicais a preconizar, há mais tempo, a vida da vida e da esperança mais viável, mais democrática, mais adequada que é a das tecnologias leves alternativas não poluentes, criadoras e não alienantes.
Sofisma é continuar ignorando fingidamente essa proposta dos ecologistas radicais - a vida das alternativas e as alternativas de vida - que até o gato já conhece.
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