CHERNOBYL 1996
cherno-1-MEIN KAMPF 1996
Por Yves Leers, enviado especial da France Press
Bielorússia, Ucrânia e Rússia: o acidente de Chernobyl afectou a vida de milhões de pessoas
24/4/1996 - A catástrofe nuclear de Chernobyl, apesar de um balanço oficial de apenas algumas dezenas de mortos, alterou a vida de milhões de pessoas na Ucrânia, na Bielorússia e na Rússia. Mas o mais duro, do ponto de vista sanitário, está com certeza por vir.
A explosão do reactor 4 de Chernobyl, em 26 de Abril de 1986, a uma centena de quilómetros de Kiev, libertou radioactividade estimada em duzentas vezes a das explosões atómicas de Hiroxima e Nagasaqui.
A catástrofe teve um impacto considerável sobre o ambiente mas também graves consequências sobre a saúde das populações e sobre a economia, em particular a agricultura.
Quatro milhões de pessoas continuam a viver em zonas fortemente contaminadas, que representam cerca de 160.000 Km2, nos três países, mas 270 mil habitantes vivem ainda no sector de 10.00 Km2 onde continua a haver restrições para o consumo de alimentos.
As consequências humanas de Chernobyl foram terríveis e continuam a fazer-se sentir, em particular no plano psicológico.
Pensa-se que 9 milhões de pessoas foram afectadas pelo acidente (2,5 milhões na Bielorrússia, 3,5 milhões na Ucrânia e 3 milhões na Rússia) e 400 mil delas tiveram que abandonar as suas casas.
As evacuações fizeram-se muitas vezes de maneira precipitada: habitantes de zonas muito contaminadas foram, por vezes, reinstalados em outras regiões igualmente poluídas.
A amplitude das consequências sanitárias continua largamente desconhecida, como concluiu, no princípio de em Abril, em Viena, a conferência organizada pela Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). Os peritos reconhecerem que «não sabiam grande coisa».
Só o aumento do cancro da tiróide entre as crianças (800 casos revelados até hoje, dos quais 400 na Bielorússia) é atribuído ao acidente. Não foi «detectado estatisticamente», entre as pessoas mais afectadas, nenhum aumento de leucemia ou de outras formas de cancro.
Mas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os casos de leucemia duplicaram entre os 650.000 que participaram nas operações de limpeza e descontaminação em 1986-1987 Na Bielorússia, os casos triplicaram.
Responsável da associação «Salvar as crianças da Ucrânia da tragédia de Chernobyl», a médica ucraniana da tragédia de Chernobyl, Natália Preobrachenskaia, avança o número de 60.000 mortos entre os que procederam à «limpeza» da área, enquanto, oficialmente, os números se ficam pelos 45 mortos por irradiação em dez anos.
Levando certos cancros (excepto o da tiróide), vários decénios a revelar-se, os especialistas falam de milhares de outros cancros além do cancro da tiróide.
Apesar de um impacto considerável, a ignorância perdura também sobre as consequências precisas do acidente sobre o ambiente.
O ecossistema foi muito afectado na «zona de exclusão» de 30 quilómetros em volta da central, onde vivem, apesar de uma muito forte contaminação, 370 famílias, segundo as autoridades ucranianas.
As consequências da contaminação maciça das águas subterrâneas da zona de exclusão estão ainda por avaliar. Mas a contaminação da ribeira Prypiats, que alimenta a cidade de Kiev, diminuiu nitidamente os níveis de césio e, em menor medida, do estrôncio radiactivo, colocando-se o maior risco em períodos de seca.
A fauna e a flora foram também muito afectadas pela nuvem radioactiva. Florestas inteiras estão ainda contaminadas, ficando a madeira teoricamente inutilizável. Na Bielorússia, 20% da produção de madeira ultrapassa o nível aceitável.
Um grande número de alterações dos processos fisiológicos e biológicos, foram observados entre os animais. Profundas modificações patológicas, por vezes mortais, afectaram algumas espécies.
Quanto aos produtos agrícolas, a contaminação tem diminuído regularmente, graças a contramedidas eficazes mas que foram acompanhadas de uma baixa de rendimento e produção. Nas várias regiões da Bielorússia e da Ucrânia, o trigo e o leite continuam hoje contaminados para lá das normas admitidas, porque os agricultores não têm os meios de aplicar as contramedidas adequadas.
PERIGO LATENTE ATÉ AO ANO 2000
Mesmo depois da recente conferência em Moscovo, dos países mais industrializados, em que foram prometidas ajudas económicas para que a Ucrânia possa encerrar o reactor de Chernobyl, o perigo de um novo acidente semelhante ao de há dez anos, subsiste.
A central nuclear de Chernobyl é de «concepção antiquada e claramente pouco segura» segundo os peritos ocidentais, que não excluem a eventualidade de um Chernobyl-2, apesar dos melhoramentos introduzidos no reactor, após a catástrofe.
O presidente ucraniano prometeu, sábado passado, durante a cimeira de Moscovo, encerrar definitivamente este ano o primeiro reactor da central de Chernobyl, cujos tubos que contêm o combustível nuclear se encontram fatigados.
O perigo será reduzido para metade, mas ficará ainda outro reactor (N3) em funcionamento em Chernobyl, sem dúvida até ao ano 2000.
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OS LABORATÓRIOS DE ECOLOGIA HUMANA CHERNOBYL: BALANÇO DA CATÁSTROFE
DEZ ANOS DEPOIS
Por Yves Leers, enviado especial da France Press
Bielorússia, Ucrânia e Rússia: o acidente de Chernobyl afectou a vida de milhões de pessoas
24/4/1996 - A catástrofe nuclear de Chernobyl, apesar de um balanço oficial de apenas algumas dezenas de mortos, alterou a vida de milhões de pessoas na Ucrânia, na Bielorússia e na Rússia. Mas o mais duro, do ponto de vista sanitário, está com certeza por vir.
A explosão do reactor 4 de Chernobyl, em 26 de Abril de 1986, a uma centena de quilómetros de Kiev, libertou radioactividade estimada em duzentas vezes a das explosões atómicas de Hiroxima e Nagasaqui.
A catástrofe teve um impacto considerável sobre o ambiente mas também graves consequências sobre a saúde das populações e sobre a economia, em particular a agricultura.
Quatro milhões de pessoas continuam a viver em zonas fortemente contaminadas, que representam cerca de 160.000 Km2, nos três países, mas 270 mil habitantes vivem ainda no sector de 10.00 Km2 onde continua a haver restrições para o consumo de alimentos.
As consequências humanas de Chernobyl foram terríveis e continuam a fazer-se sentir, em particular no plano psicológico.
Pensa-se que 9 milhões de pessoas foram afectadas pelo acidente (2,5 milhões na Bielorrússia, 3,5 milhões na Ucrânia e 3 milhões na Rússia) e 400 mil delas tiveram que abandonar as suas casas.
As evacuações fizeram-se muitas vezes de maneira precipitada: habitantes de zonas muito contaminadas foram, por vezes, reinstalados em outras regiões igualmente poluídas.
A amplitude das consequências sanitárias continua largamente desconhecida, como concluiu, no princípio de em Abril, em Viena, a conferência organizada pela Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). Os peritos reconhecerem que «não sabiam grande coisa».
Só o aumento do cancro da tiróide entre as crianças (800 casos revelados até hoje, dos quais 400 na Bielorússia) é atribuído ao acidente. Não foi «detectado estatisticamente», entre as pessoas mais afectadas, nenhum aumento de leucemia ou de outras formas de cancro.
Mas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os casos de leucemia duplicaram entre os 650.000 que participaram nas operações de limpeza e descontaminação em 1986-1987 Na Bielorússia, os casos triplicaram.
Responsável da associação «Salvar as crianças da Ucrânia da tragédia de Chernobyl», a médica ucraniana da tragédia de Chernobyl, Natália Preobrachenskaia, avança o número de 60.000 mortos entre os que procederam à «limpeza» da área, enquanto, oficialmente, os números se ficam pelos 45 mortos por irradiação em dez anos.
Levando certos cancros (excepto o da tiróide), vários decénios a revelar-se, os especialistas falam de milhares de outros cancros além do cancro da tiróide.
Apesar de um impacto considerável, a ignorância perdura também sobre as consequências precisas do acidente sobre o ambiente.
O ecossistema foi muito afectado na «zona de exclusão» de 30 quilómetros em volta da central, onde vivem, apesar de uma muito forte contaminação, 370 famílias, segundo as autoridades ucranianas.
As consequências da contaminação maciça das águas subterrâneas da zona de exclusão estão ainda por avaliar. Mas a contaminação da ribeira Prypiats, que alimenta a cidade de Kiev, diminuiu nitidamente os níveis de césio e, em menor medida, do estrôncio radiactivo, colocando-se o maior risco em períodos de seca.
A fauna e a flora foram também muito afectadas pela nuvem radioactiva. Florestas inteiras estão ainda contaminadas, ficando a madeira teoricamente inutilizável. Na Bielorússia, 20% da produção de madeira ultrapassa o nível aceitável.
Um grande número de alterações dos processos fisiológicos e biológicos, foram observados entre os animais. Profundas modificações patológicas, por vezes mortais, afectaram algumas espécies.
Quanto aos produtos agrícolas, a contaminação tem diminuído regularmente, graças a contramedidas eficazes mas que foram acompanhadas de uma baixa de rendimento e produção. Nas várias regiões da Bielorússia e da Ucrânia, o trigo e o leite continuam hoje contaminados para lá das normas admitidas, porque os agricultores não têm os meios de aplicar as contramedidas adequadas.
PERIGO LATENTE ATÉ AO ANO 2000
Mesmo depois da recente conferência em Moscovo, dos países mais industrializados, em que foram prometidas ajudas económicas para que a Ucrânia possa encerrar o reactor de Chernobyl, o perigo de um novo acidente semelhante ao de há dez anos, subsiste.
A central nuclear de Chernobyl é de «concepção antiquada e claramente pouco segura» segundo os peritos ocidentais, que não excluem a eventualidade de um Chernobyl-2, apesar dos melhoramentos introduzidos no reactor, após a catástrofe.
O presidente ucraniano prometeu, sábado passado, durante a cimeira de Moscovo, encerrar definitivamente este ano o primeiro reactor da central de Chernobyl, cujos tubos que contêm o combustível nuclear se encontram fatigados.
O perigo será reduzido para metade, mas ficará ainda outro reactor (N3) em funcionamento em Chernobyl, sem dúvida até ao ano 2000.
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