ECO-DIAGNÓSTICO 1983
83-06-15-eh>ambpat>silenc> manifest> - mein kampf 15/junho/1983
SINTOMATOLOGIA E CAUSALIDADE - O TABU DA ECOLOGIA HUMANA
15/Junho/1983 - Tema-tabu, como logo se compreende, é o que relaciona doença e meio ambiente. Denunciar as doenças produzidas ou fabricadas pelo Ambiente, é denunciar o Ambiente e todas as componentes políticas, económicas, ideológicas, culturais, que o constituem. Denunciar o ambiente, através das doenças por ele provocadas, é pôr uma alavanca por baixo da engrenagem para a fazer saltar. Apontar a causa dos efeitos (a que chamam sintomas, ou doenças) equivale a apontar o «criminoso» ou «inimigo» principal.
Reforça o carácter tabu deste tema o facto de a maior parte dos «escândalos» no âmbito da chamada saúde pública e/ou segurança quotidiana, ocorrerem, não em casa, não na rua (apesar do contingente de mortos e estropiados das estradas) mas nos locais de trabalho, ao ponto de se poder concluir que as principais doenças não são só doenças do Ambiente mas doenças do trabalho. Ao ponto de se poder concluir: o Trabalho é a (principal) doença. Por antonomásia.
É óbvio como este pressuposto abala os fundamentos de todas as ideologias políticas, estruturalmente neo-esclavagistas, baseadas na religião do trabalho e, algumas, na do proletariado.
Analisar as doenças do Ambiente é ainda pôr em causa as indústrias médicas e paramédicas que vivem (e lucram) exactamente com a prorrogação - exponencial - da causa, o ambiente, que persiste enquanto não for erradicado. Para que o combate ao sintoma, para que o combate à doença «progrida» sempre, fazendo que «progridam» clínicas, cirurgias, farmácias, laboratórios de análises, multinacionais, etc., a concepção oficial e única admitida, única adoptada, só pode ser a concepção sintomatológica da doença, e não a causal ou ecológica.
É evidente que todo o sistema médico, construído sobre a necessidade crescente de haver cada vez mais doentes, não poderia sobreviver, com a complexidade que alcançou, se a tendência se invertesse e em vez de mais, cada vez mais doentes, como actualmente acontece, houvesse menos, cada vez menos. O mundo é um hospital, com porta de saída para o cemitério, não porque a medicina não queira ou não saiba fazer diminuir aritmeticamente a doença, mas porque a sobrevivência do sistema depende do crescimento exponencial da doença.
Ora ao ligar a doença com o ambiente que a provoca, a resposta ecológica e realista iria exactamente no sentido, economicamente utópico, de haver cada vez menos doenças na medidas em que se combatessem e erradicassem os ambientes patogénicos e não os seus efeitos.
A perspectiva do realismo ecológico sobre a doença é assim, por natureza e à partida, altamente subversiva. E a ligação da doença ao ambiente um assunto verdadeiramente tabu.
À medida que se caminha na pormenorização das causas que produzem determinadas doenças, o médico fecha-se ao diálogo. No final da conversa [com o jornalista] o médico permite-se mesmo alvejar o interlocutor, se este foi crítico e não se deixou enrolar pela sofística médica, com este comentário irónico: «A sua angústia em querer saber as causas não pode ainda ter, neste momento, uma resposta da ciência». Ponham-se aqui os pontos de espantação necessários e suficientes a este manso dislate.
Subentende-se que a palavra «angústia» estará na sua mente médica associada à palavra «metafísica» e que esta tem portanto para si um sentido pejorativo. Filosoficamente falando, os médicos mais eruditos estão no positivismo de há cento e tal anos.«Angústia», no entender irónico deste especialista, é querer saber as causas e não se contentar com a exposição consumada dos efeitos. A tal «angústia», porém, deve-se no entanto todo o ímpeto investigador dos celebrados cientistas e da celebrada ciência através da história, nos tempos em que investigador e cientista queriam evidentemente dizer alguma coisa. Mas o investigador ou cientista como indagador de causas está hoje, pelos vistos, travestido do seu oposto: o explorador dos efeitos sem jamais indagar das causas. Por isso um médico ilustre considera angústia ir às causas da insuficiência renal crónica.
Foi indisfarçável também, nesta conversa com um eminente nefrologista, que quanto mais soubermos das causas da insuficiência renal crónica menos hemodialisados haverá. E um médico, por mais humanista que seja, é sempre mais amigo da clínica que dirige ou na qual trabalha. É humano. Mesmo remota, a hipótese de o número de hemodialisados vir a descer, é desconfortável para as clínicas de hemodiálise que tanto dinheiro custaram a instalar. (Sejamos humanos e compreendamos.) Ora uma análise das verdadeiras causas da insuficiência renal poderia fazer com que esse número descesse perigosamente...
Portanto e em vez de um claro «despiste precoce» - como dizem por dizer os médicos - o que temos, na prática, é uma nebulosa, ambígua e abstracta predisposição para não referir os principais «culpados» da insuficiência renal crónica que são evidentemente os medicamentos. Remetendo a doença para o poço sem fundo das causas «congénitas» ou hereditárias, boa desculpa de todo o culpado, a medicina lava daí as suas sujas mãos,
[agentes químico-medicamentosos causadores de doenças]
Em Novembro de 1974, estudo realizado pela Universidade de Florida, indicava que analgésicos de venda livre representam um dos causadores mais frequentes de efeitos «indesejáveis». De acordo com o estudo publicado pelo jornal da Associação Americana de Medicina, sobre mais de 6000 doentes admitidos no decurso de três anos, 2,9 por cento sofriam de enfermidades provocadas por medicamentos. Em segundo lugar vinham os antibióticos. Ao todo, estavam implicadas 109 drogas farmacêuticas.
----Em Novembro de 1979, a OMS salientava que os perigos inerentes à vacinação antivaríola, podem ser hoje maiores do que os perigos específicos da doença. A encefalite pós-vacinação era apontada pela OMS como um desses perigos.
Em Agosto de 1981, relatório publicado pelo centro da ONU sobre empresas multinacionais, refere efeitos «posteriores»[a posteriori] de:
-hormonas sexuais sintéticas no Brasil
-pesticidas no Egipto
-sementes tratadas com fungicidas à base de mercúrio na Guatemala, Iraque e Paquistão
Em 1973 era levantada publicamente a questão dos efeitos provocados sobre a saúde pública pelo pó de alcatrão que os pneus revestidos de cravos - usados nos pisos de estradas com neve - provocariam no aparelho respiratório dos automobilistas e da população em geral. O Dr. Serge Neukomm, director do Instituto Universitário de Medicina Preventiva e Social de Lausana efectuou uma série de experiências para provar o risco existente nesse pó de alcatrão. Pôde provar-se que o pó continha hidrocarbonetos policíclicos como o 3,4-benzopireno, de natureza cancerígena reconhecida há muito tempo.
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SINTOMATOLOGIA E CAUSALIDADE - O TABU DA ECOLOGIA HUMANA
15/Junho/1983 - Tema-tabu, como logo se compreende, é o que relaciona doença e meio ambiente. Denunciar as doenças produzidas ou fabricadas pelo Ambiente, é denunciar o Ambiente e todas as componentes políticas, económicas, ideológicas, culturais, que o constituem. Denunciar o ambiente, através das doenças por ele provocadas, é pôr uma alavanca por baixo da engrenagem para a fazer saltar. Apontar a causa dos efeitos (a que chamam sintomas, ou doenças) equivale a apontar o «criminoso» ou «inimigo» principal.
Reforça o carácter tabu deste tema o facto de a maior parte dos «escândalos» no âmbito da chamada saúde pública e/ou segurança quotidiana, ocorrerem, não em casa, não na rua (apesar do contingente de mortos e estropiados das estradas) mas nos locais de trabalho, ao ponto de se poder concluir que as principais doenças não são só doenças do Ambiente mas doenças do trabalho. Ao ponto de se poder concluir: o Trabalho é a (principal) doença. Por antonomásia.
É óbvio como este pressuposto abala os fundamentos de todas as ideologias políticas, estruturalmente neo-esclavagistas, baseadas na religião do trabalho e, algumas, na do proletariado.
Analisar as doenças do Ambiente é ainda pôr em causa as indústrias médicas e paramédicas que vivem (e lucram) exactamente com a prorrogação - exponencial - da causa, o ambiente, que persiste enquanto não for erradicado. Para que o combate ao sintoma, para que o combate à doença «progrida» sempre, fazendo que «progridam» clínicas, cirurgias, farmácias, laboratórios de análises, multinacionais, etc., a concepção oficial e única admitida, única adoptada, só pode ser a concepção sintomatológica da doença, e não a causal ou ecológica.
É evidente que todo o sistema médico, construído sobre a necessidade crescente de haver cada vez mais doentes, não poderia sobreviver, com a complexidade que alcançou, se a tendência se invertesse e em vez de mais, cada vez mais doentes, como actualmente acontece, houvesse menos, cada vez menos. O mundo é um hospital, com porta de saída para o cemitério, não porque a medicina não queira ou não saiba fazer diminuir aritmeticamente a doença, mas porque a sobrevivência do sistema depende do crescimento exponencial da doença.
Ora ao ligar a doença com o ambiente que a provoca, a resposta ecológica e realista iria exactamente no sentido, economicamente utópico, de haver cada vez menos doenças na medidas em que se combatessem e erradicassem os ambientes patogénicos e não os seus efeitos.
A perspectiva do realismo ecológico sobre a doença é assim, por natureza e à partida, altamente subversiva. E a ligação da doença ao ambiente um assunto verdadeiramente tabu.
À medida que se caminha na pormenorização das causas que produzem determinadas doenças, o médico fecha-se ao diálogo. No final da conversa [com o jornalista] o médico permite-se mesmo alvejar o interlocutor, se este foi crítico e não se deixou enrolar pela sofística médica, com este comentário irónico: «A sua angústia em querer saber as causas não pode ainda ter, neste momento, uma resposta da ciência». Ponham-se aqui os pontos de espantação necessários e suficientes a este manso dislate.
Subentende-se que a palavra «angústia» estará na sua mente médica associada à palavra «metafísica» e que esta tem portanto para si um sentido pejorativo. Filosoficamente falando, os médicos mais eruditos estão no positivismo de há cento e tal anos.«Angústia», no entender irónico deste especialista, é querer saber as causas e não se contentar com a exposição consumada dos efeitos. A tal «angústia», porém, deve-se no entanto todo o ímpeto investigador dos celebrados cientistas e da celebrada ciência através da história, nos tempos em que investigador e cientista queriam evidentemente dizer alguma coisa. Mas o investigador ou cientista como indagador de causas está hoje, pelos vistos, travestido do seu oposto: o explorador dos efeitos sem jamais indagar das causas. Por isso um médico ilustre considera angústia ir às causas da insuficiência renal crónica.
Foi indisfarçável também, nesta conversa com um eminente nefrologista, que quanto mais soubermos das causas da insuficiência renal crónica menos hemodialisados haverá. E um médico, por mais humanista que seja, é sempre mais amigo da clínica que dirige ou na qual trabalha. É humano. Mesmo remota, a hipótese de o número de hemodialisados vir a descer, é desconfortável para as clínicas de hemodiálise que tanto dinheiro custaram a instalar. (Sejamos humanos e compreendamos.) Ora uma análise das verdadeiras causas da insuficiência renal poderia fazer com que esse número descesse perigosamente...
Portanto e em vez de um claro «despiste precoce» - como dizem por dizer os médicos - o que temos, na prática, é uma nebulosa, ambígua e abstracta predisposição para não referir os principais «culpados» da insuficiência renal crónica que são evidentemente os medicamentos. Remetendo a doença para o poço sem fundo das causas «congénitas» ou hereditárias, boa desculpa de todo o culpado, a medicina lava daí as suas sujas mãos,
[agentes químico-medicamentosos causadores de doenças]
Em Novembro de 1974, estudo realizado pela Universidade de Florida, indicava que analgésicos de venda livre representam um dos causadores mais frequentes de efeitos «indesejáveis». De acordo com o estudo publicado pelo jornal da Associação Americana de Medicina, sobre mais de 6000 doentes admitidos no decurso de três anos, 2,9 por cento sofriam de enfermidades provocadas por medicamentos. Em segundo lugar vinham os antibióticos. Ao todo, estavam implicadas 109 drogas farmacêuticas.
----Em Novembro de 1979, a OMS salientava que os perigos inerentes à vacinação antivaríola, podem ser hoje maiores do que os perigos específicos da doença. A encefalite pós-vacinação era apontada pela OMS como um desses perigos.
Em Agosto de 1981, relatório publicado pelo centro da ONU sobre empresas multinacionais, refere efeitos «posteriores»[a posteriori] de:
-hormonas sexuais sintéticas no Brasil
-pesticidas no Egipto
-sementes tratadas com fungicidas à base de mercúrio na Guatemala, Iraque e Paquistão
Em 1973 era levantada publicamente a questão dos efeitos provocados sobre a saúde pública pelo pó de alcatrão que os pneus revestidos de cravos - usados nos pisos de estradas com neve - provocariam no aparelho respiratório dos automobilistas e da população em geral. O Dr. Serge Neukomm, director do Instituto Universitário de Medicina Preventiva e Social de Lausana efectuou uma série de experiências para provar o risco existente nesse pó de alcatrão. Pôde provar-se que o pó continha hidrocarbonetos policíclicos como o 3,4-benzopireno, de natureza cancerígena reconhecida há muito tempo.
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