RETROCESSOS 1979
nuclear-0- sindroma sísmico-nuclear – os retrocessos do progresso
BOMBA DE SANTO ANTÓNIO & SISMOS(*)
25/6/1979 - Enquanto os portugueses «curtiam» (com o Verão a aquecer) mais uma clássica semaninha de feriados, iam para o campo ou para a praia espairecer tristezas da inflação e da gasolina (qualquer dia) mais cara, as duas superpotências atómicas, Estados Unidos e URSS, empenhavam-se a fundo, em Viena de Áustria, invocando Deus e o futuro das novas gerações, na última fase da corrida para o acordo «Salt II»
A provar a boa fé nesse acordo e também para que ficasse limpo e a nu o indiscutível poder que uma superpotência, por definição, tem, eis que, no dia 12, véspera de Santo António, os Estados Unidos realizavam no deserto do Nevada um dos testes nucleares mais importantes deste ano.
Só dois jornais portugueses noticiavam tão auspicioso acontecimento: «Correio da Manhã» e «Jornal Novo» publicavam, em telex da ANOP, mais um triunfal rebentamento subterrâneo.
Dizia a notícia:
«Um engenho nuclear foi testado em profundidade no deserto de Nevada e a sua explosão causou uma onda de choque que se sentiu a mais de 150 quilómetros de distância, na cidade de Las Vegas.
«O teste, que fora protelado desde 1 de Junho por causa dos ventos de altitude que sopravam sobre o local escolhido, realizou-se sem incidentes, informou o porta-voz do Departamento de Energia, Dave Jackson.
«O engenho foi enterrado a cerca de 700 metros de profundidade na Meseta Pahute e tinha uma força explosiva equivalente entre 20 e 150 mil toneladas de TNT.
«Foi o quinto teste anunciado este ano, mas nem todas as explosões são comunicadas oficialmente.»
«Correio da Manhã» publicava ainda em seguimento:
«Sinais sísmicos da explosão nuclear subterrânea ocorrida no Nevada foram registados pelo observatório Hagfors, na Suécia. O observatório precisou que a explosão ocorreu aproximadamente às 14 horas do dia 11 e registou 5,7 da escala de Richter.»
A notícia é importante e ainda bem que houve jornais que não a deitaram para o lixo: não só por ser véspera de Santo António, advogado das bombas, nosso irmão em São Francisco e amigo dos peixes, mas porque raramente, nos últimos anos, temos a dita de saber quantos (como e quando) rebentamentos subterrâneos, com bombas de experiência, realizam os Estados Unidos no Nevada e a URSS no perímetro de Semipalatinsk.
É preciso andar com uma lupa, a espiolhar notícias, para conseguir ir completando o quadro dos rebentamentos que, como é sabido e já clássico, antecedem sempre de algumas horas as ondas sísmicas que alastram, nos dois ou três dias seguintes, por todo o globo.
Desta feita, ao contrário do que também normalmente acontece, e apesar de passarem dois dias sem jornais na capital do País, eis que ainda conseguimos ler, em telex da France Press, no «Diário de Notícias», a inevitável vaga sísmica que se sucede às experiências com rebentamentos subterrâneos; Sismos no Peru, Turquia e Grécia, anunciava o jornal aproveitando para pôr tudo no mesmo molhinho.
Enquanto os portugueses iam aproveitando a «trégua» de alguns feriados mais, enquanto Portugal gozava a circunstância de continuar (até quando...) fora do percurso dessas já clássicas ondas sísmicas, a notícia quase passava despercebida no meio das verdadeiramente importantes. Era a semana, não o esqueçamos, em que os órgãos de Comunicação Social estavam cheios, de alto a baixo, de negociações e acordo «Salt II ».
Registe-se, no entanto, e apesar de insignificante:
«Dois violentos sismos sacudiram no dia 15 a ilha grega de Chios, no mar Egeu, provocando alarme sem contudo fazerem vítimas ou estragos. Outro sismo atingiu a estância de lzmir, na, costa ocidental da. Turquia, enquanto, na América Latina, a capital peruana era igualmente abalada por dois violentos sismos.»
A 12 de Junho, véspera de Santo António, rebenta a bomba (como é da tradição popular lisboeta). A 15 não param os telexes com notícias de sismos.
Em Viena de Áustria, a das valsas, trocavam-se à mesma hora brindes e hossanas em nome da paz (sísmica) e dos acordos «Salt II» que bastantes anos e esforços exigiram aos conservadores.
No deserto do Nevada, à mesma hora, brindava-se com mais um teste subterrâneo dos muitos que nos últimos dezasseis anos têm sido realizados, provocando a superactividade sísmica que tantas centenas de milhar de mortos tem feito nesses mesmos 16 anos.
Ainda bem que foi noticiada esta quinta experiência dos Estados Unidos, durante o primeiro semestre de 1979, para que se não diga que só os testes realizados na Sibéria são anunciados e causam tremores de terra. Para que se não diga que denunciar o facto é «primário anti-comunismo». Pela minha parte, nunca regateei a nenhuma das superpotências aquilo que a cada uma e às duas pertence. Honra, portanto, às duas grandes senhoras, sem favoritismo para nenhuma.
Desta vez e graças ao Santo Antoninho da nossa devoção, conseguimos saber o que do epicentro de Nevada é transmitido por onda sísmica a todo o Mundo como benfazeja, fraternal e franciscana mensagem de Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
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(*) Publicado no jornal «Correio da Manhã», 25/6/1979
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BOMBA DE SANTO ANTÓNIO & SISMOS(*)
25/6/1979 - Enquanto os portugueses «curtiam» (com o Verão a aquecer) mais uma clássica semaninha de feriados, iam para o campo ou para a praia espairecer tristezas da inflação e da gasolina (qualquer dia) mais cara, as duas superpotências atómicas, Estados Unidos e URSS, empenhavam-se a fundo, em Viena de Áustria, invocando Deus e o futuro das novas gerações, na última fase da corrida para o acordo «Salt II»
A provar a boa fé nesse acordo e também para que ficasse limpo e a nu o indiscutível poder que uma superpotência, por definição, tem, eis que, no dia 12, véspera de Santo António, os Estados Unidos realizavam no deserto do Nevada um dos testes nucleares mais importantes deste ano.
Só dois jornais portugueses noticiavam tão auspicioso acontecimento: «Correio da Manhã» e «Jornal Novo» publicavam, em telex da ANOP, mais um triunfal rebentamento subterrâneo.
Dizia a notícia:
«Um engenho nuclear foi testado em profundidade no deserto de Nevada e a sua explosão causou uma onda de choque que se sentiu a mais de 150 quilómetros de distância, na cidade de Las Vegas.
«O teste, que fora protelado desde 1 de Junho por causa dos ventos de altitude que sopravam sobre o local escolhido, realizou-se sem incidentes, informou o porta-voz do Departamento de Energia, Dave Jackson.
«O engenho foi enterrado a cerca de 700 metros de profundidade na Meseta Pahute e tinha uma força explosiva equivalente entre 20 e 150 mil toneladas de TNT.
«Foi o quinto teste anunciado este ano, mas nem todas as explosões são comunicadas oficialmente.»
«Correio da Manhã» publicava ainda em seguimento:
«Sinais sísmicos da explosão nuclear subterrânea ocorrida no Nevada foram registados pelo observatório Hagfors, na Suécia. O observatório precisou que a explosão ocorreu aproximadamente às 14 horas do dia 11 e registou 5,7 da escala de Richter.»
A notícia é importante e ainda bem que houve jornais que não a deitaram para o lixo: não só por ser véspera de Santo António, advogado das bombas, nosso irmão em São Francisco e amigo dos peixes, mas porque raramente, nos últimos anos, temos a dita de saber quantos (como e quando) rebentamentos subterrâneos, com bombas de experiência, realizam os Estados Unidos no Nevada e a URSS no perímetro de Semipalatinsk.
É preciso andar com uma lupa, a espiolhar notícias, para conseguir ir completando o quadro dos rebentamentos que, como é sabido e já clássico, antecedem sempre de algumas horas as ondas sísmicas que alastram, nos dois ou três dias seguintes, por todo o globo.
Desta feita, ao contrário do que também normalmente acontece, e apesar de passarem dois dias sem jornais na capital do País, eis que ainda conseguimos ler, em telex da France Press, no «Diário de Notícias», a inevitável vaga sísmica que se sucede às experiências com rebentamentos subterrâneos; Sismos no Peru, Turquia e Grécia, anunciava o jornal aproveitando para pôr tudo no mesmo molhinho.
Enquanto os portugueses iam aproveitando a «trégua» de alguns feriados mais, enquanto Portugal gozava a circunstância de continuar (até quando...) fora do percurso dessas já clássicas ondas sísmicas, a notícia quase passava despercebida no meio das verdadeiramente importantes. Era a semana, não o esqueçamos, em que os órgãos de Comunicação Social estavam cheios, de alto a baixo, de negociações e acordo «Salt II ».
Registe-se, no entanto, e apesar de insignificante:
«Dois violentos sismos sacudiram no dia 15 a ilha grega de Chios, no mar Egeu, provocando alarme sem contudo fazerem vítimas ou estragos. Outro sismo atingiu a estância de lzmir, na, costa ocidental da. Turquia, enquanto, na América Latina, a capital peruana era igualmente abalada por dois violentos sismos.»
A 12 de Junho, véspera de Santo António, rebenta a bomba (como é da tradição popular lisboeta). A 15 não param os telexes com notícias de sismos.
Em Viena de Áustria, a das valsas, trocavam-se à mesma hora brindes e hossanas em nome da paz (sísmica) e dos acordos «Salt II» que bastantes anos e esforços exigiram aos conservadores.
No deserto do Nevada, à mesma hora, brindava-se com mais um teste subterrâneo dos muitos que nos últimos dezasseis anos têm sido realizados, provocando a superactividade sísmica que tantas centenas de milhar de mortos tem feito nesses mesmos 16 anos.
Ainda bem que foi noticiada esta quinta experiência dos Estados Unidos, durante o primeiro semestre de 1979, para que se não diga que só os testes realizados na Sibéria são anunciados e causam tremores de terra. Para que se não diga que denunciar o facto é «primário anti-comunismo». Pela minha parte, nunca regateei a nenhuma das superpotências aquilo que a cada uma e às duas pertence. Honra, portanto, às duas grandes senhoras, sem favoritismo para nenhuma.
Desta vez e graças ao Santo Antoninho da nossa devoção, conseguimos saber o que do epicentro de Nevada é transmitido por onda sísmica a todo o Mundo como benfazeja, fraternal e franciscana mensagem de Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
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(*) Publicado no jornal «Correio da Manhã», 25/6/1979
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