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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-06-15

CRESCIMENTO 1984

1-4 -84-06-15-ie> = ideia ecológica - quinta-feira, 21 de Novembro de 2002-scan – provavelmente inédito, este texto recapitula algumas ideias e autores básicos da ideia ecológica, falando do que hoje pomposamente se chama «desenvolvimento sustentado».

QUANDO O DESENVOLVIMENTO PRODUZ O SUBDESENVOLVIMENTO

15-6-1984 - Que o desenvolvimento produz o subdesenvolvimento e o crescimento industrial fabrica pobreza/miséria, já foi suficientemente provado por pensadores do realismo ecologista.
Números estatísticos vieram confirmar o que a intuição de alguns eco-profetas previra.
As instituições, quer económicas quer políticas, abaladas no seu dogma máximo - a religião do crescimento económico como panaceia universal para resolver todos os problemas - fingiram não notar.
Mesmo quando as estatísticas da CEE provaram haver nos países desenvolvidos e prósperos da Comunidade, uma zona negra de pobreza - 11,4% da população abaixo da linha de extrema pobreza - as mesmas estatísticas indicavam que 50% da população ignorava os pobres dentro das suas imponentes e prósperas sociedades!
Ainda aqui não estalou o escândalo, mesmo entre as consciências cristãs.
O desenvolvimento ou crescimento industrial era e continuaria a ser a "religião universal dos nossos tempos e mundos".
Só em 1981, João Paulo II lançava a encíclica "Laborem Exercens", muitos anos depois de Ivan Illich, Michel Bosquet, Frederich Schumacher, Jacques Attali e alguns outros, enfrentarem os dragões ferozes da Economia oficial , disposta a devorar os próprios filhos.
Valentina Borreman's, no Centro Internacional de Cuernavaca que fundara no México com Ivan Illich, editava em 1978 o “Reference Guide to Convivial Tools", bíblia das Tecnologias Alternativas e do Eco-Desenvolvimento.
Qual das respeitáveis instituições que lamentam a Pobreza dos Povos leu ou mandou ler essa bíblia?
Em 1982, surge em Espanha talvez o primeiro grande Tratado de Anti-Economia-como-Religião, a obra de Ramon Tamames ''La Polemica sobre los Limites al Crescimiento".
A nível mais oficial, o presidente do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (P.N.U.M.A.), com sede em Nairobi, compila em 1982 os seus discursos de vários anos sob o título genérico "Desenvolvimento sem Destruição: a abrir o seu livro, Mustafa Tolba fala de "Alimentação e Meio Ambiente", mostrando como o desenvolvimento tem fundamentalmente a ver com ecologia e ética ecológica.

A propósito do colóquio sobre "Crise Económica e Pobreza", realizado em Lisboa por iniciativa da Caritas, lembrámos aqui em semana anterior (16-6-1984), a operação "Pirâmide" que a Cruz Vermelha Portuguesa realizou no Natal de 1978.
Lembrámos como essa Operação foi criticada pelas vozes dos que já na altura prometiam paraísos e, o que é mais curioso, continuam prometendo, ainda hoje, com êxito igual.
Falou-se mesmo de "indignidade" a que se prestavam nomes famosos do palco e da Televisão.
Vale a pena retomar este "leit-motiv" da ética que nos convém para a miséria que temos. Ou seja: que moral pode ser a nossa quando quase 50% da população está abaixo da linha mais baixa da pobreza.
Se a Operação Pirâmide foi "ofensiva da dignidade nacional", como alguns fogosos progressistas proclamavam, teríamos então que fazer uma "pirâmide" quase até ao céu de coisas que já então eram e continuam sendo bem mais aviltantes da consciência nacional.
No calendário do oportunismo político a que a Igreja dá sempre boa e oportuna colaboração, os cancros sociais como a Pobreza têm dia e hora para serem devidamente empolados e enfatizados. Cada coisa a seu tempo - dizia a Bíblia.
Com efeito, dramatizar, neste preciso momento e neste pobre País, a Pobreza que sempre existiu e descobrir que Setúbal, o tal pólo do desenvolvimento industrial que traria prosperidade para todos, era uma das "bolsas" pobres mais pobres de Portugal, parece ter sido coisa do demónio mas, paradoxalmente, a coqueluche das consciências alarmadamente cristãs nos últimos tempos.
Últimos entenda-se: depois de a despenalização do aborto ter sido aprovada e a Igreja ter ficado por isso com um grande melão, nunca mais perdoando ao Dr. Mário Soares e aos governos de Mário Soares.
As consciências menos cristãs desconfiam da fartura (de só agora haver tanta miséria!...) e vão ao colóquio da Fundação Gulbenkian, sítio aliás adequadíssimo e de extrema pobreza para decorrer, como é óbvio, um colóquio de tão evangélica natureza.
Vão e aprendem que, afinal, já em 1973 - meses antes da alvorada de 25 de Abril que daria tantas insónias aos homens sem sono - um inquérito do I.N.E. assinalava que um terço da população portuguesa vivia em degrau de "extrema pobreza".
A evangélica instituição eclesial, sempre de coração despedaçado pelos pobres, cinquenta anos na mó de cima com um regime político que inegavelmente protegia e a protegia, não teve tempo de realizar colóquios na Fundação antes da crise petrolífera.

Abençoada crise das ramas que pode explicar quase tudo, inclusive o 25 de Abril, a Fundação, o Calouste, o endividamento externo de Portugal, o Terceiro Mundo do Médio Oriente que apertando as torneiras deu origem ao Quarto Mundo dos estrangulados pelo "choque petrolífero", Londres iluminada a velas, a inflação galopante com o freio nos dentes, a sobre-exploração dos já explorados, o fosso Norte-Sul ainda maior, o endividamento externo, o FMI, etc

MESES ANTES DO CHOQUE PETROLÍFERO

Meses antes do choque petrolífero vir dar uma explicação teológica global de tudo e mais alguma coisa - inclusive por em causa o conceito religioso de crescimento industrial - já o I.N.E., em Portugal, no entanto, assinalava um terço da população portuguesa em pobreza extrema.
Quando o governo do Bloco está em apuros, a Igreja lembra-se de rezar esse Terço. E que bem o reza, na linha da encíclica "Laborem Exercens" , laboriosamente dada à luz por João Paulo II em 1982, com uma crítica implícita às ideologias do desenvolvimentismo e do produtivismo.
Consciências muito cristãs, entretanto, continuavam dando aval aos dogmas do desenvolvimento, para elas, consciências, também transformado em religião. É tardiamente que se põe em causa o Establishment quando ainda agora, por toda a parte onde o subdesenvolvimento alastra por culpa do desenvolvimento, se continua a fabricar o sub-desenvolvimento com o nome teimoso e vicioso de desenvolvimento.
Não adianta muito falar em "desenvolvimento sustentado" só para evitar falar de Eco-desenvolvimento.
O manifesto pudor cristão perante o dogma do Crescimento significa que, mais uma vez, a tutelar Instituição se deixou ultrapassar pela História.
Ainda não reconhece a análise ecológica da realidade económica, quando o chamado Desenvolvimento já tem as tripas à mostra há muitos anos, já mostrou todas as atrocidades de que era capaz, já exibiu suficientemente as suas fauces fascistas e já se revelou em toda a plenitude de sistema totalitário, pai de totalitarismos.
A surdez de quem não quer ouvir teve uma ocasião prática de se mostrar no âmbito do movimento inter-grupos, primeiro, e no do Movimento para o Aprofundamento da Democracia depois, onde os espíritos verdadeiramente de vanguarda e sensíveis à mutação dialéctica da história eram sistematicamente abafados por meia dúzia de couraças rijas, de burocratas que ali impunham as respectivas cartilhas e cassetes, deixando mais uma vez que a Mediocridade reinasse, já que dos medíocres é sempre o Reino dos Céus.
Foi pena. Perdeu-se um bom capital humano, queimaram-se figuras-chave de um verdadeiro movimento de eco-alternativas, deixou-se a Esperança mais uma vez sucumbir.

A MÍSTICA FRANCISCANA

Confesso que não vi por aqui muitos cristãos e evangelistas muito interessados em renovar a mística franciscana do amor à Natureza como condição sine que non de matar a fome no Terceiro Mundo e salvar da catástrofe o Planeta Terra.
Vi, sim, alguns católicos repetirem as cassetes terceiro-mundistas de grandes blocos hegemónicos, quando já era claro estarem os recursos planetários pilhados e delapidados pelos blocos hegemónicos, a Leste e a Oeste, mais do que nunca na origem do fosso Norte-Sul.
Mais do que nunca a questão de fundo é ecológica e ainda católicos célebres hesitavam em perceber de onde soprava o vento, e já os próprios protestantes, do ramo ecuménico das Igrejas, por exemplo, se davam conta, muito mais cedo, de terem nos ecologistas os aliados de primeira fila.
Se hoje, em assembleia cristã, se fala da Ecologia como a Ética evangélica por excelência há sempre os que, com falsa modéstia, alegam não estar suficientemente informados.
Mas quem anda nisto e diz defender acima de tudo a causa divina do homem e a causa humana de Deus, não pode alegar "ignorância da lei". Não pode desertar. Essa alegada ignorância talvez seja, no entanto, outra questão mais difícil de confessar: o coração desses cristãos tem-se fechado e continua a fechar-se à sensiblidade ecológica nascente, que exige, pouco mais ou menos, quase tanto como uma reconversão religiosa.
Pôr em questão um dogma, seja ele religioso ou científico, equivale a um terremoto mental de consequências desastrosas para os funcionários que vivem desse dogma.
Todos temem a mudança, mesmo aqueles que gostariam de pôr o dogma em causa, neste caso, o dogma do desenvolvimento económico e/ou do crescimento industrial.
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