PROGRESSO 1979
petróleo-1> os retrocessos do progresso – metas de morte
OS RETROCESSOS DO PROGRESSO
17/6/1979 - É facto consumado que a administração Carter irá subvencionar de 5 dólares por barril (15 por cento do preço aproximadamente) as importações de «fuel».
Mau grado o ardil norte-americano de ter subsidiado as importações de produtos petrolíferos com este «bónus» ( que se assemelha ao mel para atrair a formiga ao veneno) está dito e redito pelas sete irmãs petrolíferas que os Estados Unidos vão sofrer dois anos de penúria e que o melhor, para já, é irem pensando em racionar. Vai ser de morte.
«A falta não é fictícia» (quer dizer que podia ser...) e o público tem de compreender que há uma falta real de petróleo» - assegura a Standart Oil of Indianna.
O público compreende. Ficou de língua de fora quanto aos prazeres da gasolina e seus derivados, mas compreende. O que (o macaco) não entende é como se vai aguentar, com mais este balanço, o triunfalismo do desenvolvimento, do crescimento, da taxa de expansão, do PNB sempre a subir, da curva exponencial que é o alfa e o ómega desta sociedade a caminho do infinito (da infinita asneira e miséria), enfim, do progresso e do paraíso que nos prometeram a troco de toda a porcaria chamada poluição, de toda a poluição chamada alienação, de toda a alienação chamada exploração do homem pelo homem. Da abundância do desperdício.
Como é que tão paradisíacas promessas e tecnoprofecias se conciliam (sem contradição mortal) com a «marcha atrás» que a já prevista escassez de petróleo irá provocar, eis o que as multinacionais não precisam de explicar. A gente só queria entender.
Recessão, desemprego, estagnaflação - eis onde mergulha, de repente, a euforia triunfalista que prometeu mundos e só nos deu fundos (rotos), que nos promete mil e um paraísos enquanto nos vai dando o Inferno.
Anos e anos, os monopólios da energia (e nem só) convenceram o consumidor de que tudo devia estar na dependência de uma só torneira: a que eles controlavam, evidentemente. Através de gigantescas lavagens ao cérebro, convenceram a opinião pública de que as ecoalternativas tecnológicas e energéticas (sol, vento, biogás, ondas, marés, geotermia) ainda não eram «rentáveis». Desculparam-se de que era necessário aperfeiçoar tecnologias. Etc. O disco de sempre, para manter o monopólio.
Mas agora que a torneira petrolífera fecha outra vez (o primeiro corte a magoar foi em 1973) ninguém está preparado, mas ninguém , também, deverá queixar-se ou achar esta súbita escassês incómoda. Para os demagogos e pacóvios do energivorismo, o público deve aceitar estes atrasos (de vida) e estes retrocessos como o preço a pagar pelo (alegremente ...) progresso.
Durante muito tempo as críticas feitas ao desenvolvimento foram consideradas, pelas ideólogos e técnicos do triunfalismo tecnológico, manifestações saudosistas e os ecologistas, ainda hoje, são rotulados de reaccionários por se recusarem a aceitar o «progresso» que mata, queima, intoxica e destrói.
O crescimento infinito, o desenvolvimento logarítmico ou exponencial, as metas que constantemente eram apontadas para atingir, as taxas a conquistar e a expansão a manter criaram uma «teologia dogmática que, como uma igreja sectária, não permitia qualquer objecção, por mais racional, realista e sensata que fosse, em defesa da Natureza e da Vida.
Ora o que se verifica hoje, a olhos vistos, é que o tal desenvolvimento começa a travar. As tais taxas deixaram de aumentar. O crescimento deixou de crescer. E o progresso é feito de constantes retrocessos que, ainda por cima, as pessoas pagam quase sempre na sua segurança, na sua vida e na sua tranquilidade. Os ideólogos, técnicos e metafísicos da religião tecno-industrial, agora que são eles a travar o comboio de loucos que até agora tinham accionado, não tugem nem mugem. Dão ordens de marcha atrás, e calam-se. Fecham a tor-neira do petróleo, produzem a recessão, o desemprego, a estagninflação maciça, mas não são por isso cognominados de reaccionários. Sucedem-se as derrapagens, mas eles continuam olimpicamente os heróis da fita. Imperturbáveis, os tecnocratas que nos estão mergulhando numa nova idade média, com laivos de pedra lascada e canibalismo, devem considerar que todos estes retrocessos, atrasos (de vida) e derrapagens fazem parte do «progresso» à maneira deles.
Quando eles prometiam que a curva de crescimento económico não tinha fim, logo qualquer pessoa sadia de mente e espírito percebia que o dito «progresso» tinha que ter um ponto crítico e não poderia marchar infinitamente até ao infinito.
Afinal, não foram os ecologistas («reacionários» segundo os duros do PNB tecnocrático) que contribuíram para este panorama de caranguejo que são as consecutivas «arrecuas» verificadas no sistema económico mundial. Para estas misérias, racionamentos e apertos de cinto.
Os ecologistas limitam-se, neste momento, a constatar pura e simplesmente que tinham razão. Enquanto a crise alastra, a penúria aumenta e a escalada do disparate assume os aspectos hilariantes que se vai vendo, o ecologista descansa. Não precisa de lutar nem de arremeter contra as «hostes inimigas». É o próprio sistema (a intrínseca inércia do disparate e absurdo que lhe é própria) a trabalhar e ele a descansar.
Por outro lado, rebentam as contradições de um sistema cuja lógica foi sempre anti-ecológica. Crescimento infinito num globo ou ecossistema finito teria que dar raia. Está dando. Enquanto o canceroso progresso apodrece e as ruínas deste modelo de triunfalismo balofo se começa a empilhar no dia a dia mundial, os homens de bom senso e amor e justiça constroem uma eco-sociedade onde não dê vergonha nem nojo nem vómito nem raiva viver.
***
OS RETROCESSOS DO PROGRESSO
17/6/1979 - É facto consumado que a administração Carter irá subvencionar de 5 dólares por barril (15 por cento do preço aproximadamente) as importações de «fuel».
Mau grado o ardil norte-americano de ter subsidiado as importações de produtos petrolíferos com este «bónus» ( que se assemelha ao mel para atrair a formiga ao veneno) está dito e redito pelas sete irmãs petrolíferas que os Estados Unidos vão sofrer dois anos de penúria e que o melhor, para já, é irem pensando em racionar. Vai ser de morte.
«A falta não é fictícia» (quer dizer que podia ser...) e o público tem de compreender que há uma falta real de petróleo» - assegura a Standart Oil of Indianna.
O público compreende. Ficou de língua de fora quanto aos prazeres da gasolina e seus derivados, mas compreende. O que (o macaco) não entende é como se vai aguentar, com mais este balanço, o triunfalismo do desenvolvimento, do crescimento, da taxa de expansão, do PNB sempre a subir, da curva exponencial que é o alfa e o ómega desta sociedade a caminho do infinito (da infinita asneira e miséria), enfim, do progresso e do paraíso que nos prometeram a troco de toda a porcaria chamada poluição, de toda a poluição chamada alienação, de toda a alienação chamada exploração do homem pelo homem. Da abundância do desperdício.
Como é que tão paradisíacas promessas e tecnoprofecias se conciliam (sem contradição mortal) com a «marcha atrás» que a já prevista escassez de petróleo irá provocar, eis o que as multinacionais não precisam de explicar. A gente só queria entender.
Recessão, desemprego, estagnaflação - eis onde mergulha, de repente, a euforia triunfalista que prometeu mundos e só nos deu fundos (rotos), que nos promete mil e um paraísos enquanto nos vai dando o Inferno.
Anos e anos, os monopólios da energia (e nem só) convenceram o consumidor de que tudo devia estar na dependência de uma só torneira: a que eles controlavam, evidentemente. Através de gigantescas lavagens ao cérebro, convenceram a opinião pública de que as ecoalternativas tecnológicas e energéticas (sol, vento, biogás, ondas, marés, geotermia) ainda não eram «rentáveis». Desculparam-se de que era necessário aperfeiçoar tecnologias. Etc. O disco de sempre, para manter o monopólio.
Mas agora que a torneira petrolífera fecha outra vez (o primeiro corte a magoar foi em 1973) ninguém está preparado, mas ninguém , também, deverá queixar-se ou achar esta súbita escassês incómoda. Para os demagogos e pacóvios do energivorismo, o público deve aceitar estes atrasos (de vida) e estes retrocessos como o preço a pagar pelo (alegremente ...) progresso.
Durante muito tempo as críticas feitas ao desenvolvimento foram consideradas, pelas ideólogos e técnicos do triunfalismo tecnológico, manifestações saudosistas e os ecologistas, ainda hoje, são rotulados de reaccionários por se recusarem a aceitar o «progresso» que mata, queima, intoxica e destrói.
O crescimento infinito, o desenvolvimento logarítmico ou exponencial, as metas que constantemente eram apontadas para atingir, as taxas a conquistar e a expansão a manter criaram uma «teologia dogmática que, como uma igreja sectária, não permitia qualquer objecção, por mais racional, realista e sensata que fosse, em defesa da Natureza e da Vida.
Ora o que se verifica hoje, a olhos vistos, é que o tal desenvolvimento começa a travar. As tais taxas deixaram de aumentar. O crescimento deixou de crescer. E o progresso é feito de constantes retrocessos que, ainda por cima, as pessoas pagam quase sempre na sua segurança, na sua vida e na sua tranquilidade. Os ideólogos, técnicos e metafísicos da religião tecno-industrial, agora que são eles a travar o comboio de loucos que até agora tinham accionado, não tugem nem mugem. Dão ordens de marcha atrás, e calam-se. Fecham a tor-neira do petróleo, produzem a recessão, o desemprego, a estagninflação maciça, mas não são por isso cognominados de reaccionários. Sucedem-se as derrapagens, mas eles continuam olimpicamente os heróis da fita. Imperturbáveis, os tecnocratas que nos estão mergulhando numa nova idade média, com laivos de pedra lascada e canibalismo, devem considerar que todos estes retrocessos, atrasos (de vida) e derrapagens fazem parte do «progresso» à maneira deles.
Quando eles prometiam que a curva de crescimento económico não tinha fim, logo qualquer pessoa sadia de mente e espírito percebia que o dito «progresso» tinha que ter um ponto crítico e não poderia marchar infinitamente até ao infinito.
Afinal, não foram os ecologistas («reacionários» segundo os duros do PNB tecnocrático) que contribuíram para este panorama de caranguejo que são as consecutivas «arrecuas» verificadas no sistema económico mundial. Para estas misérias, racionamentos e apertos de cinto.
Os ecologistas limitam-se, neste momento, a constatar pura e simplesmente que tinham razão. Enquanto a crise alastra, a penúria aumenta e a escalada do disparate assume os aspectos hilariantes que se vai vendo, o ecologista descansa. Não precisa de lutar nem de arremeter contra as «hostes inimigas». É o próprio sistema (a intrínseca inércia do disparate e absurdo que lhe é própria) a trabalhar e ele a descansar.
Por outro lado, rebentam as contradições de um sistema cuja lógica foi sempre anti-ecológica. Crescimento infinito num globo ou ecossistema finito teria que dar raia. Está dando. Enquanto o canceroso progresso apodrece e as ruínas deste modelo de triunfalismo balofo se começa a empilhar no dia a dia mundial, os homens de bom senso e amor e justiça constroem uma eco-sociedade onde não dê vergonha nem nojo nem vómito nem raiva viver.
***
<< Home