MEP 1974
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27-7-1974
MANIFESTO DO MOVIMENTO ECOLÓGICO PORTUGUÊS
Em reunião convocada através da Imprensa diária e que se realizou em 27 de Julho de 1974, na Cooperativa Unimave, Rua da Boa Vista, 55-2°. - Lisboa, foi discutido e aprovado o texto do Manifesto que a seguir reproduzimos e que foi posteriormente subscrito por várias pessoas interessadas.
1.1 - Num momento em que se fazem ouvir com insistência as críticas ao industrialismo e à ideologia da sociedade de consumo, e em que aumenta a angústia das novas gerações face a um mundo e a espaços sociais quase inabitáveis;
1.2 - Num momento em que aumenta a insatisfação e a revolta contra os sistemas alienantes e dominadores, nos quais se revela o carácter repressivo e asfixiante da maioria das instituições, que dizem existir para servir o homem, mas que apenas dele se servem, explorando-o ou manipulando-o;
1.3 - Num momento em que se assiste à proliferação incontrolável de poluentes e de resíduos industriais de todos os tipos, e em que, por outro lado, se verifica o fracasso das políticas reformistas do ambiente e das legislações contra a poluição e outros abusos intoleráveis contra os diversos sistemas de equilíbrio ecológico;
1.4 - Num momento em que se torna urgente informar a população de tais perigos e alertá-la contra as manobras de uma publicidade tendenciosa e sensacionalista votada à promoção de produtos supérfluos e atentatórios da integridade do meio ambiente e, portanto, do próprio ser humano;
1.5 - Num momento em que se torna imperioso contribuir para a formação de uma consciência ecológica capaz de mobilizar meios e pessoas e de intervir contra tais processos de exploração do homem e da natureza;
1.6 - Num momento em que a ecologia deixa de ser ciência elitista e académica para se converter na preocupação quotidiana de maiorias voltadas para uma acção sócio-politica militante à escala mundial,
é criado o Movimento Ecológico Português
Que pretende:
2.1 - Agrupar movimentos, indivíduos e grupos que tenham por finalidade a melhoria da qualidade da vida e que pretendam alertar e combater erros, abusos, crimes que a industrialização acelerada e indiscriminada e certas formas de vida social podam perpetrar sobre o ambiente humano e demais seres vivos;
2.2 - Abrir caminho às alternativas eco-tácticas e eco-estratégicas e fazer sair do anonimato aquela soma de informações que permitam ao cidadão e ao consumidor optar pelas soluções que mais lhe interessem ou pareçam justas no combate às tendências que pretendem impor, pela força do hábito e da argumentação tendenciosa, uma única opção à liberdade de escolha do indivíduo;
2.3 -Colocar no justo lugar a noção de apropriação da natureza pelo homem, evitando assim os perigos de uma. concepção há séculos difundida pelas ideologias dominantes - a qual incita o indivíduo a combater, a espoliar, a dominar o meio e os recursos naturais - , reafirmando a complementaridade do homem e do ambiente;
2.4 -Defender o progresso e, por isso, criticar as mitologias do "progresso" e do "bem-estar" material (que podem levar a comprometê-lo irremediavelmente), alertar a população para o sofisma da inevitabilidade de certas indústrias pesadas e fontes de energia hiperpoluentes, e denunciar a inviabilidade e o perigo das falsas soluções propostas pelo industrialismo e pelos ideólogos tecnocratas;
2.5 -Proclamar a necessidade de politização dos fenómenos sócio-económicos quotidianos e imediatos que até à data a ela têm escapado - saúde, salubridade, água pura, ar livre, silêncio, paisagem, espécies animais e vegetais, cidade, condições de trabalho, cultura, publicidade, sexualidade, procriação, suicídio - já que se revelam, mais do que nunca, fenómenos de índole política e portanto essenciais à reformulação de novas estruturas sociais;
2.6 -Denunciar:
2.6.1 - a comercialização e a propaganda abusivas do biológico, do natural, do saudável, do higiénico, do turismo, dos tempos livres, através das quais o sistema social visado procura resistir à sua própria decomposição interna;
2.6.2 - a escalada da produção indiscriminada de bens de consumo e de modelos de bem-estar material por meio da qual o homem da civilização tecnológica explora e transforma os recursos naturais dando origem a resíduos e desperdícios que envenenam todas as cadeias ecológicas e o meio social;
2.6.3 - a existência e o agravamento de um novo tipo de colonialismo à escala mundial, mascarado de auxílio, que tende a segregar a grande maioria da população em regiões do Terceiro Mundo, obtendo delas grandes produções e lucros, num ambiente permanentemente contaminado, por meio de transferência para essas zonas de indústrias altamente poluentes, que nos países colonizadores exigiriam grandes encargos salariais e a instalação de custosos dispositivos antipoluição
2.6.4 - a estrutura económica e política que impele a grande maioria da classe trabalhadora a viver e a produzir em áreas urbanas fortemente poluídas e insalubres, com o fim de obter mão-de-obra fácil e barata e, simultaneamente, reunir grandes possibilidades de consumo;
2.6.5 - as manobras reformistas e parcialistas - "leis antipoluição", "campanhas de protecção do ambiente e similares - que visam recuperar as críticas feitas ao industrialismo e à tecnocracia, as quais tentam ocultar ou dar como recuperáveis e benéficas as graves anomalias do sistema económico em questão e o despotismo da produtividade e, acima de tudo, desacreditar a contestação ecológica e as suas alternativas;
2.7 -Advertir que a noção de "mais tecnologia" deve ser substituída por "melhor tecnologia” e "mais lucro" por "qualidade de vida", denunciando desse modo a actual "barbárie tecnológica" que promete emancipar o homem quando, na realidade, mais o aliena e aniquila, contribuindo para a regressão das suas potencialidades como ser vivo e como ser social.
Lisboa, 27 de Julho de 1974
Reeditado em 22 de Fevereiro de 1975
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27-7-1974
MANIFESTO DO MOVIMENTO ECOLÓGICO PORTUGUÊS
Em reunião convocada através da Imprensa diária e que se realizou em 27 de Julho de 1974, na Cooperativa Unimave, Rua da Boa Vista, 55-2°. - Lisboa, foi discutido e aprovado o texto do Manifesto que a seguir reproduzimos e que foi posteriormente subscrito por várias pessoas interessadas.
1.1 - Num momento em que se fazem ouvir com insistência as críticas ao industrialismo e à ideologia da sociedade de consumo, e em que aumenta a angústia das novas gerações face a um mundo e a espaços sociais quase inabitáveis;
1.2 - Num momento em que aumenta a insatisfação e a revolta contra os sistemas alienantes e dominadores, nos quais se revela o carácter repressivo e asfixiante da maioria das instituições, que dizem existir para servir o homem, mas que apenas dele se servem, explorando-o ou manipulando-o;
1.3 - Num momento em que se assiste à proliferação incontrolável de poluentes e de resíduos industriais de todos os tipos, e em que, por outro lado, se verifica o fracasso das políticas reformistas do ambiente e das legislações contra a poluição e outros abusos intoleráveis contra os diversos sistemas de equilíbrio ecológico;
1.4 - Num momento em que se torna urgente informar a população de tais perigos e alertá-la contra as manobras de uma publicidade tendenciosa e sensacionalista votada à promoção de produtos supérfluos e atentatórios da integridade do meio ambiente e, portanto, do próprio ser humano;
1.5 - Num momento em que se torna imperioso contribuir para a formação de uma consciência ecológica capaz de mobilizar meios e pessoas e de intervir contra tais processos de exploração do homem e da natureza;
1.6 - Num momento em que a ecologia deixa de ser ciência elitista e académica para se converter na preocupação quotidiana de maiorias voltadas para uma acção sócio-politica militante à escala mundial,
é criado o Movimento Ecológico Português
Que pretende:
2.1 - Agrupar movimentos, indivíduos e grupos que tenham por finalidade a melhoria da qualidade da vida e que pretendam alertar e combater erros, abusos, crimes que a industrialização acelerada e indiscriminada e certas formas de vida social podam perpetrar sobre o ambiente humano e demais seres vivos;
2.2 - Abrir caminho às alternativas eco-tácticas e eco-estratégicas e fazer sair do anonimato aquela soma de informações que permitam ao cidadão e ao consumidor optar pelas soluções que mais lhe interessem ou pareçam justas no combate às tendências que pretendem impor, pela força do hábito e da argumentação tendenciosa, uma única opção à liberdade de escolha do indivíduo;
2.3 -Colocar no justo lugar a noção de apropriação da natureza pelo homem, evitando assim os perigos de uma. concepção há séculos difundida pelas ideologias dominantes - a qual incita o indivíduo a combater, a espoliar, a dominar o meio e os recursos naturais - , reafirmando a complementaridade do homem e do ambiente;
2.4 -Defender o progresso e, por isso, criticar as mitologias do "progresso" e do "bem-estar" material (que podem levar a comprometê-lo irremediavelmente), alertar a população para o sofisma da inevitabilidade de certas indústrias pesadas e fontes de energia hiperpoluentes, e denunciar a inviabilidade e o perigo das falsas soluções propostas pelo industrialismo e pelos ideólogos tecnocratas;
2.5 -Proclamar a necessidade de politização dos fenómenos sócio-económicos quotidianos e imediatos que até à data a ela têm escapado - saúde, salubridade, água pura, ar livre, silêncio, paisagem, espécies animais e vegetais, cidade, condições de trabalho, cultura, publicidade, sexualidade, procriação, suicídio - já que se revelam, mais do que nunca, fenómenos de índole política e portanto essenciais à reformulação de novas estruturas sociais;
2.6 -Denunciar:
2.6.1 - a comercialização e a propaganda abusivas do biológico, do natural, do saudável, do higiénico, do turismo, dos tempos livres, através das quais o sistema social visado procura resistir à sua própria decomposição interna;
2.6.2 - a escalada da produção indiscriminada de bens de consumo e de modelos de bem-estar material por meio da qual o homem da civilização tecnológica explora e transforma os recursos naturais dando origem a resíduos e desperdícios que envenenam todas as cadeias ecológicas e o meio social;
2.6.3 - a existência e o agravamento de um novo tipo de colonialismo à escala mundial, mascarado de auxílio, que tende a segregar a grande maioria da população em regiões do Terceiro Mundo, obtendo delas grandes produções e lucros, num ambiente permanentemente contaminado, por meio de transferência para essas zonas de indústrias altamente poluentes, que nos países colonizadores exigiriam grandes encargos salariais e a instalação de custosos dispositivos antipoluição
2.6.4 - a estrutura económica e política que impele a grande maioria da classe trabalhadora a viver e a produzir em áreas urbanas fortemente poluídas e insalubres, com o fim de obter mão-de-obra fácil e barata e, simultaneamente, reunir grandes possibilidades de consumo;
2.6.5 - as manobras reformistas e parcialistas - "leis antipoluição", "campanhas de protecção do ambiente e similares - que visam recuperar as críticas feitas ao industrialismo e à tecnocracia, as quais tentam ocultar ou dar como recuperáveis e benéficas as graves anomalias do sistema económico em questão e o despotismo da produtividade e, acima de tudo, desacreditar a contestação ecológica e as suas alternativas;
2.7 -Advertir que a noção de "mais tecnologia" deve ser substituída por "melhor tecnologia” e "mais lucro" por "qualidade de vida", denunciando desse modo a actual "barbárie tecnológica" que promete emancipar o homem quando, na realidade, mais o aliena e aniquila, contribuindo para a regressão das suas potencialidades como ser vivo e como ser social.
Lisboa, 27 de Julho de 1974
Reeditado em 22 de Fevereiro de 1975
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