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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-06-15

SILÊNCIOS 1980

80-06-15-ecc> = ecos da capoeira – os silêncios que falam – os dossiês do silêncio – inédito ac de 1980 – devo ter enviado ao deodato para «barlavento»

OS SILÊNCIOS DA DEMOCRACIA

15/6/1980 - Com tantos órgãos de comunicação social, deputados, conselheiros da Revolução, Governos, os portugueses nunca andaram tão bem informados como agora.
Não há dor de barriga (ou de dentes) que aconteça a político ou desportista que não ressoe por montes e quebradas, até às serranias do Nordeste transmontano, às penedias alentejanas de Elvas, Portalegre e Monsaraz, ou aos descampados raianos da margem esquerda do Guadiana.
Já não se pode dizer que a Imprensa e restantes “mass media" ponha o mesmo zelo em informar São Bento, Belém e o Bairro Alto do que se passa naquelas zonas distantes deste pequeno País. Mas, pelos vistos, grande demais para a Imprensa que tem.
Por exemplo: no Pomarão, afluente do Rio Guadiana, "consta" que os espanhóis estão construindo portentosa barragem. "Consta" também que houve em tempos um "acordo" luso-espanhol que daria as águas do Guadiana ao aproveitamento dos portugueses. Como - também consta - Alqueva não anda nem desanda, eis que os "hermanos" espanhois - também "consta" - avançaram em beleza para aquilo que o "Jornal do Algarve" (Junho de 1980) classificava, extasiado, de grande empreendimento "na mira do progresso":
“Grandes torres de alta tensão erguem-se, qual gigantes estendidos ao céu".
Violentamente emocionado, "Jornal do Algarve" logo acrescenta:
" Casas constroem-se. Caminhos novos rasgam os montes".
Mas como tudo decorre no "consta", no silêncio (dos deuses) dos espanhóis, e o Governo tem mais que fazer do que preocupar-se com estes incidentes-fronteiriços, o "Jornal do Algarve" insurge-se, convidando os algarvios a "bater o pé", " a exigir que se façam negociações" e "que se veja até” que ponto estão os espanhóis a ir."
Peremptório, o semanário de Vila Real de Santo António quer saber até onde vai aquele empreendimento do Chança, que conhecimento do que ali se prepara tem o Governo português, como se integra aquele empreendimento nos acordos estabelecidos com o nosso país..."
Governo ocupado, deputados ocupadíssimos, grande imprensa não se fala, Conselho da Revolução só marcando consulta, claro que ninguém vai ocupar-se desta e de outras ninharias que afectam o povo deste País.

AGUIEIRA: OUTRA NINHARIA QUE DEU BRADO

Pertence ao domínio de caricatura bordalesca , o que se (des)disse da Barragem da Aguieira, no Mondego, confluência com o Dão.
As notícias contraditórias ora davam como beneficio o que era calamidade, ora davam como calamidade o que era o paraíso para os agricultores ribeirinhos, de repente com as terras alagadas.
Os Serviços Hidráulicos guardaram-se para melhor oportunidade. Conferência de imprensa é só quando algum senhor importante sente os calos pisados, ou quando se trata de anunciar "grandioso empreendimento".
Para explicar como e quando vai ser alagada a albufeira da Barragem da Aguieira, cada um disse a sua e foi um ver se te avias.
Resultado: impossível hoje, pelas notícias que saíram , saber como vai a Barragem da Agueira, que espécie de impacto vai ter, que reflexos e resultados terá na agricultura regional.

INSTITUCIONALIZAR O SILÊNCIO: A DEMOCRACIA CONCENTRACIONÁRIA

Há silêncios pesados, prolongados, suspeitos. Podres.
Se duram muito, a Democracia oscila. E quanto mais duram, mais a Democracia oscila.
Se há canais por onde devem ser dadas as informações que devem ser dadas, convém que os advogados da Democracia, sempre tão preocupados com a sua saúde e bem estar, informem mesmo. Ou que veladamente não ameacem quem pretende informar porque inclusive é essa a sua profissão.

MISTÉRIO DOS «LARANJAS»

Mistério a que igualmente só se conhece a cor, é o dos famigerados "laranjas". Já nem os mortos, agora, são noticiados. Passou-se à fase perfeita : a rotina.
Institucionalizado o caos e desde que o acidente (al) se torne sistemático, deixa de ser notícia. Passa ao campo santo do silêncio (fúnebre). Lembram-se das três linhas para os soldados mortos em Angola, Guiné, Moçambique?...
Cruzes, cruzes, muitas cruzes, em vez de informação, para santificar os mortos. Mais mortos por "laranjas" que importância tem isso, se até já não 4" novidade? Se já deixou de ser noticia? Se já entrou na rotina?
Antes e depois do 25 de Abril, sempre que o silêncio se institucionaliza, passamos à fase da "democracia concentracionária". E os advogados, pelo seguro, vão indo de férias, que a vida são dois dias e o Verão no Algarve uma frescura.
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