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2006-07-23

FRENTE 1975

1-2 - 75-07-23-ie-hfe75

DO AMBIENTE QUE SE VIVIA EM 1975

23/JULHO/1975

Texto significativo do ambiente que se vivia em 1975  é a proposta apresentada por «trabalhadores da cultura» ao encontro de 23 de Julho de 1975, realizado na Associação Portuguesa de Escritores.
Muito ao estilo da época , a «moção apresentada pela «Frente Ecológica» ao referido encontro na Associação Portuguesa de Escritores, propunha-se tomar algumas decisões com base em alguns considerandos.
Descontando o anacronismo do estilo, bastante datado, extrai-se deste documento uma ideia de «frente comum de todos os movimentos sociais», ideia que ainda não deixou de ser actual, antes pelo contrário.
Eis o texto, discutido e já não se sabe se aprovado, na referida reunião de «trabalhadores da cultura», em 23 de Julho de 1975:

«Trabalhadores da cultura, reunidos na Associação Portuguesa de Escritores, em 23 de Julho de 1975, verificam com a maior apreensão que:
- O desemprego tende a agravar-se, tanto nos sectores intelectuais como nos sectores de trabalho manual;
- Criadas, com a libertação do 25 de Abril, as condições objectivas para a Revolução Cultural, condições que mais se alargaram e consolidaram após o 28 de Setembro e após o 11 de Março, o subaproveitamento do trabalho em geral e do trabalho criador em particular, continua;
- Os critérios para apreciação e selecção de valores continuam a ser os que vigoravam antes do 25 de Abril, sem nada se ter alterado nos processos de acesso e promoção às múltiplas actividades que uma Revolução, em princípio, deveria exigir de todos os portugueses não reaccionários e não contra-revolucionários;
- Enquanto se continuam a dar oportunidades a reaccionários e contra-revolucionários, essas oportunidades são negadas aos que maiores garantias dão de estarem interessados no processo revolucionário, independentemente de partidos e, regra geral, sem filiação partidária;
- Serviços, partidos, estruturas, autarquias, departamentos e poderes entravam, por todos os meios, iniciativas, acções e comportamentos que visam dinamizar o processo revolucionário e colocar-se ao lado das ordens emanadas dos mais altos escalões da Revolução;
- O clubismo partidário, tanto como o oportunismo, o carreirismo, a burocracia, o legalismo fascista ou pseudo-democrático, a corrupção remanescente, etc., continuam a ser culpados de paralisação , atrofias, desaproveitamentos, subempregos e desempregos no sector do trabalho cultural tanto como no sector braçal;

Perante estes e outros factos, que os trabalhadores (reunidos no dia 23 de Julho) consideram profundamente graves face à nova ordem revolucionária que os deveria julgar e condenar sem apelo - embora nada disso aconteça ou dê mostras de vir a acontecer - decidem:
- Pôr de parte todos os separatismos partidários ou de grupo, de forma a empreender uma estratégia comum de defesa e ataque às estruturas reaccionárias e contra-revolucionárias;
- Constituir a Frente Literária da descolonização Cultural;
- Realizar, durante o mês de Agosto, em localidade próxima de Lisboa e durante um fim de semana, com sessões intensivas de manhã, à tarde e à noite, um Encontro, que constitua o ponto de partida para uma auto-organização literária dos trabalhadores da cultura subaproveitados ou desempregados;
- Considerar inadmissível e a priori contra-revolucionária, neste momento da vida do País, a situação de inaproveitamento e desemprego vivida por um grande número de trabalhadores condenados, antes e depois do 25 de Abril, à passividade, à mediocridade, ao abandono pelos donos e mandarins da cultura burguesa estabelecida;
- Denunciar, com nomes, datas e documentos confirmativos, situações, serviços, partidos e todos quantos entravam o processo revolucionário, entendendo que a Revolução Cultural consiste exactamente na instauração dessa dialéctica crítica ao processo revolucionário e seus sabotadores;
- Dar conhecimento frequente de todas as diligências feitas no sentido dessa Revolução Cultural, aos órgãos soberanos da revolução que nos merecem confiança e nos quais depositam toda a sua boa fé revolucionária;
- Organizar grupos de trabalho com projectos concretos de acção revolucionária (dinamização cultural junto das populações, acção cultural das comissões de moradores e de trabalhadores, comunas agrobiológicas, cooperativas de edição e distribuição, organização de manuais práticos para uso das populações, jornal de vigilância crítica e Revolução Cultural, etc) , projectos a enviar, no mais curto espaço de tempo, aos órgãos supremos da revolução que lhes poderão dar apoio e incentivo material;
- Fazer da Frente Literária uma Frente Comum com a Frente ecológica, a Frente Feminista e outras organizações unitárias - a partidárias - interessadas na descolonização cultural do povo português como sinónimo de Revolução Cultural deste País;
- Utilizar desde já os tempos de antena postos à disposição da frente Ecológica para dar conhecimento ao País deste e de outros comunicados, de forma a mobilizar para a revolução Cultural o maior número de adeptos;
- Entregar este comunicado na redacção dos jornais, esperando que o imobilismo e a passividade não se tornem, uma vez mais, cúmplices de um comportamento contra-revolucionário por parte dos órgãos de informação nem sempre atentos ao que deviam estar.
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