PROSPECTIVA 1970
70-04-29-di> quarta-feira, 11 de Dezembro de 2002-scan
EVOLUÇÃO E MUTAÇÃO DO CRITÉRIO CRÍTICO (*)
29/Abril/1970 - A experiência é conhecida e alguns a terão descrito já.
Quando um dia contactamos uma obra, um autor e sentimos que, a partir dele, tudo ou quase tudo se modificou na nossa óptica, na nossa estrutura mental, na nossa sensibilidade, no nosso critério, na nossa mentalidade ou maneira de ver as coisas ou mundividências, dá-se o que alguns podem considerar súbita iluminação e outros conversão (quase) mística. Trata-se, pelo menos, de uma mutação.
Por essa experiência se explica que o nosso gosto evolua: o que ontem nos parecia bom, hoje aparece-nos medíocre. Ou o que ontem dificilmente aceitávamos, hoje banalizou-se. Passa-se com a arte - em especial com a música -, passa-se com a poesia e a literatura, com as ideias, com as modas e com tudo o que depende mais da intuição ou da imaginação do que do raciocínio e da razão. O nosso gosto evolui mais do que a nossa inteligência. Informações esquecem-se, mas experiências marcam-nos, vão-nos marcando e fazendo com que a nossa personalidade de hoje já não seja a mesma de amanhã.
Este gosto, desejo e necessidade de mudar, de evoluir, de melhorar ou modernizar a nossa óptica (a nossa sensibilidade), sentimos que é um facto sempre que se nos revela um novo autor ou uma nova obra de quem afirmamos: "Depois dele, o dilúvio." Ao pé dele, muita coisa empalidece e envelhece.
É isso o que um contacto de dias com os textos e autores da Prospectiva nos dá: a sensação de que muita coisa ficou, irremediavelmente, ultrapassada e morta. De que outro agora é o nosso ponto de arranque e o nosso critério de ajuizar sobre um filme, um livro, um quadro, e muito diferente a terminologia que passamos a aceitar.
Prospectiva é, no fundo, o que sempre acontece quando nos acontece mudar , sofrer a experiência de uma nova fase da existência.
Prospectiva é o que acelera e torna possíveis as mutações do nosso espírito, o princípio geral que não deixa envelhecer o espírito e morrer intelectualmente,
No fundo, Prospectiva é o que procuramos quando procuramos em que consiste a Modernidade, o Progresso, a Civilização, a Revolução, o Avanço, o Movimento, a Humanização do Homem. A Liberdade.
Descontentes com as filosofias de ontem, que tão rapidamente passam a filosofias de ante-ontem, atravessamos as de hoje - dadaísmo, surrealismo, existencialismo, personalismo, estruturalismo, marxismo, realismo fantástico - e essas outras sempre acabam por não ser suficientes, ou por envelhecerem também.
Aos que procuram respostas nos sistemas filosóficos, nas escolas e correntes estéticas, a Prospectiva propõe a ultrapassagem contínua, porque a filosofia de amanhã será, com certeza, todas essas mas não será nenhuma delas. Porque o tempo - movimento e mudança - é o princípio que torna o presente já passado e o futuro a única coisa sempre presente.
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(*) Este texto de Afonso Cautela deverá ter permanecido inédito, pois mais também não merecia. Estes anos 69,70 e 71, a contas com uma coisa inexistente – a Prospectiva -, foram de grande confusão na minha cabeça! O princípio da relatividade de tudo andava por perto...
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EVOLUÇÃO E MUTAÇÃO DO CRITÉRIO CRÍTICO (*)
29/Abril/1970 - A experiência é conhecida e alguns a terão descrito já.
Quando um dia contactamos uma obra, um autor e sentimos que, a partir dele, tudo ou quase tudo se modificou na nossa óptica, na nossa estrutura mental, na nossa sensibilidade, no nosso critério, na nossa mentalidade ou maneira de ver as coisas ou mundividências, dá-se o que alguns podem considerar súbita iluminação e outros conversão (quase) mística. Trata-se, pelo menos, de uma mutação.
Por essa experiência se explica que o nosso gosto evolua: o que ontem nos parecia bom, hoje aparece-nos medíocre. Ou o que ontem dificilmente aceitávamos, hoje banalizou-se. Passa-se com a arte - em especial com a música -, passa-se com a poesia e a literatura, com as ideias, com as modas e com tudo o que depende mais da intuição ou da imaginação do que do raciocínio e da razão. O nosso gosto evolui mais do que a nossa inteligência. Informações esquecem-se, mas experiências marcam-nos, vão-nos marcando e fazendo com que a nossa personalidade de hoje já não seja a mesma de amanhã.
Este gosto, desejo e necessidade de mudar, de evoluir, de melhorar ou modernizar a nossa óptica (a nossa sensibilidade), sentimos que é um facto sempre que se nos revela um novo autor ou uma nova obra de quem afirmamos: "Depois dele, o dilúvio." Ao pé dele, muita coisa empalidece e envelhece.
É isso o que um contacto de dias com os textos e autores da Prospectiva nos dá: a sensação de que muita coisa ficou, irremediavelmente, ultrapassada e morta. De que outro agora é o nosso ponto de arranque e o nosso critério de ajuizar sobre um filme, um livro, um quadro, e muito diferente a terminologia que passamos a aceitar.
Prospectiva é, no fundo, o que sempre acontece quando nos acontece mudar , sofrer a experiência de uma nova fase da existência.
Prospectiva é o que acelera e torna possíveis as mutações do nosso espírito, o princípio geral que não deixa envelhecer o espírito e morrer intelectualmente,
No fundo, Prospectiva é o que procuramos quando procuramos em que consiste a Modernidade, o Progresso, a Civilização, a Revolução, o Avanço, o Movimento, a Humanização do Homem. A Liberdade.
Descontentes com as filosofias de ontem, que tão rapidamente passam a filosofias de ante-ontem, atravessamos as de hoje - dadaísmo, surrealismo, existencialismo, personalismo, estruturalismo, marxismo, realismo fantástico - e essas outras sempre acabam por não ser suficientes, ou por envelhecerem também.
Aos que procuram respostas nos sistemas filosóficos, nas escolas e correntes estéticas, a Prospectiva propõe a ultrapassagem contínua, porque a filosofia de amanhã será, com certeza, todas essas mas não será nenhuma delas. Porque o tempo - movimento e mudança - é o princípio que torna o presente já passado e o futuro a única coisa sempre presente.
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(*) Este texto de Afonso Cautela deverá ter permanecido inédito, pois mais também não merecia. Estes anos 69,70 e 71, a contas com uma coisa inexistente – a Prospectiva -, foram de grande confusão na minha cabeça! O princípio da relatividade de tudo andava por perto...
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