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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2006-06-20

PRIORIDADES 1983

pintasilgo-3> - datas ac – notícias da frente – projectos ac – inédito ac de 1983

PRODUZIR INFORMAÇÃO PARA APROFUNDAMENTO DA DEMOCRACIA

PROPOSTA POSSÍVEL, ENTRE OUTRAS, QUE SIRVA PARA DEBATE E ARRANQUE DE UM PROJECTO INFORMATIVO NO ÂMBITO DO MAD (MOVIMENTO PARA O APROFUNDAMENTO DA DEMOCRACIA)

Reunião de 20/Junho/1983

I
Em contacto, por dever de oficio, com vários sectores e actividades da vida portuguesa, o jornalista é assediado com acusações de "silêncio" e "omissão" que de vários lados se fazem contra os órgãos de Comunicação Social
O arquitecto, por exemplo, culpa os "mass media" de nunca falarem de arquitectura, o investigador no laboratório acusa-nos de nunca nos preocuparmos com a actividade científica, os grupos de animação e intervenção cívica ou cultural queixam-se amargamente de que os jornais não noticiam antecipadamente ou a posteriori as suas actividades, o cidadão agredido na vida quotidiana protesta porque ninguém faz eco da sua voz.
Enfim, e descontando o vício, muito português, de inventar sempre um bode expiatório para as nossas faltas e fraquezas , é um facto, um dado objectivo que os jornais não cobrem com atenção a maior parte dos acontecimentos de ordem cultural, social, ecológica, enfim, alternativa.
Têm evidentemente os seus alibis de espaço e de tempo, têm inclusive o horrível nome de "mass media" que já diz muito das suas aberrações e natureza essencial, mas a razão profunda destes silêncios, omissões e desatenções é , evidentemente, alheia à própria Comunicação Social (C. S.).
No fundo, ela apenas espelha o País e talvez até nem seja da sua competência mudá-lo, equívoco frequente quando muitas vezes se exige da Informação que resolva até problemas de Governo.
Nada se ganha em recriminações recíprocas, vício a que o português se dedica também com particular afinco. E nada se adianta em pretender que a C.S. proceda de outra maneira, quando não é por vontade subjectiva de A, B ou C (jornalista, chefe, director) que isso sucede mas por razões estruturais da sociedade e do próprio sistema informativo tal como existe.

II

Como, pois, mudar esta situação de bloqueio , mais uma na sociedade portuguesa?
Dado como assente que a vontade subjectiva de um ou outro jornalista isolado, nada ou pouco pode contra o sistema informativo que vigora, apontam alguns como solução possível a chamada Informação Alternativa ou Paralela, de que os chamados "rádios livres" e pequenas publicações , mais ou menos artesanais, de índole diversa, são exemplo.
Existiria , assim, o sector alternativo da Informação, tal como, por exemplo, na Produção e no Consumo, as cooperativas representam a alternativa.

III

Trata-se então - no âmbito do aprofundamento da Democracia - de aprofundar, consolidar, incentivar, fomentar, melhorar tecnicamente esse sector alternativo da informação, sem desgastar grandes energias a criticar os "mass media" com maior raio de alcance. Estes são o que o próprio gigantismo fez deles.
Num aprofundamento da Democracia, tratar-se-ia, pois, de dar vida, fôlego, meios materiais e humanos, até um pouco de técnica e de modus faciendi, aos pequenos e médios produtores de informação.
O que parece prioritário, num aprofundamento da Democracia pelo aprofundamento do Intercâmbio Informativo, são os seguintes pontos:

PRIORIDADE 1 - Inventário vivo de publicações alternativas, seu encontro, diálogo, seminário de problemas, forum de tendências. Daí a proposta de um projecto concreto: Vamos a um Encontro de Imprensa Alternativa e Ecológica (Em anexo, texto indicativo)

PRIORIDADE 2 - Produzir, numa espécie de núcleo central, uma primeira sociedade de redactores que, atenta exactamente aos problemas de que o sistema informativo está desatento, lhes dê cobertura jornalística e noticiosa, isto com dois destinos concretos a saber:
a) Os jornais de circulação regional e mesmo nacional que se encontram ainda e apesar de tudo abertos a essa informação, desde que ela lhes seja entregue e já feita;
b) Um órgão (de informação) próprio que dê publicação a essa produção informativa.
Desta prioridade número 2, resulta a proposta de um outro projecto: porque não, já, uma sociedade de redactores voltada para o aprofundamento da Democracia e que desde já se expressa através de uma espécie de mini-agência de informação enviada para órgãos já existentes?
Nesta prioridade 2 lembra-se a existência de um Instituto de Imprensa Democrática, da Fundação Antero de Quental, que funciona há dois anos espalhando pela imprensa regional informação que serve os respectivos objectivos.
Ainda nesta Prioridade 2 inscreve-se a proposta apresentada (ver em anexo) da Cooperativa dita Intercomunicador, que parece um titulo óptimo para uma sociedade de redactores ou mini-agência de informação alternativa.

PRIORIDADE 3 - Dado assente que a equipa de redacção entra em funcionamento produzindo informação para aprofundamento da Democracia, as prioridades temáticas serão determinadas segundo critérios habituais da actualidade seguidos nas redacções, acrescentando-se.
- as grandes áreas-problema apresentadas e aprovadas no âmbito do MAD
- máxima atenção aos problemas e sectores normalmente mais silenciados (listagem de silêncios da vida e da informação portuguesa)
- máxima atenção (e aproveitamento) da correspondência chegada ao M.A.D., pois algumas dessas cartas, além dos assuntos meramente pessoais, trazem sugestões de notícia e reportagem
- máxima atenção às actividades de movimentos sociais alternativos - cuja listagem se anexa - normalmente silenciados e segregados nos "massa media"
- máxima atenção às alternativas de vida para os anos 80, sobrepondo ao negativismo crítico teimosamente fixado no carpir dos sintomas, as propostas alternativas e criadoras para salvaguarda dos ecossistemas e da sobrevivência humana
- máxima atenção aos roteiros úteis aos portugueses, cabendo aqui a proposta de um Manual Prático de Auto-Organização dos Cidadãos
- máxima atenção aos sectores sócio-profissionais que apresentam incidência numérica mais relevante nos ficheiros do M.A.D.(em anexo e a-propósito, Parâmetros de fundo para orientação de um jornal "Ecologia em Movimento", que pode servir de exemplo para ilustrar este ponto)
- máxima atenção a sectores e actividades mais menosprezados da sociedade portuguesa (as vozes sem voz)(em anexo e como dado exemplificativo, uma proposta que, redigida para o encontro de Maio não chegou a ter oportunidade de apresentação - Para uma Campanha Nacional Contra o Desperdício de Valores e Recursos Humanos)
- mais atenção às alternativas práticas para sair da crise do que à ruminação dos sintomas negativos dessa crise , fugindo assim à tentação de um certo sado-masoquismo colectivo, típico vicio nacional neste País. entre assas alternativas de fundo, aparece como protagonista a sigla T.A., que tanto pode significar Tecnologias Apropriadas como Tecnologias Alternativas;
chegou a haver, no âmbito da plataforma Inter-Grupos, uma proposta para desenvolvimento das T.A.'s, da qual se junta o texto em anexo

PRIORIDADE 4 - Além da Imprensa regional e nacional, além dos pequenos órgãos artesanais (ou fanzines), além dos órgãos existentes aos quais a mini-agência pode fornecer informação para o aprofundamento da Democracia, propõe-se uma Rede de Amplificadores dessa informação, que engloba professores, dirigentes associativos, comissões de moradores, agremiações , etc

IV

A que necessidades objectivas tem o projecto informativo do MAD que dar resposta?
Indicam-se algumas:
- Divulgar (intercambiar) cartas recebidas dos mais diversos pontos do País, não só pelos apelos e informações que contêm , mas pelo que significam de pontos sensíveis do tecido social português prontos a receber e a emitir mensagens país fora;
- Dar resposta às consultas de carácter mais técnico e documental que surgem de correspondentes, como por exemplo professores e alunos às aranhas para resolver problemas de estudo que surgem inopinadamente nos programas escolares como , nos últimos anos, aconteceu aos problemas de Ecologia e Ambiente
- Dar pistas de informação às pessoas que pedem sobre algumas técnicas práticas que são fundamentais à sobrevivência e à resistência local. “como formar uma associação", " como conseguir subsídios", " como organizar e manter uma acção independente de animação local", "como fundar uma comunidade de vida alternativa e mantê-la", etc.
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