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*DEEP ECOLOGY - NOTE-BOOK OF HOPE - HIGH TIME *ECOLOGIA EM DIÁLOGO - DOSSIÊS DO SILÊNCIO - ALTERNATIVAS DE VIDA - ECOLOGIA HUMANA - ECO-ENERGIAS - NOTÍCIAS DA FRENTE ECOLÓGICA - DOCUMENTOS DO MEP

2005-11-15

DOCUMENTOS FE - 1983

documentos FE–1-3 páginas

O Poder à Pessoa Humana,A Pessoa Humana ao Poder

Reflexões não alinhadas para um realismo ecológico

18/11/1983

Quando o imperialismo cultural é cada vez mais veículo do imperialismo ideológico e este a ponta de lança do imperialismo económico,
Quando, sob a capa do internacionalismo tecnológico, o que se pretende é apagar dos povos a sua consciência de independência nacional,
Quando a tecnologia e a ciência, em vez da universalidade e do humanismo, o que impõe aos povos é um modelo standart de consumo pelo consumo, de desperdício pelo desperdício, de lixo pelo lixo,
Quando a sociedade unidimensional e burocrática é o modelo que se pretende impor para substituir a personalidade de cada povo e a rica morfologia sócio-geográfica das culturas originais e tradicionais,
Quando todo um aparelho repressivo de tirania e dominação cultural é comandado internamente por obedientes sucursais, por grupos elitistas, por minorias supostamente representativas da literatura, da arte, da ciência ou da "intelligentzia" em geral,
Quando a tecnologia artesanal se apresenta, regra geral, como lição ecológica a integrar num modelo de sabedoria económica de reaproveitamento e reciclagem,
Quando as novas tecnologias leves preconizadas pelos movimentos de emancipação ecológica têm tudo a aprender com as artes e técnicas populares, durante séculos aperfeiçoadas a afeiçoadas à dimensão humana,
Quando às energias hiperpoluentes, às tecnologias pesadas, à industrialização maciça, acelerada e concentracionária se procura responder com alternativas energéticas, tecnológicas e industriais que sirvam a dimensão social do trabalhador em vez de o alienar e colonizar ainda mais

O ecologista proclama a sua absoluta solidariedade com o criador da cultura - o povo;
reafirma que não há revolução cultural sem uma reaprendizagem das raízes e fontes originais da língua, da indústria, das tecnologias, das artes, das lendas, o das ciências populares;
sublinha não só a urgente necessidade de conhecer e reconhecer essa realidade imensa que nos precede e antecedo, não só a urgente necessidade de recolher o que resta da tradição popular mas a luta contra todas as formas de recuperação que a ordem tecnofascista faz e pretende continuar a fazer do património popular tradicional;
denuncia o comércio que tem sido feito, em mercados ditos do povo, com o trabalho dos artistas populares, que só são chamados a colaborar quando o turista, conspícuo e cúpido, espreita a peça artesanal com os seus dólares e a leva, por bom preço, para renegociar no seu país.
Perante a invasão do plástico, do produto "standart" e o objecto esteriotipado, perante a manufactura industrial, a uniformização e a despersonalização do trabalho, o Ecologista rejeita as acusações de reaccionário, retrógrado, saudosista ou passadista com que se pretende demover uma acção prospectiva desenvolvida a favor do passado vivo, da tradição viva, da cultura viva original que é fundamento, alento, reconforto e garante da própria revolução cultural e da própria independência nacional,

Lembra-se,a propósito, de que maneira a história e a tradição do Vietname contribui na resistência contra o imperialismo sangrento, para manter viva a coesão popular, a consciência nacional, a chama, a luta, a fé na vitória e na independência
Ao mesmo tempo que rejeita a acusação de reaccionário, retrógrado, retorno às cavernas e à Idade Média, o Ecologista denuncia a barbárie tecnocrática, o regresso efectivamente acelerado à mais sombria nova Idade Média, a violência e a crueldade da sociedade unidimensional do industrialismo e do superdesenvolvimento, ideologia com a qual se pretende arrancar as raízes profundas da realidade e da resistência popular a todos os imperialismos que disputam a hegemonia sobre os povos;

O Ecologista reafirma a possibilidade - através de uma brecha aberta na sociedade unidimensional, através da sociedade paralela e das alternativas ecológicas - de uma dialéctica entre cultura popular e cultura erudita;
O Ecologista reafirma a possibilidade de aplicar utensílios, técnicas, artes, objectos e fainas de criação popular em termos de emancipação económica do trabalhador, contestando o fatalismo que pretende identificar técnicas artesanais de trabalho com trabalho penoso e com exploração económica do trabalhador,
Nem sempre e nem só - reafirma o Ecologista - o trabalho penoso é o trabalho artesanal.
Aliciado com outras facilidades, com vida mais civilizada, com emprego mais certo, com conforto e consumos mais modernos, o trabalhador rural é aliciado para centros industriais, onde acaba por ser usado em trabalho igualmente penoso, com a agravante de ser um trabalho automatizado, despersonalizado, solitário, alienante, desenraizado de um contexto ou habitat social compensatório e até mais salubre.
Quanto aos "postos de trabalho" criados pela indústria - reafirma o Ecologista - "postos de trabalho" que a desordem capitalista nunca garantiu e jamais garantirá, a condição sine qua non do pleno emprego não é a industrialização mas uma planificação socio-eco1ógica da economia, que não se limite a multiplicar indústrias e a encaixar nelas a mão de obra que vai tirar à agricultura, mas a praticar uma estratégia de qualidade de vida, na manutenção e cuidado da qual se criam efectivamente novos e múltiplos empregos.
Atendendo à crise do capitalismo industrial, à recessão, ao desemprego e à inflação, não é o reforço de uma sociedade industrial em crise que irá garantir empregos e ocupar gente mas uma sociedade paralela que crie e multiplique novas necessidades na qualidade de vida e na luta contra a mecanização
A sociedade paralela proposta pelo ecologista é hoje a forma mais garantida de ocupar gente e multiplicar empregos Trata-se de repovoar o campo e tornar menos penoso o trabalho rural, em vez de continuar insistindo no afluxo aos centros industriais onde o desemprego cresce e o trabalho, afinal, nunca deixou de ser penoso e alienante,
Acima de tudo, o Ecologista desafia os técnicos da administração e da Economia, a aplicar o engenho técnico na descoberta de soluções para a síntese entre sabedoria ou cultura popular e as aquisições, porventura de alguma utilidade, trazidas pela tecnologia moderna.
Mas essa dialéctica pressupõe. que se destrua o poder tecnocrático, que é a ditadura monopolista da técnica moderna sobre todas as alternativas passadas, presentes e futuras que a esse monopólio se abrem
Não é uma sociedade ideal, asseptizada feliz, estável a sem contradições o que o Ecologista preconiza, ao preconizar uma sociedade paralela ;mas que nenhuma política (económica, agrícola, escolar, de saúde, energética, alimentar, de consumos,, etc, ) se pratique sem atender às necessidades ecológicas de base, aos princípios ecológicos que tudo condicionam
Não esquecer as últimas e decisivas forças das quais depende a sobrevivência humana - as forças e leis da Natureza - e não menosprezar uma sabedoria que ao longo dos séculos mais vivo contacto manteve com essas forças e leis - a cultura original dos povos - é o que o Ecologista preconiza quando empreende a defesa da cultura popular , aquela realidade que mais perto se encontra das raízes, das fontes e da força dessas forças.
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