GINKGO BILOBA 1996
1-2 < 96-06-27-fi> ficções - sexta-feira, 28 de Fevereiro de 2003-novo word
27-6-1996
VIVEM E CRESCEM NUM JARDIM - DOIS DINOSSAUROS EM LISBOA
Texto de Afonso Cautela
Dois dinossauros do reino vegetal vivem e crescem num jardim de Lisboa, felizmente ignorados do Dr. Galopim de Carvalho. Se os descobrisse, já os tinha embalsamado e recolhido no museu da Faculdade de Ciências.
São dois exemplares da espécie Ginkgo Biloba, que se diz ter abrigado do sol escaldante os dinossaurios de há 150 milhões de anos. Lá estão calmos, não identificados, atestando que o ADN da célula vegetal é muito mais resistente à barbárie humana do que os animais propriamente ditos. E de que o gigantismo, no reino vegetal, não constitui ameaça à sobrevivência da espécie. Já todos repararam, com certeza, que uma árvore cresce para o céu, o que lhe dá uma postura idêntica mas superior à do ser humano.
Os dois Ginkgo Biloba mostram às gerações futuras que a informação primordial continua ao nosso alcance, basta ir lá com uma câmara.
Foi o que fez o fotógrafo de «A Capital», sob a condição de não identificarmos o local onde vivem, na paz de Deus, os dois magníficos exemplares.
Segundo reza a lenda, os mais velhos e estranhos Ginkgos Bilobas vivem na China, onde ultrapassam os 40 metros, atingem 10 metros de perímetro e aproximam-se dos 4000 anos.
Mas o caso mais espantoso aconteceu no Japão, em Hiroxima, depois da célebre noite de 6 de Agosto de 1945, em que os seres humanos quiseram mostrar à posteridade até que pontos de barbárie podiam chegar.
Anos mais tarde, do meio dos escombros, emergia o tronco calcinado de uma árvore. O rebento cresceu e hoje é um Ginkgo Biloba adulto, disposto a enfrentar outra bomba atómica.
Dois sexos
Diz a ciência botânica que o Ginkgo não floresce, existindo os pés femininos e os pés masculinos, que os especialistas diferenciam pelo porte da ramagem, tipo de ramificações e aspectos dos rebentos. Pela lógica da vida sexual que regula esta espécie - na fronteira entre o vegetal e o animal - tudo indica que os dois Ginkgo fotografados num jardim de Lisboa constituem um casal apaixonado e inseparável. Um bom observador poderá reconhecer o sexo do animal, esperando pelo Outono, quando as árvores femininas se cobrem de «frutos» semelhantes aos abrunhos.
Frutos entre aspas, pois, como avisam os cientistas, esta árvore não produz um verdadeiro fruto, no sentido botânico do termo mas um óvulo, mais parecido com um ovo de galinha, conjunto composto de envólucros protectores de substâncias de reserva para alimentar o embrião em caso de fecundação da célula reprodutora feminina.
A história genética do Biloba é outro espanto: constitui só por si um género (Biloba), uma família (ginkgoáceas), uma ordem (ginkgoálias) e uma classe (ginkgoras). Esta posição única na hierarquia vegetal não se deve a nenhuma mutação recente mas a uma constância genética perfeitamente invulgar.
Quando o Ginkgo servia de guarda sol aos dinossauros, os recenseadores teriam verificado uma dúzia de espécies, repartidos por todos os continentes do Planeta. Assistiu a todas as épocas geológicas: primária, carbonífero, secundária, terciária. A partir do quaternário, depois de uma enorme razia, ficou confinado ao leste da China, onde é, obviamente, objecto de culto. O sagrado em estado alquimicamente puro já vai sendo raro. Mas com as figuras do Coa e os Ginko de boa saúde, não há que ter receios.
Segredos da Longevidade
Lição qua o homem e todas as espécies em vias de extinção deviam aprender quanto antes, é o que faz a megalongevidade do Ginkgo:a resistência à seca e ao frio (20 graus centígrados negativos), por exemplo, permite-lhe subsistir hoje desde a Dinamarva à América do Norte.
A longa persistência da maturação sexual - entre o vigésimo e o milésimo anos de vida - coloca-a ao abrigo das mutações genéticas e assegura a estabilidade da espécie.
A resistência aos insectos, faz com que alguns povos o tivessem aproveitado como insecticida: quando secas dentro de um livro, as folhas asseguram a sua conservação.
Mas é conhecida também a resistência da Ginkgo aos fungos, aos vírus e a todos os factores patogénicos da sociedade industrial. Por cada árvore que a poluição matou, bem podiam os municípios plantar um Ginkgo.
Os fabricantes de produtos naturais ficaram muito gratos, já que se encontra em plena laboração o fabrico de produtos terapêuticos: o fruto, sedativo e expectorante, é indicado para asma, bronquite crónica e tuberculose.
A noz do fruto teria uma acção tubercolástica.
A folha entra na composição de numerosas receitas que asseguram a longevidade dos monges tibetanos. Diz-se que Mao Tsé Tung ter-se-ia mantido jovem e potente até provecta idade, grças ao Ginkgo... O que lhe permitiu mandar chacinar os tibetanos a tempo e horas. Salazar também parece que provou extracto da planta.
Em emplastros, as folhas previnem o cieiro. E os nós das ramificações - diz-se - favorecem o surto do leite na mulher.
Alheios a tanta vantagem profiláctica, os dois exemplares continuam crescendo em Lisboa, à espera que a Expo98 os descubra para plantar, de estaca, nos estaleiros de Cabo Ruivo.
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27-6-1996
VIVEM E CRESCEM NUM JARDIM - DOIS DINOSSAUROS EM LISBOA
Texto de Afonso Cautela
Dois dinossauros do reino vegetal vivem e crescem num jardim de Lisboa, felizmente ignorados do Dr. Galopim de Carvalho. Se os descobrisse, já os tinha embalsamado e recolhido no museu da Faculdade de Ciências.
São dois exemplares da espécie Ginkgo Biloba, que se diz ter abrigado do sol escaldante os dinossaurios de há 150 milhões de anos. Lá estão calmos, não identificados, atestando que o ADN da célula vegetal é muito mais resistente à barbárie humana do que os animais propriamente ditos. E de que o gigantismo, no reino vegetal, não constitui ameaça à sobrevivência da espécie. Já todos repararam, com certeza, que uma árvore cresce para o céu, o que lhe dá uma postura idêntica mas superior à do ser humano.
Os dois Ginkgo Biloba mostram às gerações futuras que a informação primordial continua ao nosso alcance, basta ir lá com uma câmara.
Foi o que fez o fotógrafo de «A Capital», sob a condição de não identificarmos o local onde vivem, na paz de Deus, os dois magníficos exemplares.
Segundo reza a lenda, os mais velhos e estranhos Ginkgos Bilobas vivem na China, onde ultrapassam os 40 metros, atingem 10 metros de perímetro e aproximam-se dos 4000 anos.
Mas o caso mais espantoso aconteceu no Japão, em Hiroxima, depois da célebre noite de 6 de Agosto de 1945, em que os seres humanos quiseram mostrar à posteridade até que pontos de barbárie podiam chegar.
Anos mais tarde, do meio dos escombros, emergia o tronco calcinado de uma árvore. O rebento cresceu e hoje é um Ginkgo Biloba adulto, disposto a enfrentar outra bomba atómica.
Dois sexos
Diz a ciência botânica que o Ginkgo não floresce, existindo os pés femininos e os pés masculinos, que os especialistas diferenciam pelo porte da ramagem, tipo de ramificações e aspectos dos rebentos. Pela lógica da vida sexual que regula esta espécie - na fronteira entre o vegetal e o animal - tudo indica que os dois Ginkgo fotografados num jardim de Lisboa constituem um casal apaixonado e inseparável. Um bom observador poderá reconhecer o sexo do animal, esperando pelo Outono, quando as árvores femininas se cobrem de «frutos» semelhantes aos abrunhos.
Frutos entre aspas, pois, como avisam os cientistas, esta árvore não produz um verdadeiro fruto, no sentido botânico do termo mas um óvulo, mais parecido com um ovo de galinha, conjunto composto de envólucros protectores de substâncias de reserva para alimentar o embrião em caso de fecundação da célula reprodutora feminina.
A história genética do Biloba é outro espanto: constitui só por si um género (Biloba), uma família (ginkgoáceas), uma ordem (ginkgoálias) e uma classe (ginkgoras). Esta posição única na hierarquia vegetal não se deve a nenhuma mutação recente mas a uma constância genética perfeitamente invulgar.
Quando o Ginkgo servia de guarda sol aos dinossauros, os recenseadores teriam verificado uma dúzia de espécies, repartidos por todos os continentes do Planeta. Assistiu a todas as épocas geológicas: primária, carbonífero, secundária, terciária. A partir do quaternário, depois de uma enorme razia, ficou confinado ao leste da China, onde é, obviamente, objecto de culto. O sagrado em estado alquimicamente puro já vai sendo raro. Mas com as figuras do Coa e os Ginko de boa saúde, não há que ter receios.
Segredos da Longevidade
Lição qua o homem e todas as espécies em vias de extinção deviam aprender quanto antes, é o que faz a megalongevidade do Ginkgo:a resistência à seca e ao frio (20 graus centígrados negativos), por exemplo, permite-lhe subsistir hoje desde a Dinamarva à América do Norte.
A longa persistência da maturação sexual - entre o vigésimo e o milésimo anos de vida - coloca-a ao abrigo das mutações genéticas e assegura a estabilidade da espécie.
A resistência aos insectos, faz com que alguns povos o tivessem aproveitado como insecticida: quando secas dentro de um livro, as folhas asseguram a sua conservação.
Mas é conhecida também a resistência da Ginkgo aos fungos, aos vírus e a todos os factores patogénicos da sociedade industrial. Por cada árvore que a poluição matou, bem podiam os municípios plantar um Ginkgo.
Os fabricantes de produtos naturais ficaram muito gratos, já que se encontra em plena laboração o fabrico de produtos terapêuticos: o fruto, sedativo e expectorante, é indicado para asma, bronquite crónica e tuberculose.
A noz do fruto teria uma acção tubercolástica.
A folha entra na composição de numerosas receitas que asseguram a longevidade dos monges tibetanos. Diz-se que Mao Tsé Tung ter-se-ia mantido jovem e potente até provecta idade, grças ao Ginkgo... O que lhe permitiu mandar chacinar os tibetanos a tempo e horas. Salazar também parece que provou extracto da planta.
Em emplastros, as folhas previnem o cieiro. E os nós das ramificações - diz-se - favorecem o surto do leite na mulher.
Alheios a tanta vantagem profiláctica, os dois exemplares continuam crescendo em Lisboa, à espera que a Expo98 os descubra para plantar, de estaca, nos estaleiros de Cabo Ruivo.
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