KARMA 1989
di-89 = diário de ideias 1989 - ecos do mundo -antecedentes da hipótese vibratória em demanda do novo paradigma - ensaios de karma yoga
NA VIDA COMO NA MORTE
11/4/1989 - É sina minha nunca estar de acordo com as altas autoridades que fazem o gosto e a opinião pública. Na vida como na morte, não concordo.
Preconceitos de várias origens - laicas e religiosas - convergem no tema da Morte e, portanto, no da eutanásia, conceito sobre o qual se tem querido polemizar mas sem efeito: os preconceitos são sempre mais fortes do que os conceitos.
O ocidente revela bem a sua inferioridade cultural na abordagem que faz da morte, ou antes: na forma como fecha os olhos a essa realidade ou luz fulgurante.
A tímida polémica que se tem gerado à volta da eutanásia é quase tão longa e inútil como a que se gerou à volta do aborto, embora uma questão pouco tenha a ver uma com a outra.
Mil e um preconceitos, mil e um prejuízos rodeiam a morte, no mundo ocidental, com pretextos muitas vezes hedonistas, quer dizer, em nome do prazer que, sendo o supremo inspirador do discurso publicitário - indutor de consumos - é também o supremo princípio da moral que rege os
líderes políticos e sociais.
Todos eles, tudo isso, encobre, desconhece, ilude a morte, que recua assustada.
Ou seja: nada se sabe dela, e tanto menos se sabe quanto mais se teme.
Foge-se da morte e todos os pretextos . nomeadamente os do hedonismo consumista - servem de fuga.
Por isso a morte, no ocidente, é algo de obsceno. E de inesperado.
É como o cancro, um fatalidade que se finge esquecer, uma coisa desagradável que se encobre, ilude, disfarça, mascara.
Sofremos de uma crónica fobia à morte. A nossa fobia à morte é a nossa maior doença.
E com base em hedonismos de consumo não iremos curar-nos nunca desta doença crónica.
11/Abril/1989 - Nas entre linhas da notícia que fala das enfermeiras de Viena, perpassa uma alucinação cármica intermitente, lampejos de uma luz (que) cega, e ouve-se o murmurar - reza numa grande catedral - das culpas, em montanha, no erro estrutural cometido, por eles, em nome do «bom deus.»
A carga cármica vê-se nelas, que assumiam às costas os restos da vida-expiação das suas vítimas: estas, com efeito, libertavam-se, abreviavam a existência. Mas as quatro enfermeiras, os quatro anjos da morte, carregavam-se do viscoso e espesso gel residual que dos seus mortos ia escorrendo.
A eutanásia é para gente corajosa e de infinita piedade. Abreviando vidas, absorviam o alimento envenenado que dos outros carmas transbordava.
Pela descrição em linhas tortas das notícias distorcidas dos jornais, lê-se o direito da verdade: a piedade de Deus é agora, para elas, que a lei humana vai julgar e encarcerar.
Nada disto bate certo.
A vida é uma chatice, enquanto não soubermos o que fazer com esta outra chatice - a morte.
***
NA VIDA COMO NA MORTE
11/4/1989 - É sina minha nunca estar de acordo com as altas autoridades que fazem o gosto e a opinião pública. Na vida como na morte, não concordo.
Preconceitos de várias origens - laicas e religiosas - convergem no tema da Morte e, portanto, no da eutanásia, conceito sobre o qual se tem querido polemizar mas sem efeito: os preconceitos são sempre mais fortes do que os conceitos.
O ocidente revela bem a sua inferioridade cultural na abordagem que faz da morte, ou antes: na forma como fecha os olhos a essa realidade ou luz fulgurante.
A tímida polémica que se tem gerado à volta da eutanásia é quase tão longa e inútil como a que se gerou à volta do aborto, embora uma questão pouco tenha a ver uma com a outra.
Mil e um preconceitos, mil e um prejuízos rodeiam a morte, no mundo ocidental, com pretextos muitas vezes hedonistas, quer dizer, em nome do prazer que, sendo o supremo inspirador do discurso publicitário - indutor de consumos - é também o supremo princípio da moral que rege os
líderes políticos e sociais.
Todos eles, tudo isso, encobre, desconhece, ilude a morte, que recua assustada.
Ou seja: nada se sabe dela, e tanto menos se sabe quanto mais se teme.
Foge-se da morte e todos os pretextos . nomeadamente os do hedonismo consumista - servem de fuga.
Por isso a morte, no ocidente, é algo de obsceno. E de inesperado.
É como o cancro, um fatalidade que se finge esquecer, uma coisa desagradável que se encobre, ilude, disfarça, mascara.
Sofremos de uma crónica fobia à morte. A nossa fobia à morte é a nossa maior doença.
E com base em hedonismos de consumo não iremos curar-nos nunca desta doença crónica.
11/Abril/1989 - Nas entre linhas da notícia que fala das enfermeiras de Viena, perpassa uma alucinação cármica intermitente, lampejos de uma luz (que) cega, e ouve-se o murmurar - reza numa grande catedral - das culpas, em montanha, no erro estrutural cometido, por eles, em nome do «bom deus.»
A carga cármica vê-se nelas, que assumiam às costas os restos da vida-expiação das suas vítimas: estas, com efeito, libertavam-se, abreviavam a existência. Mas as quatro enfermeiras, os quatro anjos da morte, carregavam-se do viscoso e espesso gel residual que dos seus mortos ia escorrendo.
A eutanásia é para gente corajosa e de infinita piedade. Abreviando vidas, absorviam o alimento envenenado que dos outros carmas transbordava.
Pela descrição em linhas tortas das notícias distorcidas dos jornais, lê-se o direito da verdade: a piedade de Deus é agora, para elas, que a lei humana vai julgar e encarcerar.
Nada disto bate certo.
A vida é uma chatice, enquanto não soubermos o que fazer com esta outra chatice - a morte.
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