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2006-08-24

MORTE 1994

6222 caracteres morte-1-fs-3-priori-diário de uma descoberta – diário de um aprendiz de radiestesia

PRIORIDADE ABSOLUTA À TANATOLOGIA

30/8/1994 – Meu Caro F. S.: Sobre a morte e como ensinar os vivos (ou moribundos) a morrer, eis o meu programa de vida, actualmente, do qual só as exigências da sobrevivência me distraem. Gostaria de encontrar alguém com quem trabalhar nisto: que, para comprazer à parte material, teria também uma «vertente» de holodiagnóstico, um diagnóstico global ou «perfil holístico».
Tenho estado a preparar a m/ casa com vista a poder obter um espaço viável para esse efeito. Será um dia destes o momento de te dar conhecimento de alguns «files» que meti em computador - sobre esse projecto do «perfil holístico».
Só que, quanto a projectos, eu encontro-me numa fase em que toda a cautela é pouca: não se pode projectar nada enquanto não se integrar. E estando eu em Nigredo puro (desestruturação completa e violenta do suporte) não posso aspirar já a qualquer reestruturação projectiva, a qualquer forma assumida. Estou, creio, na fase de «mescla» em que a decantação está longe ainda de fazer-se.
Não quero converter ninguém a nada. Quanto muito, converter cada um a si próprio. Já Nietszche preconizava «ser o que se é», repetindo o Sócrates do «conhece-te a ti mesmo», o Sócrates que, por sinal, escreveu pouco - ou nada, o que faz suspeitar de que era analfabeto. Graças aos deuses (gregos), era analfabeto, pelo que nos falou a linguagem universal, herdada do egípcio Hermes Trimegisto, via Pitágoras.
Penso, neste momento, que devo partir de uma assumido analfabetismo, sem saber quando vou aprender e se vou aprender a nova «linguagem vibratória de base molecular». Entretanto e como «burro velho não aprende línguas», desisti de «aprender línguas», inclusive a mais aberrante de todas e com o diabo na alma que é a dos computadores. Ou essa língua de piratas e merceeiros que é o inglês. Ou essa outra de punhos de renda e rigores analíticos que é o francês.
Nunca vou é fazer carreira, se não aprender os léxicos todos que eles, os patrões, querem e adoram. Admiro é Ivan Illich que conseguiu dominar aí umas oito línguas, inclusive o rebarbativo português. Mas o que eu estou mesmo excitado em fazer é um apanhado divertido dos vários «léxicos» tecnocráticos com que os tecnocratas de todos os quadrantes nos divertem.
Aliás, um dos projectos que deixei em «stand-by» (este palavrão já aprendi) foi o de inventariar (listar) os palavrões dos modernos jargões com que nos «fodem» (fornicam) a paciência. Claro que o meu jargão é mais do Cais do Sodré e menos dos «yuppies» nova vaga e «new age» (outro palavrão que eu aprendi).
Não sei como se diz snobismo em inglês mas acho, por exemplo, que o Vasco Pulido Valente é um modelo de snobismo, mas os jornais em geral também e os do chamado «jornalismo económico», como tu bem sabes, é só de «flop» pra cima.
Perante isto - perante esta nova Torre de Babel - máximas universais como «ser o que se é», «o Verbo é Deus», «ama-te a ti mesmo» são meras banalidades de base, ditas através dos tempos e das culturas e que só aguardam o momento de ser integradas no dia a dia da custosa, penosa, vaidosa tragédia humana.
Ecologia, por exemplo, se é que serviu para alguma coisa, veio ajudar a relativizar as coisas terrenas: e se a Ecologia nos diz que não há saída horizontal (porque não há mesmo, o chafurdo é mesmo chafurdo, o tremedal é mesmo tremedal), é de acelerar então a saída vertical. Deparamos com uma multidão de escolas, seitas, tradições, mas a gnose radiestésica tem talvez a vantagem de apurar todas as técnicas (sem holismo nem ecletismo) e unificá-las em uma só.
Sem vampirizar o duplo de cada um, o que - diz-se - acontece a todas as formas manipulatórias de energia: ganha-se, nessas egrégoras, em satisfações materiais (ainda quando levam o nome de espírito, mas que diz respeito ainda ao corpo espiritual) o que se perde em natureza essencial.
Uma palavra que vou imediatamente integrar no meu léxico de sucesso é o «Know-how», cheio de ressonâncias e de consequências. Fizeste com que me apercebesse disso, nunca tinha pensado nessa vantagem. É sempre bom ter alguma coisa que nos possa pôr em posição de vantagem face à bicharada que dia a dia nos suga. Como se diz em inglês «bicharada»? Mas a palavra «know-how», tão simpática, tem conotações para mim antipáticas, muito ligadas a «sapos vivos» e a «vontade de vingança»: se der atenção a esse passado de memórias, acabo por ficar com os cabelos eriçados, agora que o Delgado Domingos lança a revista de ecologismo, por exemplo, com prefácio de Mário Soares e com o José Mattoso amigo do ambiente, sinto-me ainda mais insignificante e inútil do que quando a Maria Santos se candidatou ao lugar de deputada europeia.
Se vou a pensar em termos de «know-how» e reavivar memórias de «sapos vivos», nunca mais saio desse lodaçal. Nem consigo apagar memórias que me apegam à vida e, como te disse, a morte é agora, tem de ser agora a minha prioridade. Como vou apagar memórias e apagar apegos, se der importância ao tal «Know-how»? Aliás, se falo muito em escrever as minhas memórias, esta carta não vai chegar ao destino, como aconteceu à outra...Se tiver que voltar a narrar a crónica dos sapos vivos, já tenho file , e já lá deitei considerandos, a propósito de alguns sv mais recentes: eles não faltam nunca neste país, como sabes.
Academia de artes primordiais? Só vejo, nas artes primordiais, esta que é indicada pela retoma do Egipto faraónico, dos seus deuses, da sua sabedoria, da sua gnose. Com as ciências dele advindas: Teurgia, Numerologia, Astrologia, Magia, etc. Os orientais são porreiros, especialmente os que inventaram essa magnífica vassoura que é o Zen (aspirador dos detritos da alma), mas agora estou mais virado para o Oriente próximo. Até que a morte tenha a complacência de me levar. Foi mesmo o acaso - que não existe - que nos fez encontrar aquele sábado, em que me emprestaste a revista «Caduceus» mas principalmente o artigo sobre Tanatologia e Música. Tanatologia, meu caro Sacramento, é quanto a mim a arte (primordial) de todas as artes: pelo que lhe estou dando neste momento prioridade absoluta. Dentro daquilo que a vida deixa, só a Morte me interessa.
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