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2006-01-20

CPT 1980

80-01-19> recursos-3> os dossiês do silêncio

OS BENEFÍCIOS DO TABACO(*)

(*) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 19/1/1980

19/1/1980 – Depois de uma campanha antitabágica com vista a promover, indirectamente, outros fumos que, não sendo cancerígenos, podem no entanto conduzir em linha recta ao consumo generalizado de drogas mais pesadas -, eis que a campanha informativa para a plantação do tabaco em solos pobres de Portugal se vê a braços com uma dificuldade: justificar porque vai o País e seus economistas promover o cancro através da plantação industrial do tabaco.
Foi lindo de ver, portanto, na imprensa, as lamúrias sobre as qualidades cancerígenas do querido tabaquinho, mas ao mesmo tempo (blá, blá, blá, blá), a necessidade económica de poupar esse balúrdio de divisas. Ao mesmo tempo, vinha a tal poupança dos 60 milhões de contos, caso os prospectores descobrissem petróleo nas furnas do nosso subsolo. Ah! gente catita, sempre com o nariz no fundo, ao cheiro da rica bagunça!

Um dos ingredientes para convencer os portugueses da virtude (não só cancerígena mas económica) do tabaco, consiste em se dizer, no Instituto Superior de Agronomia, para dar o crédito científico, que se vai pôr a planta em solos pobres. E enumeram-se, para o público que não percebe nada de solos, nem ricos nem pobres: terra de charneca e dos arneiros, na zona de Coruche, Sorraia, Grândola, Alcácer do Sal e campina de Idanha. Tudo zonas conhecidas pela sua intertilidade e avareza. Não foi mal escolhida esta dos solos pobres, para lavar os pobres cérebros da gente.
As U. C. P. de Montargil anunciam rica safra de tabaco, a coisa no colectivismo vai de vento em popa, mas logo no semanário «Dez de Junho», que não me parece morrer pelas ideias agro-colectivistas, vejo o mesmíssimo entusiasmo foto-reportagem sobre a economia do tabaco, futuro e glória da dita plantinha.
Entretanto e no verso da página onde a imprensa anuncia os benefícios do tabaco, vem um senhor doutor (da Universidade de Virgínia, de preferência) alarmar a malta porque, já se sabe, cuidado, meus meninos, o tabaco (bem como a hóstia e a ecologia) provoca o cancro.

VIVA O TABACO

A Unidade Colectiva de Produção '12 de Maio', próximo de Montargil, no Alto Alentejo, está a dedicar-se, desde o ano passado, à cultura do tabaco.
Tendo em vista o alargamento desta cultura, que a direcção da U. C. P. - segundo um dos seus elementos declarou à Anop - considera até agora positiva e promissora, foram há pouco tempo concluídos seis secadores para tabaco e um armazém de grandes dimensões para a sua recolha.
O custo destes melhoramentos agora concluídos atingiu vários milhares de contos.(Jornal Novo, 11-9-1979).

ABAIXO O TABACO

'O Tabaco ou a Saúde' é o tema proposto à reflexão dos homens pela Organização Mundial de Saúde (O. M. S.) para o dia 7 de Abril de 1980.
Nesse sentido e secundando um pedido do director da mesma organização mundial de caridade, foi criada, em Portugal, uma comissão nacional para estudar a melhor forma de dar corpo a um plano nacional de luta contra o tabaco.
O presidente da referida comissão e director do Gabinete de Estudos e Planeamento da Secretaria de Estado da Saúde, prof. Cayolla da Mota, expôs as linhas gerais do programa que se pretende realizar.
O problema do tabagismo está a revestir aspectos preocupantes, pois, como afirmou o prof. Cayolla da Mota, julga-se que seja esta a principal causa da incidência dos cancros do pulmão. Segundo dados fornecidos pelo prof. Cayoila da Mota, no ano de 1960 consumiram-se, em Portugal, 7104 toneladas de tabaco e, em 1975, 12 482. (Dos jornais. 22.11.1979).

CANCRO E TABACO: AUMENTO DA PRODUÇÃO

Apesar de todos os esforços até agora feitos para reduzir o consumo do tabaco, de 1970 a 1976 a produção mundial do tabaco aumentou 20 por cento.
«Em alguns países, a produção e venda do tabaco é um monopólio do Estado, que retira daí chorudos lucros mas. segundo os técnicos da saúde, esses lucros são apenas aparentes.
«Se o Estado contabilizar todo o dinheiro que gasta no tratamento de doenças provocadas pelo tabaco, bem como os prejuízos causados à economia pelo absentismo dos trabalhadores afectados, o balanço será altamente negativo.
«As estatísticas da O. M. S. mostram que 90 por cento das mortes devidas a cancro do pulmão, 25 por cento dos óbitos por deficiência cardiovascular e 75 por cento das mortes atribuídas à bronquite crónica, estão directamente ligadas ao consumo de tabaco. Isso significa sem exagero que pelo menos um milhão de pessoas morre em cada ano, por causa do fumo. »
(Mensagem da caridosa O. M. S., veiculada pela Anop, em 29 de Novembro de 1979).

OS BENEFÍCIOS DO TABACO E OS MALEFÍCIOS DA MEDICINA

A Organização Mundial de Saúde insiste em avisar a humanidade contra os perigos do tabaco. Desdobra-se em revistas, folhetos, autocolantes, cartazes, em todos os idiomas do mundo, incluindo o tabaquês.
Nunca ninguém a ouviu avisar a humanidade sobre os efeitos iatrogénicos dos medicamentos, mormente cortisona, pílula cor-de-rosa, antibióticos, soro e tantos outros que, como se sabe (sem precisar de ir a Genebra), provocam doenças piores do que aquelas que dizem curar.
A Organização Mundial de Saúde já deixou de fingir e melhor se chamaria delegação em Genebra das multinacionais dos medicamentos.
As impressionantes estatísticas da O. M. S. sobre as doenças, tal como as da FAO. sobre os esfomeados que ela, FAO., maternalmente alimenta, têm valor igual à sua coerência.
Pelo que o melhor é irmos fumando o nosso tabaquinho, uma das poucas maneiras da gente se distrair destes doutores com ar muito clínico a dizer que nos tratam da saúde e que nos protegem contra os malefícios do fumo.
Prefiro esses malefícios todos aos de Genebra e nem só.

TABACAR OU NÃO TABACAR:HAMLÉTICO DILEMA DA VIDA PORTUGUESA

A contradição ainda não tem vacina nem está catalogada entre as doenças mais graves de que sofre a classe científica e dirigente, mas não deve ser esquecida num balanço79 das lusas moléstias.
Entre as contradições que fizeram mais faísca, a do tabaco deixou o macaco a .. fumar de espanto. A deitar fumo...
Por um lado, no copioso noticiário da imprensa,«tabaco ser pior que Khomeiny».
Por outro lado e acompanhado de fotos, vamos ser auto-suficientes nesta fábricazinha caseira de cancros (segundo os peritos da O. M. S.) e estamos por toda a parte suficientemente avisados pela Comissão Nacional do Ambiente para não fumar nos recintos desportivos fechados.
Eu, fumador inveterado leitor de jornais, fico pior que o Hamlet suspenso deste dilema, sem saber se hei-de debulhar a tia, se hei-de malhar no pai.
Fumar ou não fumar, tabacar ou não tabacar, quem ajuda os portugueses a escolher?
Por um lado, é o fim da macacada como agente cancerígeno, logo a seguir à hóstia; por outro, o tabaco é a nossa safa para o Mercado Comum, se nos quisermos apresentar com alguma «ingrícola» de talha industrial que se veja.
O plano do Mercado Comum é importarmos totalmente trigo e milho, e totalmente produzirmos tabaco e talvez beterraba para açucarar o chá dos europeus que se viciaram nisso por causa da senhora Thatcher.
Ponderemos, pois, neste balanço entre ser e não ser, entre cancro e tabaco.

AMARGA EUROPA QUER O NOSSO AÇÚCAR

Outra contradição ainda sem vacina e que ameaça tornar-se crónica, é a da beterraba sacarina para fins industriais de açúcar, porque a Europa, quanto mais amarga mais doce quer.
Quando as doenças comprovadamente criadas por este desmineralizador ou descalcificador número 1 são já objecto de simpósios e relatórios da maternal O. M. S., se peritos já dizem hoje o que os ecologistas dizem há pelo menos uma década, se o açúcar não mata só ratos, porquê - oh! Hamlet- se vai destinar à indústria açucareira a beterraba que, enquanto legume, daria para alimentar muitas bocas esfomeadas deste País?
Sendo alimento, iria ajudar a diminuir as doenças claramente provocadas também por essa causa número 1: a miséria, a fome.
Quem os entende? E quem entende os noticiaristas que se limitam a estampar, na mesma página, dois termos flagrantemente contraditórios sem pestanejar?
Será a lógica uma beterraba ou o que andou Mao a pregar, afinal, sobre as virtudes revolucionárias da contradição, se não aprendemos nada com ela e fingimos até não a ver?
Porque se destina a beterraba, alimento directo de primeira qualidade, para alimentar a indústria desalimentar e patogénica que é a do açúcar?
Eu sei que há os alcoóis a mexer nisto e que Portugal já não tem a teta do açúcar colonial.
Mas o álcool será alimento ou a segunda causa de mortalidade em Portugal?
Que perito ou simpósio responde a este novo dilema?
Ou será que, no fundo, convém mesmo que a doença aumente em ritmo vertical, o alcoolismo e nem só, o tabagismo e nem só?
Será que a doença é mesmo lucrativa?
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(*) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 19/1/1980
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