DESTINOS 1992
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OS BURACOS ONDE EU ME QUIS METER (OBOEMQM)
Cabo, 27.7.1992
Se quisesse justificar, em poucas palavras, os milhares de páginas que escrevi, os inéditos que não consegui ou não quis publicar, o diário teimosamente tecido, linha a linha, ponto por ponto, etc., etc., se quisesse mostrar o lixo ou ouro que tudo isso é, diria que girou sempre tudo à volta da mesma obsessão, que foi também a da minha guerra perpétua: respeitar as pessoas enquanto pessoas, a criança, a mulher, o homem, o jovem, o velho, o ser humano enquanto ser humano, quer dizer, depositário do Espírito (santo) de Deus!
Foi isso - essa luta inglória e sem quartel - que me fez amargo, que me fez irritável, que me fez incómodo, que me fez indesejável, que me pôs em todas as listas negras de todos os partidos, de todas as igrejas, de todas as seitas, de todos os lobbies, que me tornou persona non grata em todos os gabinetes e redacções, que me condenou à mediocridade material, aos 100 contos de ordenado, à reforma de fome, etc., etc.
Ao reler textos meus publicados e que na altura me pareceram brandos, sem consequências, vejo como arranjei bem a caminha onde me deitar.
Vejo porque estou metido nas listas negras.
Vejo como o «fundamentalismo ecologista» foi o fanatismo que me perdeu e me impediu de fazer carreira.
Vejo como me enganei redondamente pensando que não havia censura e que estávamos em democracia. Não estamos em democracia e a Censura nunca foi tão subtil e drástica. Não eram só em Bruxelas que tomavam nota dos meus artigos. Aqui, pressurosos, nas várias centrais da Grande central, iam sendo registados os meus desmandos.
Vejo agora que devia ter dado mais atenção às merdas que escrevi. Um artigo aparentemente tão brando, como o que escrevi sobre o livro de Francesco Alberoni - «Génese» - acaba por ser, visto de agora, explosivo. Os buracos onde eu me quis meter, de facto, foram muitos. E este artigo inocente e inofensivo sobre Alberoni diz bem do estado de Sítio que tem vindo a tecer-se à minha volta, estado de Sítio que, de um modo geral, tem vindo a institucionalizar-se, como uma Teia inextrincável, na alegada democracia.
Esse artigo está cheio de flechas envenenadas que a Central não deixou de registar:
- Piadas aos meninos de «O Independente» (o intocável); referências à «barbárie do petróleo», à «barbárie da guerra cirúrgica», ao «fascismo tecnológico», ao «ecofascismo verde» ;
E ainda acho pouco?
***
OS BURACOS ONDE EU ME QUIS METER (OBOEMQM)
Cabo, 27.7.1992
Se quisesse justificar, em poucas palavras, os milhares de páginas que escrevi, os inéditos que não consegui ou não quis publicar, o diário teimosamente tecido, linha a linha, ponto por ponto, etc., etc., se quisesse mostrar o lixo ou ouro que tudo isso é, diria que girou sempre tudo à volta da mesma obsessão, que foi também a da minha guerra perpétua: respeitar as pessoas enquanto pessoas, a criança, a mulher, o homem, o jovem, o velho, o ser humano enquanto ser humano, quer dizer, depositário do Espírito (santo) de Deus!
Foi isso - essa luta inglória e sem quartel - que me fez amargo, que me fez irritável, que me fez incómodo, que me fez indesejável, que me pôs em todas as listas negras de todos os partidos, de todas as igrejas, de todas as seitas, de todos os lobbies, que me tornou persona non grata em todos os gabinetes e redacções, que me condenou à mediocridade material, aos 100 contos de ordenado, à reforma de fome, etc., etc.
Ao reler textos meus publicados e que na altura me pareceram brandos, sem consequências, vejo como arranjei bem a caminha onde me deitar.
Vejo porque estou metido nas listas negras.
Vejo como o «fundamentalismo ecologista» foi o fanatismo que me perdeu e me impediu de fazer carreira.
Vejo como me enganei redondamente pensando que não havia censura e que estávamos em democracia. Não estamos em democracia e a Censura nunca foi tão subtil e drástica. Não eram só em Bruxelas que tomavam nota dos meus artigos. Aqui, pressurosos, nas várias centrais da Grande central, iam sendo registados os meus desmandos.
Vejo agora que devia ter dado mais atenção às merdas que escrevi. Um artigo aparentemente tão brando, como o que escrevi sobre o livro de Francesco Alberoni - «Génese» - acaba por ser, visto de agora, explosivo. Os buracos onde eu me quis meter, de facto, foram muitos. E este artigo inocente e inofensivo sobre Alberoni diz bem do estado de Sítio que tem vindo a tecer-se à minha volta, estado de Sítio que, de um modo geral, tem vindo a institucionalizar-se, como uma Teia inextrincável, na alegada democracia.
Esse artigo está cheio de flechas envenenadas que a Central não deixou de registar:
- Piadas aos meninos de «O Independente» (o intocável); referências à «barbárie do petróleo», à «barbárie da guerra cirúrgica», ao «fascismo tecnológico», ao «ecofascismo verde» ;
E ainda acho pouco?
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