ALVIELA 1977
1-2-77-04-25-ie-bd> scan - domingo, 17 de Novembro de 2002 – era arrojo falar em 1977 de «alternativa iniciática»: por isso este texto deverá ter ficado inédito ou, talvez, publicado no jornal «Frente Ecológica, em data a localizar
ENTRE A ECOPOLÍTICA E A ECOANARKIA:UMA ALTERNATIVA INICIÁTICA?
I
25-Abril-1977 - Sendo a política uma das sucursais do Inferno na Terra, eis que paradoxalmente (ou não) o seu pretendido antónimo, a anarkia, se pode revelar dialecticamente a outra face do mesmo Inferno.
Não será pelos opostos que nos livramos dos termos negativos. Ensina o tantrismo que os opostos terão de ser, pela alquimia iniciática, transmutados, "digeridos" ...
Se é verdade que a EcoPolítica, na sua esfera própria de reformismo remendão, tapa aqui um buraco enquanto trinta outros buracos se destapam mais ali, se é verdade que as contradições da prática ecopolítica e partidária são o que mais toca um observador objectivo da realidade apocalíptica dum Mundo em putrefacção acelerada, eis que a estratégia eco-pacifista, ecoconvivencialista, dita não-violenta, comunitária e autogestionária não parece adiantar grande coisa na ultrapassagem das maiores contradições da sociedade ou inferno industrial nem obstruir os crimes de ecocídio em acelerada e logarítmica progressão.
Haverá sempre um minuto de verdade em que a estratégia ecopolítica tomará consciência do seu malogro, da roda em que está engrenada, da pedra de Sísifo que transporta.
Se a sociedade industrial e tecnoburocrática é a sociedade da violência institucionalizada - a violência da Poluição é das menos insidiosas, visto que se torna frequentemente sensível ao cheiro, ao gosto, ao tacto ou a qualquer dos 5 sentidos comuns -, se a violência existe, mais implícita até do que explícita, potencialmente explosiva na alienação quotidiana das ferozes sociedades tecnoburocratizadas ou tecnofascizantes, que função poderá ter, face à violência (principalmente a violência implícita) uma estratégia dita de não-violência?
Não podemos viver eternamente na ilusão. E os que preconizam a não-violência das ecotácticas a curto prazo ou a não violência de uma ecoestratégia a média e longo prazo, muito menos devem querer viver em clima de fantasias e de mitos.
II
Em Portugal, a ecoestratégia tentada por alguns grupos de informação e de acção, aparece hoje, três anos após o 25 de Abril, como uma teia de perigosas fantasmagorias.
O grupo de acção que mais longe levou a luta directa contra os agentes de uma poluição tóxica e corrosiva como é a dos curtumes - 117 fábricas - sobre toda a bacia do Rio Alviela, o grupo de acção que, por isso, nos pode servir de modelo e que, centralizado na aldeia de Pernes, organizado como Comissão de Luta Anti-Poluição do Alviela no ano de 1976 viria a legalizar-se, em Associação Popular Ecológica em 1977, experimentou na prática (única maneira de tirar a limpo as filosofias, ideologias e teorias) todas as contradições que confluem numa preten-sa estratégia ecopolítica "de luta contra qualquer poluição ".
As contradições inerentes a uma prática reformista que pretende obviar aos malefícios de estrutura (a tecnoestrutura industrial) agindo sobre a conjuntura e mantendo essa estrutura intocável e inalterável, começam para a CLAPA a ficar claras, à medida que cresce a confusão dos legistas para resolver, em ter-mos legalistas, este caso peculiar do crime de Ecocídio...
Tentando a CLAPA apoiar-se na estrutura jurídica que alguns artigos da Constituição parecem consagrar - o n° 66 é dos mais floridos e prometedores - projecta a CLAPA instaurar uni processo de indemnizações aos responsáveis da poluição, convencida de que o famoso princípio da O.C.D.E. ("Poluidor, pagador") alguma vez teve aplicação à realidade e alguma vez foi outra coisa do que poeira nos olhos das vítimas da poluição.
Os membros do Secretariado da CLAPA são os primeiros a aperceber-se de que não era fácil definir o alvo responsável (tudo é fluido quando a responsabilidade emana de tudo! da estrutura ambiental e não de nenhuma conjuntura) e mais convencidos ficaram quando os próprios técnicos em Direito e jurisprudência confessaram a mesma dificuldade, senão impossibilidade, de "fazer pagar aos responsáveis a indemnização pelos incalculáveis prejuízos causados, durante mais de 15 anos, a toda uma região e a toda uma população quer humana, quer animal e vegetal"
Disse "incalculáveis": até por isso, a dificuldade se agrava, pois efectivamente não são calculáveis os prejuízos sobre a vida, a saúde, a segurança, o silêncio, a sobrevivência (enfim a famigerada "qualidade de vida"), sobre a pureza do ar e da água, o viço das culturas agrícolas, hortícolas e pomares, as indústrias artesanais tradicionais como a moagem e o torneado de madeiras, a riqueza piscícola, o aproveitamento turístico e lúdico de um rio naturalmente vivo, etc..
III
Não é avaliável nem contabilizável a "qualidade de vida" e a O.C.D.E., mais do que ninguém, sabia-o bem quando instituiu, para inglês ver e português pagar, o princípio célebre do "poluidor, pagador".
Raramente se pode saber ao certo quem polui. Saber o que representa a poluição em prejuízos qualitativos sobre a vida é impraticável a priori pela própria natureza e pressupostos mecanistas, de um sistema que tudo desqualifica na proporção em que tudo procura quantificar.
Esta a contradição violenta de uma sociedade violenta na estrutura e não apenas nas suas manifestações ocasionais, conjunturais.
Trata-se de saber se existe um plano da realidade e da experiência humana onde se ultrapasse esse labirinto de contradições e essa violência intrínseca sem recurso a nova violência.
Se esse plano superalternativo existe, ele só pode ser o plano iniciático, nem político nem anarko (anti) político.
Resta que qualquer luta ou grupo de acção sinceros queiram reconhecê-lo.
***
ENTRE A ECOPOLÍTICA E A ECOANARKIA:UMA ALTERNATIVA INICIÁTICA?
I
25-Abril-1977 - Sendo a política uma das sucursais do Inferno na Terra, eis que paradoxalmente (ou não) o seu pretendido antónimo, a anarkia, se pode revelar dialecticamente a outra face do mesmo Inferno.
Não será pelos opostos que nos livramos dos termos negativos. Ensina o tantrismo que os opostos terão de ser, pela alquimia iniciática, transmutados, "digeridos" ...
Se é verdade que a EcoPolítica, na sua esfera própria de reformismo remendão, tapa aqui um buraco enquanto trinta outros buracos se destapam mais ali, se é verdade que as contradições da prática ecopolítica e partidária são o que mais toca um observador objectivo da realidade apocalíptica dum Mundo em putrefacção acelerada, eis que a estratégia eco-pacifista, ecoconvivencialista, dita não-violenta, comunitária e autogestionária não parece adiantar grande coisa na ultrapassagem das maiores contradições da sociedade ou inferno industrial nem obstruir os crimes de ecocídio em acelerada e logarítmica progressão.
Haverá sempre um minuto de verdade em que a estratégia ecopolítica tomará consciência do seu malogro, da roda em que está engrenada, da pedra de Sísifo que transporta.
Se a sociedade industrial e tecnoburocrática é a sociedade da violência institucionalizada - a violência da Poluição é das menos insidiosas, visto que se torna frequentemente sensível ao cheiro, ao gosto, ao tacto ou a qualquer dos 5 sentidos comuns -, se a violência existe, mais implícita até do que explícita, potencialmente explosiva na alienação quotidiana das ferozes sociedades tecnoburocratizadas ou tecnofascizantes, que função poderá ter, face à violência (principalmente a violência implícita) uma estratégia dita de não-violência?
Não podemos viver eternamente na ilusão. E os que preconizam a não-violência das ecotácticas a curto prazo ou a não violência de uma ecoestratégia a média e longo prazo, muito menos devem querer viver em clima de fantasias e de mitos.
II
Em Portugal, a ecoestratégia tentada por alguns grupos de informação e de acção, aparece hoje, três anos após o 25 de Abril, como uma teia de perigosas fantasmagorias.
O grupo de acção que mais longe levou a luta directa contra os agentes de uma poluição tóxica e corrosiva como é a dos curtumes - 117 fábricas - sobre toda a bacia do Rio Alviela, o grupo de acção que, por isso, nos pode servir de modelo e que, centralizado na aldeia de Pernes, organizado como Comissão de Luta Anti-Poluição do Alviela no ano de 1976 viria a legalizar-se, em Associação Popular Ecológica em 1977, experimentou na prática (única maneira de tirar a limpo as filosofias, ideologias e teorias) todas as contradições que confluem numa preten-sa estratégia ecopolítica "de luta contra qualquer poluição ".
As contradições inerentes a uma prática reformista que pretende obviar aos malefícios de estrutura (a tecnoestrutura industrial) agindo sobre a conjuntura e mantendo essa estrutura intocável e inalterável, começam para a CLAPA a ficar claras, à medida que cresce a confusão dos legistas para resolver, em ter-mos legalistas, este caso peculiar do crime de Ecocídio...
Tentando a CLAPA apoiar-se na estrutura jurídica que alguns artigos da Constituição parecem consagrar - o n° 66 é dos mais floridos e prometedores - projecta a CLAPA instaurar uni processo de indemnizações aos responsáveis da poluição, convencida de que o famoso princípio da O.C.D.E. ("Poluidor, pagador") alguma vez teve aplicação à realidade e alguma vez foi outra coisa do que poeira nos olhos das vítimas da poluição.
Os membros do Secretariado da CLAPA são os primeiros a aperceber-se de que não era fácil definir o alvo responsável (tudo é fluido quando a responsabilidade emana de tudo! da estrutura ambiental e não de nenhuma conjuntura) e mais convencidos ficaram quando os próprios técnicos em Direito e jurisprudência confessaram a mesma dificuldade, senão impossibilidade, de "fazer pagar aos responsáveis a indemnização pelos incalculáveis prejuízos causados, durante mais de 15 anos, a toda uma região e a toda uma população quer humana, quer animal e vegetal"
Disse "incalculáveis": até por isso, a dificuldade se agrava, pois efectivamente não são calculáveis os prejuízos sobre a vida, a saúde, a segurança, o silêncio, a sobrevivência (enfim a famigerada "qualidade de vida"), sobre a pureza do ar e da água, o viço das culturas agrícolas, hortícolas e pomares, as indústrias artesanais tradicionais como a moagem e o torneado de madeiras, a riqueza piscícola, o aproveitamento turístico e lúdico de um rio naturalmente vivo, etc..
III
Não é avaliável nem contabilizável a "qualidade de vida" e a O.C.D.E., mais do que ninguém, sabia-o bem quando instituiu, para inglês ver e português pagar, o princípio célebre do "poluidor, pagador".
Raramente se pode saber ao certo quem polui. Saber o que representa a poluição em prejuízos qualitativos sobre a vida é impraticável a priori pela própria natureza e pressupostos mecanistas, de um sistema que tudo desqualifica na proporção em que tudo procura quantificar.
Esta a contradição violenta de uma sociedade violenta na estrutura e não apenas nas suas manifestações ocasionais, conjunturais.
Trata-se de saber se existe um plano da realidade e da experiência humana onde se ultrapasse esse labirinto de contradições e essa violência intrínseca sem recurso a nova violência.
Se esse plano superalternativo existe, ele só pode ser o plano iniciático, nem político nem anarko (anti) político.
Resta que qualquer luta ou grupo de acção sinceros queiram reconhecê-lo.
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